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Aumento de ataques no centro: Retaliação ou pressão?

6 de abril de 2020

Aumento dos ataques no centro de Moçambique pode ser manobra de pressão sobre quem lidera a aproximação entre a "Junta Militar" e as autoridades. Também pode ser uma resposta a novas investidas das Forças Armadas.

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Mariano Nhongo, líder da autoproclamada "Junta Militar", grupo dissidente da RENAMOFoto: DW/A. Sebastiao

Depois de um curto interregno, Mariano Nhongo e os seus homens voltam a atacar e com uma maior frequência, num curto espaço de tempo.

Em menos de 48 horas, efetuaram três ataques contra autocarros entre as províncias centrais de Manica e Sofala. As ações de quinta-feira passada (02.04) resultaram em cinco feridos e a ação de sexta-feira (03.04) fez um morto e quatro feridos.

Aumento das investidas das FDS e pressão

Para Calton Cadeado, especialista em paz e segurança do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Maputo, o intensificar das ações da autoproclamada "Junta Militar", grupo dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO, o maior partido da oposição), acontece porque "as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estão a fazer ataques contra Mariano Nhongo e, por esse motivo, o Nhongo está a contra-atacar."

"Isto é uma ação de retaliação que também serve para obrigar as FDS a diminuirem ou até parar os ataques contra o Nhongo".

Mosambik Angriff Unbekannter in Mecombezi
Vestígios de um ataque armado perpetrado pela "Junta Militar" no centro de MoçambiqueFoto: DW/A. Sebastião

Outra hipótese, de acordo com o investigador, é que "Nhongo está com problemas de logística e/ou de mantimentos. Neste contexto, os ataques podem ser fonte de (re)abastecimento", cogita.

É ainda avançada uma terceira hipótese para o recrudescimento das ações do líder dissidente: segundo o jornalista e diretor do semanário Savana, Fernando Lima, pode ser uma manobra de pressão.

"Há iniciativas de bastidores em curso para resolver o problema de Mariano Nnhongo, que aparentemente não estão a trazer resultado. E isso estaria a frustrar o líder da "Junta Militar". Então, a resposta de Nhongo é fazer os ataques para aumentar a pressão sobre os que estão na dianteira do processo para resolver o assunto", entende Fernando Lima.

Mosambik Angriff auf Bus
A circulação de pessoas na região centro do país é garantida pelo ExércitoFoto: DW/A. Sebastião

O "filtro" de Nhongo para a mediação

Embora tenha assumido a autoria dos ataques, o líder dissidente não justificou a intensificação das investidas.

Algumas vezes, Mariano Nhongo já se mostrou disponível para dialogar com o Governo e pôr fim aos ataques. Contudo, rejeita algumas possibilidades apresentadas, como por exemplo uma mediação sob os auspícios do Conselho Cristão de Moçambique. A instituição diponibilizou-se para tal em finais de fevereiro passado.

Mariano Nhongo diz ter enviado um documento ao Governo onde exprime o descontentamento da autoproclamada "Junta Militar" e manifesta abertura para o diálogo.

Entre outras coisas, a "Junta Militar" está revoltada com o líder da RENAMO, Ossufo Momade. Acusam-no de falhas e falta de seriedade ao negociar com o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, assinado a 6 de agosto. Mariano Nhongo e o seu grupo não reconhecem o documento. 

Deslocados dos ataques armados em Sofala

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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