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RDC vive situação "sem precedentes"

14 de novembro de 2017

Há mais de 38 mil pessoas infetadas com cólera na República Democrática do Congo (RDC), uma doença que já dizimou cerca de 700. Para a organização Médicos Sem Fronteiras, o país vive uma situação "sem precedentes".

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Foto: Lena Mucha

Biragi Bugeme carrega o filho de cinco anos às costas. Ambos estão no limite das suas capacidades. A pequena criança está infetada com cólera e por isso sente-se fraca e exausta. Biragi carregou-a ao longo de 25 quilómetros para a clínica improvisada da organização Médicos Sem Fronteiras, perto de Bukavu, no leste do Congo.

 "Na nossa aldeia, não há água potável e por isso bebemos água de uma lagoa. Mesmo que a água esteja contaminada, não temos alternativa. Muitas pessoas acabam doentes e morrem porque não têm dinheiro para pagarem o autocarro para aqui à clínica”, lamenta.

Kongo Vertriebene in Flüchtlingslagern
Voluntários da Organização Médicos Sem Fronteiras observam adultos e crianças num campo de acolhimentoFoto: Lena Mucha

A pobreza é apenas uma das causas da epidemia de cólera na República Democrática do Congo. A outra são as alterações climáticas. Os surtos de cólera não são incomuns no Congo, mas desta vez é diferente: a seca longa acabou com a água dos poucos furos que restavam. Por isso, as pessoas começaram a beber água de forma indiscriminada, muitas vezes optando por fontes inseguras onde pessoas doentes já se abasteceram: tornou-se um círculo vicioso, descrevem funcionários da Médicos Sem Fronteiras.

Em algumas regiões do país, o medo desta praga é acompanhado pela guerra, especialmente na província de Kasai. Ali, os rebeldes lutam contra o exército congolês há mais de um ano. O conflito já fez milhares de mortos e obrigou ao deslocamento de mais de um milhão de pessoas.

Escapar à morte            

15.11.2017 - RDC - Lang - MP3-Mono

O olhar de Ntumba Kasomba é vazio e triste: é o olhar de quem perdeu o pouco que tinha. Está alojada num centro de acolhimento para refugiados, em Tshikapa, onde o seu braço direito está a ser examinado por paramédicos. "Estava em casa com as crianças quando os atacantes chegaram. Incendiaram a nossa cabana e, quando tentámos escapar, mataram o meu marido e filhos e atingiram-me com um machete”, recorda.

Dos seus seis filhos, apenas um sobreviveu. Os paramédicos dizem-lhe que para se salvar, o seu braço terá de ser amputado. E se ela sobreviver, a fome é a ameaça que se segue.

Há três milhões de pessoas a precisar de ajuda alimentar nas províncias do Kasai e quase todos os segundos filhos com menos de cinco anos estão cronicamente desnutridos.

"Até agora, recebemos apenas 1% do dinheiro prometido. Temos centenas de milhares de crianças em risco de fome. Esperamos que os países doadores cumpram a sua promessa. Caso contrário, esta situação tornar-se-á um caos que terá custos muito maiores”, alerta David Beasley, diretor do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.

Na RDC, a ONU acionou o alerta 3, o mais alto e apenas usado nos conflitos na Síria, no Iraque e no Iémen. A esperança da organização é obter mais dinheiro para lidar com a crise no país.

Governo tem interesse em manter instabilidade

Joseph Kabila Präsident der Demokratischen Republik Kongo
Joseph Kabila, Presidente da República Democrática do Congo desde 2001Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

O problema da RDC é crónico e passa pelo Governo que tem pouco interesse na estabilidade do país. "O Governo não tem um grande plano, funciona de um dia para o outro… Afinal outro mês no poder é um bom mês e uma oportunidade para roubar mais dinheiro e para saquear o país ainda mais. Não há estratégia, as coisas vão acontecendo de dia para dia e é assim que se vê qual é o melhor estratagema diário” explica Richard Moncrieff, da ONG International Crisis Group.

O mandato do Presidente Joseph Kabila expirou no final de 2016 e ainda não há data para as próximas eleições, nem mesmo no final do próximo ano.

Apesar da intensa contestação social que se vive no país, sobretudo nos centros urbanos como Kinshasa, Kabila justifica o adiamento contínuo do sufrágio com a insegurança do país, que é alimentada pelo Chefe de Estado e Governo.

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