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Adiamento das presidenciais divide Libéria

AFP | mjp
5 de novembro de 2017

Supremo Tribunal deverá anunciar na segunda-feira se a segunda volta terá lugar a 7 de novembro, tal como previsto, na sequência de denúncias de fraude eleitoral. Preparativos para o escrutínio foram suspensos.

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Liberia Monrovia Wahlen
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo

O adiamento da eleição do novo Presidente da Libéria, entre denúncias de fraude eleitoral, está a aprofundar as divergências entre os candidatos e a chefe de Estado cessante, Ellen Johnson Sirleaf, enquanto os eleitores aguardam com ansiedade o desfecho do impasse.

O Supremo Tribunal decide esta segunda-feira (06.11) o destino da segunda volta das eleições, marcada para 7 de novembro, e poderá agendar uma nova data ou prolongar indefinidamente o adiamento, até à resolução da contestação legal apresentada pelo Partido da Liberdade, na oposição. Para já, a Comissão Nacional de Eleições suspendeu os preparativos para o pleito.

A segunda volta, que será disputada pelo antigo futebolista internacional George Weah, da Coligação para a Mudança Democrática, e o vice-Presidente cessante Joseph Boakai, do Partido da Unidade, no poder, está, assim, mergulhada na incerteza.

Opiniões divergem    

Libera, Charles Brumskine
Charles Brumskine, candidato do Partido da LiberdadeFoto: picture-alliance/dpa/A.Jallanzo

Charles Brumskine, do Partido da Liberdade, ficou em terceiro lugar na primeira volta das presidenciais, a 10 de outubro, e não tardou a denunciar fraude e irregularidades. Pouco tempo depois, recebeu o apoio de Joseph Boakai. George Weah, por sua vez, distanciou-se destas denúncias.

"O país está mais dividido que nunca”, diz Rodney Sieh, editor do jornal FrontPage Africa, à agência de notícias France Presse. "Os apoiantes de Weah pensam que Brumskine e outros estão a arrastar o processo, enquanto outros consideram que a lei deve seguir o seu rumo”, acrescenta.

A Comissão Nacional de Eleições já deixou claro que não deverá ser possível realizar a segunda volta das eleições na data prevista. Por ordem do Supremo Tribunal, o envio de boletins de voto para as províncias e a formação do pessoal das mesas de voto foram suspensos.

Esta não é a primeira vez que o país assiste a uma disputa eleitoral: os resultados das presidenciais em 2005 e 2011 foram contestados pela Coligação para a Mudança Democrática, que acabou por assumir a derrota depois do processo de contestação.

Desta vez, no entanto, a Coligação acusou Joseph Boakai de "tentar roubar as eleições do povo da Libéria depois de 40 anos no poder”, num comunicado enviado à imprensa a 31 de outubro, depois de o vice-Presidente ter anunciado o apoio a Brumskine.

Sirleaf na "berlinda”

Liberia Ellen Johnson-Sirleaf zweite Amtszeit in Morovia
Joseph Boakai e Ellen Johnson Sirleaf na tomada de posse da Presidente em 2012, em MonróviaFoto: Reuters

Ao mesmo tempo, Boakai e Brumskine acusam a Presidente cessante, Ellen Johnson Sirleaf, de "interferir” nas eleições, depois de se ter reunido com funcionários eleitorais na sua residência nas vésperas das eleições. Os representantes de Sirleaf afirmam que as conversações estiveram em linha "com o papel constitucional” da chefe de Estado.

Para os críticos,o verdadeiro motivo por detrás do apoio de Boakai às alegações de fraude ficou claro na versão inicial de um discurso proferido a 23 de outubro a que a AFP teve acesso.

O vice-Presidente preparava-se para assumir em público uma queixa dos seus apoiantes: o facto de Sirleaf ter apoiado Weah e não a pessoa que esteve ao seu lado no Governo nos últimos 12 anos.

"Figuras próximas [de Ellen Johnson Sirleaf] e sob as suas instruções estão, na verdade, a expressar o seu apoio de várias formas ao nosso principal opositor na corrida presidencial, a Coligação para a Mudança Democrática”, diz o rascunho do discurso visto pela AFP antes da alteração para uma versão mais diplomática.

Mas esta não é a única diverência entre Brumskine e Sirleaf. O vice-Presidente cessante apelou à demissão da Comissão Eleitoral mesmo depois de a Presidente ter dado o seu total apoio ao órgão. Esta semana, o número dois acusou a chefe de Estado de envolvimento no início da guerra civil de 1989-2003, que fez mais de 250 mil vítimas mortais.

O ministro da Informação, Eugene Nagbe, classifica as alegações de Brumskine como "tiradas de um mau perdedor egoísta, cego de arrogância e ego, mesmo depois de 12 anos de rejeição dos eleitores”, referindo-se ao facto de o candidato do Partido da Liberdade ter sido derrotado em três eleições presidenciais sucessivas.

Comunidade internacional atenta

Liberia Wahlen 2016 Anhänger DCC Partei
Apoiantes da antiga estrela do futebol internacional Goerge WeahFoto: picture-alliance/dpa/A. Jallanzo

Desde a eleição de Sirleaf, em 2005, os doadores internacionais já investiram milhares de milhões de dólares no país e esperam poder finalizar a primeira transição democrática do país em 70 anos.

Fontes diplomáticas e políticas ouvidas pela AFP afirmam que o líder da União Africana e Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, e o Presidente togolês e líder da CEDEAO, Faure Gnassingbé, aumentaram a pressão sobre as partes envolvidas, numa visita ao país na passada quarta-feira, apelando a uma solução rápida para o problema.

Aos eleitores da Libéria, por sua vez, resta esperar para que possam escolher o seu novo Presidente, enquanto observam o agravamento das tensões entre os partidos.

”Não queremos violência. Qualquer que seja a decisão do tribunal, essa é a decisão do país, não a podemos contrariar”, disse T. Klon Maxwell, um segurança em Monróvia ouvido pela AFP.