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Aumenta número de crianças de rua em Nampula

Nelson Carvalho (Nampula)10 de março de 2014

Faltam estratégias claras para resolver o problema, que afeta sobretudo as cidades de Nampula, Nacala Porto, Angoche e Ilha de Moçambique. Violência doméstica, pobreza e orfandade serão as principais causas.

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Foto: DW

Nampula tem vindo a registar nos últimos meses um número invulgar de crianças de rua, que vivem ao relento, sem condições de higiene e sem terem o que comer. A situação pode estar ligada a questões de pobreza, violência doméstica, orfandade e falta de apoio, entre outros aspectos ainda por investigar.

Ahade Daúde, do Departamento de Apoio às Crianças Vulneráveis e Carenciadas na Direcção Provincial da Mulher e Acção Social de Nampula, diz desconhecer o número exacto de crianças de rua, mas avança que no ano passado foram registados 13 casos de meninas nesta situação, o que é considerado um caso raro.

Segundo Ahade Daúde, nalguns casos as crianças são marginalizadas pelos respectivos familiares, devido a fatores que se prendem com falta de alimentação e com violência física e psicológica. “Por vezes as crianças vivem num ambiente em que os donos da casa não têm uma relação de parentesco com elas”, explica. Outra vezes as crianças são fruto de outras relações e são tratadas de forma diferente das outras crianças que vivem na mesma casa e, por isso, decidem abandonar o lar, acrescenta.

Crianças de rua na primeira pessoa

Nas ruas de Nampula encontramos Castro Furtado, de 12 anos de idade. Natural do distrito de Meconta, o menino diz que vive na rua por causa da violência de que foi vítima depois da morte dos pais. “Lá na minha terra batiam-me e não me davam de comer”, conta.

Straßenkinder aus Nampula Nord-Mosambik
Em Nampula, a mendicidade infantil cresce a cada dia que passaFoto: DW

Além de chegar a passar um ou dois dias sem comer, relata também que quando vivia em casa de familiares era obrigado a trabalhar. Situação que o motivou a abandonar aquela casa e a rumar para a cidade de Nampula à procura de melhores condições de vida.

Também Calisto Issufo, outra criança que a DW África encontrou nas ruas da cidade, fugiu de casa. “Saí de casa do meu tio porque não me davam comida e comecei a viver aqui na rua”, explicou.

Crianças do sexo feminino são muitas vezes sujeitas a violação sexual. É o caso de Anifa, de 13 anos, que preferiu que o seu depoimento não fosse gravado. Relata que vivia com o seu tio e que abandonou a sua casa porque este a obrigava a manter relações sexuais com ele.

Faltam estratégias claras

Paulito Lucas, responsável por um centro de acolhimento de crianças carenciadas na cidade de Nampula, afirma que são as políticas implementadas pelo Governo e a falta de dignidade de pais e encarregados de educação que levam as crianças a sair de casa e a optar pela vida na rua. Lembrando que “as crianças são uma camada vulnerável, defende que “os órgãos do Estado que velam pelas crianças deviam fazer uma grande campanha cívica” dirigida aos pais.

Paulito Lucas
Paulito Lucas, responsável por um centro de acolhimento de crianças carenciadas em NampulaFoto: DW

“É uma tarefa que cabe a todos nós, mas com a ajuda de quem de direito. Não vejo nada que se faça em prol da criança, mas há pessoas que recebem por isso. Temos de mandar as crianças para a escola”, frisa ainda Paulito Lucas.

Os investimentos económicos em várias cidades de Moçambique são também vistos como alavanca para o aumento de meninos de rua em Nampula.

O Governo local diz estar atento ao problema, mas admite não ter condições para resolvê-lo. Para a inverter a situação, defende a adoção de novas estratégias de assistência a estas crianças, sublinhando que isso passa necessariamente pelo envolvimento da sociedade e de outros setores públicos e privados.

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