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Alemanha devolve à Namíbia crânios de povo chacinado

29 de setembro de 2011

Os crânios foram apropriados pelos pesquisadores berlinenses após o massacre dos herero e nama no que era então uma colónia alemã. Mas este capítulo da história do colonialismo alemão ainda está longe de ser encerrado.

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Os crânios dos namibianos chacinados foram objecto de estudo na AlemanhaFoto: DW-TV

Foi apenas em 2004, que um representante do governo alemão, a ministra do Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul, apresentou desculpas na Namíbia pela chacina do povo dos herero e nama um século antes. 70 000 pessoas morreram na repressão da revolta contra o poder colonial alemão. Muitos dos seus crânios foram depois enviados para Berlim para fins de pesquisa científica. Alguns acabam agora de ser devolvidos à Namíbia.

Entre 1904 e 1908, e debaixo também de pressão da Alemanha, a administração colonial reagiu à rebelião com uma ordem para matar. No início do século XX, Berlim era um importante centro internacional de pesquisa antropológica. Os restos mortais do povo massacrado foram enviados para a capital, para permitir a examinação da musculatura facial e as diferenças entre as raças.

Críticos insistem que se tratou de genocídio

O principal recetor deste material humano foi a clínica universitária Charité, que agora se confronta publicamente com aspetos menos recomendáveis do seu passado, diz o diretor do museu da História da Medicina, Thomas Schnalke: "A pesquisa abusou das circunstâncias políticas, acarretando culpas. A Charité quis pedir desculpa aos povos na Namíbia, e, ao mesmo tempo, devolver as caveiras que pudemos identificar".

Uma delegação de 73 namibianos, incluindo altos representantes das associações das vítimas, deslocou-se a Berlim no final de setembro para receber os despojos. Mas o evento tem um potencial político explosivo. Nos últimos tempos, o Ministério federal dos Negócios Estrangeiros, realçou que o governo alemão já repetidas vezes assumiu a sua responsabilidade moral e histórica pelo massacre na Namíbia. Para os críticos a admissão é insuficiente. Representantes de várias organizações não-governamentais e o Partido da Esquerda no parlamento federal, exigem de Berlim que reconheça que o massacre de dezenas de milhares de herero e nama corresponde a um genocídio.

Associações de vítimas sentem-se excluídas

Utjiua Muinjangue, a presidente da associação de vítimas herero, reivindica também uma mudança de atitude dos governos alemão e namibiano: "Queremos sentar-nos à mesa das negociações. Não pode haver mais discussões sobre nós sem nós” diz, acrescentando: “As transferências financeiras entre os dois governos são prestações intraestatais. Não as consideramos reparações. O governo alemão nunca nos contactou para saber o que sentimos e para nos podermos expressar".

Henrik Witboi
Henrik Witboi, um dos comandantes da revolta dos herero, que terminou com o extermínio planeado de dezenas de milhares de membros da sua etniaFoto: www.traditionsverband.de

Mas é pouco provável que algo mude neste contexto. Entretanto, o tema permanece atual, porque pelos cálculos da Charité ainda há cerca de 7000 caveiras em coleções alemãs. A A forma com que se lidará com os despojos tem que ser exemplar, diz Thomas Schnalke "Queremos tentar dar uma orientação sobre a maneira de proceder a restituições. O nosso trabalho neste contexto é pioneiro. E pode bem acontecer que outras instituições no futuro recebam pedidos idênticos de devolução".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros confirma que a Charité deverá coordenar as linhas de orientação nestas questões. E que a devolução agora levada a cabo foi organizada em estreita colaboração entre a Alemanha, a Namíbia e a Charité.

Autor: Kai-Alexander Scholz

Edição: Cristina Krippahl / António Rocha