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Brasileiros fazem protestos pela morte de Marielle Franco

Vivian Mannheimer (Rio de Janeiro) | EFE | Lusa
21 de março de 2018

Missas e atos ecuménicos marcaram o sétimo dia da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O caso causa comoção no Brasil e exterior.

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Brasilien Trauer  Marielle Franco
Ato no Rio de Janeiro (20.03) reivindica justiça e critica militarização da segurança Foto: picture-alliance/AP/

Milhares de pessoas se reuniram na noite de terça-feira (20.03) em diferentes cidades do Brasil para pedir justiça para a vereadora Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e para o motorista Anderson Gomes, assassinados há uma semana no centro do Rio de Janeiro. Ela era conhecida por defender os direitos das mulheres e a inclusão social, além de ser crítica da violência policial e intervenção federal na segurança pública na cidade do Rio de Janeiro.

Cerca de 30 mil pessoas se reuniram em frente à Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, em um ato religioso para lembrar o sétimo dia do assassinato da vereadora e do motorista. Os manifestantes e familiares exigiram agilidade das autoridades na solução do crime e prestaram homenagem ao legado da vereadora. "Ela levantava a bandeira feminista, levantava a bandeira homoafetiva, levantava a bandeira dos negros e menos favorecidos. Ela era contra a intervenção. Ela lutava por tudo que a gente aqui luta”, explica uma das cidadãs que participou do protesto.

Brasilien Trauer  Marielle Franco
Homenagem à Marielle Franco nas ruas de São Paulo Foto: picture-alliance/AP/

Marielle Franco, 38 anos, trabalhou na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e, em 2016, se elegeu como quinta vereadora mais votada. O crime interrompe uma trajetória de esperança. "É quase que irreparável, porque para plantar uma sementinha como ela... Crescer, como ela cresceu, pode ser que demore um pouco, mas é claro que ela plantou a esperança em muitas pessoas que já não tinham mais e nos deixou com mais sede de justiça”, conta outra manifestante na capital carioca.

Ataque à democracia em contexto de intervenção militar

Assassinatos de vereadores e prefeitos não são novidade no Brasil. Arthur Ituassu, professor de comunicação política da Universidade Católica do Rio, a mesma onde Marielle se formou em sociologia, acredita que esse caso configura um ataque à democracia e ganhou a atual dimensão devido ao fato da vereadora representar vários setores oprimidos da sociedade brasileira.

 "O ataque à democracia existe no sentido de você matar uma vereadora eleita. Mas não é só o fator institucional. É alguém que é mulher, num país essencialmente machista como o Brasil, negra e que veio da favela. Ou seja, uma mulher pobre ascende social e politicamente, e tem sua trajetória interrompida por uma execução ", explica.

Marielle torna-se, nesse contexto, um símbolo contra a opressão e o extremismo. "É claro que um evento desse vai trazer uma reação muito grande por parte daqueles que também não só estão cansados com a situação social, racial, de gênero, mas também reagindo a esse crescimento da extrema direita no Brasil”, explica.

Brasileiros fazem protestos pela morte de Marielle Franco

A parlamentar havia sido escolhida como relatora da comissão formada para acompanhar as operações militares nas favelas do Rio de Janeiro, que começaram em fevereiro e deve ir até dezembro.  "O contexto da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, quer dizer, o fato de você ter uma ação dessas dentro desse contexto é muito desafiadora no que diz respeito à sociedade, às instituições, ao próprio Estado brasileiro”, reflete Arthur Ituassu. Alguns dias antes de sua morte, Marielle Franco postou nas redes sociais denúncias de abusos de policiais militares de Acari, na Zona Norte do Rio, que formam o batalhão com mais mortes em confrontos no último ano.

Difamação na internet

Nos dias seguintes ao crime, Marielle Franco foi alvo de difamações nas redes sociais. Circularam notícias falsas de que vereadora tinha envolvimento com traficantes. Os boatos chegaram a ser compartilhados nas redes sociais pela desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e pelo deputado federal Alberto Fraga.

Anielle Silva, irmã da vítima, desmentiu, mais uma vez os boatos durante a homenagem da noite passada. "Marielle nunca foi criminosa. Nunca fomos financiadas pelo tráfico e ela nunca se casou com bandido. Eles não vão conseguir destruir tudo o que minha irmã construiu", afirmou. "Tenho sangue nos olhos por justiça para minha irmã. Não vou descansar enquanto isso não se resolver”, apelou a irmã que pede a resolução do caso. 

Deutschland - Gedenken an  Marielle Franco  in Berlin
Manifestantes em Berlim na última semana (18.03)Foto: DW/C. Neher

Além do Rio, milhares de pessoas foram às ruas de várias cidades do país para exigir respostas para o assassinato de Marielle e Anderson, investigado pela Polícia Civil como uma "execução". O caso também gerou grande comoção no exterior, o que desencadeou manifestações em Lisboa, no Porto, Berlim, Londres, entre outras cidades, onde centenas de pessoas se reuniram para homenagear as vítimas e reivindicar justiça.

Investigações

As autoridades policiais ainda estão a investigar o crime, mas já declararam que há sinais claros de que tenha sido uma execução, porque as vítimas foram seguidas e alvejadas sem que nenhum pertence tenha sido roubado. Além disso, o carro usado pela vereadora na noite teria sido seguido durante quatro quilómetros até o momento do crime.

Na última sexta-feira (16.03), a perícia identificou, com base nas cápsulas encontradas na cena do crime, a origem das balas usadas, que pertencem a um lote comprado a uma empresa privada pela polícia federal de Brasília em dezembro de 2006. Os investigadores informaram, porém, que ainda não há nenhum suspeito.