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Ataques nas estradas moçambicanas describilizam a RENAMO

António Cascais9 de março de 2016

Os ataques armados nas estradas de Moçambique estão a contribuir para uma perda considerável de credibilidade da RENAMO. Mas o partido no poder, a FRELIMO, e o governo, também são responsabilizados pela falta de diálogo.

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Estrada Nacional 1 ao pé da Gorongosa, a via onde houve o maior número de ataques da RENAMOFoto: E. Valoi

O jornalista Luis Filipe Nhachote, jornalista e participante na iniciativa Africaleaks pelo jornal @Verdade, afirma em entrevista à DW África que os moçambicanos estão fartos de discursos de violência, sobretudo dos dirigentes da RENAMO.

O maior partido da oposição em Moçambique corre assim o risco de perder a confiança dos cidadãos, sobretudo no seio da classe média, nas maiores cidades do país, afirma Nhachote para acrescentar que “é um retrocesso de mais de 20 anos, na história de belicismo que aconteceu neste país. A RENAMO pouco a pouco está perdendo a sua credibilidade. Sempre que há crises eles acham que a única maneira de negociar é pela força das armas."

Opinião ligeiramente diferente é a do jornalista investigativo Lázaro Mabunda, que tem vindo a observar o recrudescimento das relações entre os dois maiores partidos em Moçambique.

Segundo Mabunda, a razão da violência é a falta de capacidade de diálogo, da parte do Governo. Por isso, “o maior partido de oposição tem reagido com um discurso mais violento. Isso contribui, sim, para que o partido seja criticado, nas áreas urbanas, mas, por outro lado, também existem muitos moçambicanos que concordam com a postura "belicista" da RENAMO”, sublinha Lázaro Mabunda.

RENAMO perde credibilidade?

Segundo ele a RENAMO “está, por um lado, a perder credibilidade por parte dos moçambicanos, mas também posso dizer que está a ganhar alguma credibilidade. Temos moçambicanos favoráveis à RENAMO, sobretudo na zona centro. São pessoas que apoiam a RENAMO. As nossas instituições apenas servem um grupo da elite politica moçambicana. Há um grupo muito forte que é favorável aos ataques."

Lázaro Mabunda, investigativer Journalist aus Mosambik
Lázaro Mabunda, jornalista investigativoFoto: DW/A. Cascais

Recorde-se, que a RENAMO disse esta terça-feira (08.03.) desconhecer a autoria dos sucessivos ataques armados nas estradas do centro de Moçambique.

O porta-voz da RENAMO, António Muchanga, afirmou, em conferência de imprensa, que esses ataques não são ordenados pelo presidente da RENAMO. Muchanga preferiu denunciar o assassínio e prisões arbitrárias de membros do seu partido por parte das forças governamentais.

"Os dois lados praticam jogo sujo"

O jornalista Luís Filipe Nhachote afirma que - neste conflito - ambas as partes praticam um jogo sujo. As acusações do Governo fazem sentido, mas as da oposição também. No meio disto tudo, quem fica a perder é o povo moçambicano, destaca Luis Filipe Nhachote.

Afonso Dhlakama Filipe Nyusi Bildkombo Montage
Falta de diálogo entre o Governo e a RENAMO provoca aumento da violência em MoçambiqueFoto: picture-alliance/dpa/Pedro Sa Da Bendeira/Getty ImagesGianluigi Guercia/Montage

"Dum lado e do outro estão a acontecer sequestros de membros de ambos os partidos. Eu creio que há uma dose de verdade nas acusações que faz o porta-voz da RENAMO. Ainda ontem (07.03.) um membro da RENAMO apareceu morto em circunstâncias estranhas."

E o jornalista investigativo Lázaro Mabunda vai no mesmo sentido ao afirmar que “os dois partidos estão neste momento a usar a mesma estratégia: assassinatos”.

Instabilidade deteriora-se

A instabilidade em Moçambique tem vindo a deteriorar-se, com acusações mútuas de ataques armados, raptos e assassínios de dirigentes políticos, além de milhares de pessoas da província de Tete terem fugido para o vizinho Malawi.

Nas últimas semanas, foram registados ataques a colunas de veículos civis escoltadas pelos militares atribuídos à RENAMO, em dois troços da EN1, a principal estrada de Moçambique, na província de Sofala, mas há relatos de incidentes noutros pontos do país. A circulação de autocarros e transportes de mercadorias também já sofre cortes, inclusivé no norte do país.

Lázaro Mabunda insiste que quem sofre com a falta de diálogo é o povo moçambicano. Estão em jogo muitos negócios, a economia já está a ressentir-se."A não circulação de viaturas vai criar situações muito complicadas. Grande parte do transporte de carga é feito via terrestre. Ora a violência está a acabar com muitos negócios. E isso é muito lamentável”, afirma Mabunda.

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Luis Filipe Nhachote Africaleaks
Luís Filipe Nhachote, jornalista e participante na iniciativa AfricaleaksFoto: Luis Nhachote

A luta pelo poder de dois partidos incapazes para o diálogo está - pois - a prejudicar as vidas de muitos moçambicanos.

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