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Cabo Verde: “Sokols” faz segundo protesto contra o Governo

Ângelo Semedo
11 de janeiro de 2018

Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018 e autonomia politica e administrativa das ilhas são as principais reivindicações do segundo protesto dos “Sokols”, a ter lugar este sábado (13.01) em São Vicente, Cabo Verde.

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Kap Verde Demonstration der Sokols Bewegung
Primeira manifestação dos "Sokols" em São Vicente , Cabo Verde, em julho de 2017 Foto: Sokols

O 13 de janeiro é Dia da Liberdade e da Democracia em Cabo Verde. E o movimento cívico os "Sokols” aproveita a data para realizar a sua segunda manifestação em São Vicente, em menos de um ano, para exigir ao Governo a autonomia política, administrativa e o desenvolvimento integrado de todas as ilhas.

A marcha deste sábado (13.01) vai ser "pacífica” e é pela "democracia”, diz o ativista e líder do movimento, Salvador Mascarenhas, para quem, depois de 42 anos da independência, já é altura de Cabo Verde ter "uma democracia num patamar mais elevado”.

A centralização do poder e da maioria das estruturas do Estado na ilha de Santiago, onde se situa a capital do país e o tratamento desigual por parte do Governo, são alguns dos problemas que limitam o desenvolvimento das outras ilhas, considera Salvador Mascarenhas.

Ele adianta que em Cabo Verde "há défice de democracia” e um "grande desequilíbrio regional”.

Tratamento "desigual" 

O ativista aponta o Orçamento Geral do Estado para 2018 como um dos "pontos-chaves” da manifestação, por considerar que a sua repartição entre as ilhas é "desigual”.

Kap Verde Salvador Mascarenhas Aktivist
Salvador Mascarenhas, ativista social e membro do movimento cívico os "Sokols"Foto: Sokols

"O orçamento do Estado para 2018, consagra 85 por cento do montante para a ilha de Santiago e 15 por cento para às ilhas periféricas… Achamos isso extremamente injusto. Achamos que todas as outras ilhas têm direito e exigimos a descentralização política e não só administrativa”, afirma.

Salvador Mascarenhas justifica ainda o protesto com o facto dos "Sokols” quererem ainda um Cabo Verde "harmonioso”, "equilibrado” e "justo”: "Porque, queremos uma descentralização que nos permita autonomia necessária para a nossa sociedade e para o desenvolvimento das ilhas;  Porque, queremos uma distribuição mais justa e equilibrada do orçamento do Estado; Porque, sabemos que cada ilha tem potencialidades para gerar o seu próprio desenvolvimento e construir um futuro melhor e porque, queremos um poder local ativo e competente”, justifica o ativista.

O ponto central do protesto vai ser a ilha de São Vicente, mas Salvador Mascarenhas apela às pessoas das outras ilhas a saírem às ruas para fazerem ouvir as suas  vozes. O ativista lembra que têm simpatizantes nos outros pontos do país.

Governo não dialoga

O Governo, segundo Salvador Mascarenhas, não tem dado ouvido às reivindicações dos "Sokols” e nem tem procurado dialogar.

Segundo diz, nunca ouve nenhum interesse do Governo em contatar o movimento, salientado que o mesmo sabe quais são as reivindicações dos "Sokols” e que são em nome da população. 

Kap Verde Aktivisten der Sokols Bewegung
4 ativistas do movimento cívico os "Sokols" numa estrada da ilha de São Vicente a afirmar a palavra de ordem "Basta!" Foto: Sokols

"O Governo tem de começar as mudanças. É mais do que óbvio e não há muito a dizer. O que se passa é que todas as atitudes do Governo, toda a sua politica, é feita sem seguir o que as pessoas querem, nem perguntando as pessoas. Não há socialização das medidas a tomar e não há debates”, sublinha Mascarenhas.

Sociólogo fala em "perigo”

Analisando para a DW África as manifestações dos "Sokols”, o sociólogo e professor universitário, Redy Lima, defende que estes  protestos não são novos e que é a continuidade dos que a sociedade civil tem vindo a realizar em Cabo Verde, desde 2005.

Embora reconheça a importância destas mobilizações, nomeadamente, dos "Sokols", ele considera que não terão grandes influências sobre a política governamental .

"Não acredito que influencie alguma coisa, porque não é uma novidade. O grande problema destes vários grupos que têm surgido é que lhes falta uma causa comum para poder haver um grande tsunami de cidadania e que pressione de facto o Governo", assegura.

A regionalização, em particular da ilha de São Vicente, é um dos elementos principais que compõem a pauta de exigências  dos "Sokols”. E nisto, o sociólogo Redy Lima vê um perigo, por causa das interpretações que se tem estado a fazer e explica:

"Temos que ver a pauta que é a regionalização… O perigo é que muitas vezes se leva esta questão dos Sokols para uma outra pespetiva, por nós mal trabalhada, e que tem a ver com a própria colonização que é reverter isso numa briga de regionalização entre o "badiu" ( pessoas da ilha de Santiago) e "sampadjudo” (pessoas da  ilha de São Vicente). Isto que é perigoso. Fora isso, acho que a democracia é precisamente isso, é reivindicar”, afirma.

Cabo Verde: “Sokols” realiza segundo protesto contra políticas do Governo

Para que exista em Cabo Verde grupos com capacidade de influenciar o poder, o sociólogo diz que é preciso "descolonizar a mente”, ou melhor, acabar com a ditadura partidária que existe no país e não ver os partidos politicos como a solução para todos os problemas. Aponta ainda, a necessidade de haver grupos em todas as ilhas com objtivos comuns, afim de conseguirem pressionar o Governo, por forma a dar resposta às suas exigências. No entender do sociólogo, só com esta comunhão de ideias a sociedade civil cabo-verdiana conseguirá atingir os seus objetivos.

Os "primeiros" "Sokols" de Cabo Verde

Segundo o blogue, Esquina do Tempo, do professor universitário cabo-verdiano, Manuel Brito Semedo, em 1932, um funcionário da Western Telegraph Company, Júlio Bento de Oliveira, fundou na ilha de São Vicente uma organização de massa juvenil, inspirado no movimento checo surgido em 1862, com o nome de os "Sokols de Cabo Verde”.

Semedo acrescenta que, os "Sokols”, para além da cultura física, procuravam inculcar nos seus membros os valores cívicos e democráticos que também regiam a sua congénere da Checoslováquia, tendo deixado profundas marcas nos jovens mindelenses.

Este nome, foi retomado em 2017 por um grupo de jovens ativistas mindelenses para manifestar o seu descontentamento face à política do Governo.

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