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Eleições no Quénia no dia 26 de outubro?

Emma Wallis | Meyre Brito
13 de outubro de 2017

Protestos, saques, gás lacrimogéneo. O Quénia vive dominado pela incerteza do que vai ser o resultado das novas eleições presidenciais, marcadas para o próximo dia 26 de outubro.

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Kenia Raila Odinga, Oppositionsführer | Interview in London, Großbritannien
Raila Odinga, em Londres, nesta sexta-feira, 13 Foto: Reuters/P. Nicholls

As três maiores cidades do Quénia foram tomadas por manifestantes nesta sexta-feira (13). O ato foi um desafio à proibição do Governo queniano de organizar protestos. Nas últimas semanas, o país vive dominado pela incerteza do que vai ser o resultado das novas eleições presidenciais, marcadas para o próximo dia 26/10.

Em Londres, o queniano Raila Odinga, líder da oposição, deu uma entrevista exclusiva à DW na qual afirma que, diante do cenário atual, não houve outra opção, senão retirar a candidatura. "A Comissão Eleitoral (IEBC) e o Governo não está a trabalhar pela realização de eleições limpas e justas. O Supremo Tribunal identificou irregularidades e ilegalidades. A partir desta constatação os resultados das urnas foram anulados. A IEBC deve realizar um novo escrutínio de acordo com a nossa Constituição e com as leis do nosso país. Por isso, vimos forçados a retirar a nossa candidatura".

Odinga-Entrev. DW - MP3-Mono

Para Odinga, o cancelamento de sua participação nas presidenciais não deve gerar ainda mais conflitos no país. Ele afirmou que está agindo de acordo com a lei. "Segundo o Supremo Tribunal, se um candidato cancelar a sua participação no escrutínio, a Comissão Eleitoral terá de reorganizar o processo numa data posterior. Por isso, as condições não estão criadas para as eleições no Quénia no próximo dia 26 deste mês", destacou Odinga.

"Eles sabem de tudo"

A IEBC declarou que o candidato da oposição ainda não retirou sua candidatura formalmente. Odinga contra-atacou dizendo que não sabe o que eles querem dizer com "formalmente”. Ele contou que escreveu uma carta cancelando a sua candidatura nessas eleições e que, agora, a Comissão Eleitoral está a jogar "pingue-pongue", mas que "eles sabem de tudo".

Na última quinta-feira (19.10.), o ministro da Segurança, Fred Matiangi, proibiu os protestos no centro de Nairobi, Mombaça e em Kisumu. Matiangi acusou os apoiantes da oposição de agirem contra a lei, logo após incidentes onde propriedades foram destruídas, pessoas roubadas e o comércio, saqueado.

Mas a oposição não se intimidou. Os partidários da Super Aliança Nacional (NASA, sigla em inglês) decidiram por continuar com as manifestações e avisaram que haverá comício todos os dias da semana que vem. Organizações de direitos humanos também protestaram contra a repressão. Segundo elas, a  polícia matou pelo menos 37 pessoas em protestos, desde que os resultados das eleições de agosto foram anulados.

No oeste do país, na cidade de Kisumu, os militantes chegaram a bloquear as ruas e queimar pneus empilhados. A televisão local mostrou confrontos entre os jovens e a polícia. Em Nairobi, a tropa anti-choque estava a postos antes de os protestos começarem. Para conter apoiantes da oposição, a polícia também fez uso de gás lacrimogéneo.

Sobre reféns e culpados

Kenia Nairobi Demonstration Odinga Anhänger
Apoiantes de Odinga em protesto na cidade de Nairobi.Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba

O agora ex-candidato a Presidente, não acredita em uma onda ainda maior de violência no país. Ele disse que o povo queniano é pacífico e que a violência só começa quando o Governo atira ou joga gás lacrimogéneo contra pessoas inocentes. "A nossa Constituição garante o direito à manifestação. Isso não é um presente ou uma generosidade de um Governo. Os cidadãos precisam apenas notificar o dia, a hora e o local onde vão protestar. O papel do Governo é então enviar policiamento ao local,  para garantir a segurança dessas pessoas. E não mandar tropas anti-choque com o objetivo de combater os manifestantes. Isso sim é uma violação da Constituição", explicou.

Mesmo com todos os impasses, Odinga não acredita que exista um problema institucional no seu país. Para ele, todo esse impasse aconteceu por causa da intromissão do Governo no processo eleitoral. Ele está convencido de que o Executivo quer manipular os resultados das eleições. "O IEBC é refém do poder Executivo. Eles não conseguem agir independentemente. Então, até que o Governo desista dessa interferência, e permita que a Comissão seja verdadeiramente independente, nós vamos continuar tendo problemas". 

Apesar de todos os atrasos, anulações  e conflitos, o líder da oposição no Quénia disse que ele e os seus apoiantes não estão arrependidos. "Isso tudo foi necessário. E, quando as eleições acontecerem, nós temos a certeza de que vamos vencer com uma ampla maioria", prometeu.