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Cidadãos voltam a protestar sobre silêncio no caso Amurane

Sitoi Lutxeque (Nampula)
21 de outubro de 2017

Centenas de manifestantes fazem marcha em Nampula contra demora no esclarecimento da morte do edil Mahamudo Amurane, assassinado a 4 de outubro, e pedem exoneração de presidente interino do MDM.

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Manifestantes fizeram marcha pelas ruas de Nampula para pedir celeridade nas investigaçõesFoto: DW/S. Lutxeque

Centenas de cidadãos saíram às ruas este sábado (21.10) na cidade de Nampula, no norte de Moçambique, para protestar contra a demora no esclarecimento sobre o assassinato do edil Mahamudo Amurane. Após duas semanas do ocorrido, as autoridades judiciárias e policiais ainda não identificaram os responsáveis pelo crime.  

Além de justiça, os manifestantes pedem que o governo desqualifique Manuel Tovoca, atual presidente interino do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que em menos de uma semana exonerou todos os dez vereadores empossados pelo edil e nomeou políticos que teriam sido expulsos dos cargos por alegado envolvimento em esquemas de corrupção e desobediência aos ideais do autarca. Além disso, os manifestantes pedem a realização de eleições intercalares naquela cidade.

A marcha começou pela manhã em frente à residência onde, no passado dia 4 de outubro, o edil foi alvejado mortalmente. Os manifestantes percorreram diferentes avenidas e ruas de cidade até o Jardim Parque Popular. Durante o percurso, os participantes do protesto empunharam dísticos com vários dizeres, entre eles, "Chega de justiça surda. Por favor, Nampula, não vire Somália" e "Amurane vive em cada um de nós".

Mosambik Proteste in Nampula
Carlos Niquina: "Não sentimos os resultados dos trabalhos de investigação"Foto: DW/S. Lutxeque

Carlos Niquina, um dos representantes dos munícipes, fez uma breve comunicação de indignação. "Nós cansamos de ouvir que estão a trabalhar. Estão a investigar e, no fim, não sentimos os resultados dos trabalhos dessa investigação", lamentou ao exortar por celeridade no processo da investigação.

Os manifestantes dizem que enquanto as autoridades de justiça não se pronunciarem sobre quem foi o mandante ou quem assassinou o edil, o culpado será sempre o MDM e os seus líderes. "Enquanto não se esclarece as investigações em curso denominamos o MDM como o patrono deste assassinato. O povo ainda aguarda com maiores expetativas os resultados da investigação para uma maior conclusão. Continuaremos a honrar os legados do Presidente Amurane", declarou Carlos Niquina.

De salientar que a marcha foi presenciada por quase todos os vereadores e chefes dos postos administrativos urbanos nomeados por Mahamudo Amurane, mas que esta semana viram-se exonerados pelo sucessor interino do edil. Grande parte dos manifestantes era funcionário do Conselho Municipal de Nampula.

O padre português José Luzias, que desde muito antes da independência de Moçambique, em 1975, trabalhou naquela cidade, participou da marcha. "Eu penso que o edil foi sacrificado, porque não se vergou diante de ninguém e estava determinado em seguir em frente", lamentou.

Novos vereadores tomarão posse

Enquanto parte da população protestava e pedia esclarecimentos sobre o assassinato do edil, um grupo de membros do MDM encabeçado pelo secretário-geral do partido, Luís Boavida, apresentou na periferia da cidade os novos vereadores que serão empossados na próxima segunda-feira por Manuel Tocova, presidente interino do Conselho Municipal de Nampula.

Mosambik Proteste in Nampula
Manuel Tocova (à esquerda) e Luís Boavida (à direita) apresentam novos vereadores na periferia de NampulaFoto: DW/S. Lutxeque

Luís Boavida diz que a marcha não era da população, mas sim de um grupo de antigos chefes e funcionários do município que foram exonerados e que lutam a todo custo para desacreditar a figura do novo chefe do executivo municipal.

"O dístico principal que estão a exibir na cidade é 'O MDM e Daviz Simango mataram Amurane para assaltar o poder'. São os tais vereadores que querem que Tocova lhes mantenha e trabalhe com eles. Quer dizer que ele [Manuel Tocova] tem de aceitar a trabalhar com eles? O que é isso? Nós não vamos permitir que isso aconteça, porque vai paralisar o município", sublinhou.

Luís Boavida, que também já foi deputado na Assembleia da República de Moçambique, desmentiu rumores de que o presidente interino não poderia ter exonerado todos os vereadores e chefes dos postos. Para ele, as leis são claras e "há um grupinho de cidadãos que quer desinformar o povo".