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Continuam as dúvidas sobre idoneidade de Isabel dos Santos

João Carlos (Lisboa) 28 de abril de 2016

Ainda não há uma decisão formal sobre o registo de idoneidade da empresária angolana Isabel dos Santos para exercer funções no banco BIC. BCE é cada vez mais exigente na redução da exposição da banca portuguesa a Angola.

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Foto: picture-alliance/dpa

O Banco de Portugal está a analisar o processo desde janeiro, mas ainda não decidiu se vai reconhecer a idoneidade de Isabel dos Santos para integrar os novos órgãos sociais do BIC Portugal, banco de capitais angolanos onde a milionária é acionista maioritária.

O supervisor português foi confrontado com dúvidas sobre o cumprimento das regras de observância europeias. O Banco de Portugal já tinha recusado a validação dos dois nomes propostos para administrar o BIC, Jaime Pereira e Fernando Teles, quando são cada vez mais exigentes as recomendações do Banco Central Europeu (BCE) que visam reduzir a exposição da banca portuguesa a Angola.

Segundo a imprensa portuguesa, a rejeição terá colocado um novo entrave nas negociações sobre o futuro do Banco Português de Investimento (BPI), detentor de 50,1% do Banco de Fomento de Angola (BFA), que a empresária pretende cotar na Bolsa de Lisboa. Isabel dos Santos tem ainda em fase de resolução um diferendo negocial com os espanhóis do CaixaBank (La Caixa) sobre o futuro do BPI.

A questão é "muito complexa", afirma a jornalista Anabela Campos, que supõe que a filha do Presidente angolano terá pedido como contrapartida para aprovar o acordo com os espanhóis do banco La Caixa que lhes fosse dada a idoneidade - a ela e aos restantes órgãos sociais, Jaime Pereira e Fernando Teles - e que também que fosse garantido que o BFA seria cotado na Bolsa de Lisboa.

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Anabela Campos, jornalista e analista portuguesaFoto: DW/J. Carlos

"Estes são os argumentos públicos para ela ter recuado nas negociações com o La Caixa. Não temos a certeza porque nunca foi feito de forma clara essa associação, mas tudo aponta que tenha sido isso que aconteceu", explica.

A DW África tentou obter uma reação junto da representação de Isabel dos Santos na Europa, mas sem sucesso. No entanto, admite-se que o supervisor português irá reconhecer a idoneidade da filha do Presidente de Angola, que quer manter uma posição na banca portuguesa.

BCE mais exigente

Para a analista, há certamente uma maior exigência por parte do Banco de Portugal face às novas regras impostas pelo BCE, depois do colapso do BES Angola (BESA).

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Sede do Banco Central Europeu (BCE) em FrankfurtFoto: Getty Images/AFP/D. Roland

"Pouco tempo depois da resolução do Banco Espírito Santo (BES) e as consequências que isso teve em Angola, o BCE decidiu alterar as regras para os bancos europeus com exposição a África, nomeadamente a Angola", lembra Anabela Campos

A jornalista acredita que o BCE "terá ficado de pé atrás" com o regulador angolano, o Banco Nacional de Angola (BNA), "quando foi não só retirada a garantia que o Estado angolano tinha dado para as dívidas que o BESA tinha ao BES, como também atenuou ou aligeirou as regras que o banco teria de cumprir, de rácios e de prudência".

O BPI, onde Isabel dos Santos detém cerca de 19% do capital através da Santoro Finance, tinha até 10 de abril em curso como data limite para reduzir a exposição a Angola.

Desconfiança aumenta

Apesar da abertura do mercado português, o capital angolano, que outrora era muito bem-vindo, está agora confrontado com alguma desconfiança. Anabela Campos dá o exemplo da Unitel, empresa angolana de comunicações detida por Isabel dos Santos, que deixou de pagar dividendos à Portugal Telecom (PT) desde 2011.

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"Isabel dos Santos ia fazer uma parceria com a [portuguesa] Sonae nos hipermercados em Angola e veio recrutar dois dos quadros da empresa e isso também caiu um bocado mal", afirma a analista. "Há sinais de que é preciso ter alguma prudência".

Para o analista Rui Verde, a filha do Presidente de Angola "nunca foi heroína da banca, porque nunca lá colocou dinheiro". Ela "limitou-se a fazer compras", acrescenta, referindo que, "para o BPI, os negócios [da empresária angolana] nunca representaram dinheiro fresco" e "para Portugal não são um investimento económico". Rui Verde considera que "o grande efeito que a situação presente tem é colocar o foco em Isabel dos Santos e desmistificar o investimento angolano que não o é".

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