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DesastresMoçambique

Simango: "Fica claro que a Beira é um corredor de ciclones"

27 de janeiro de 2021

Em entrevista à DW, Daviz Simango, o edil da Beira, uma das zonas mais fustigadas pela tempestade tropical Eloise que fez 14 mortes, afirma que a cidade retrocedeu alguns passos, pois ainda se estava a reerguer do Idai.

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Foto: DW/J. Beck

No fim de semana, o ciclone Eloise matou 14 pessoas e causou elevados danos materiais no centro de Moçambique, em particular na Beira. Cerca de 18 mil pessoas ficaram desalojadas, num total de 250 mil pessoas afetadas, segundo os últimos números da ONU.

Em entrevista à DW África sobre os estragos na cidade fustigada pela tempestade tropical, o edil Daviz Simango diz que "fica claro que a Beira é um corredor de ciclones". Afinal, há menos de dois anos a região foi destruída pelo Idai, o pior ciclone de que há memória no país.

DW África: Qual é o ponto de situação na Beira?

Daviz Simango (DS): Neste momento, a situação está controlada. Grande parte das águas que inundaram os vários bairros estão praticamente removidas. O grande desafio que existe é que as populações sofreram, ficaram inundadas, e este ciclone trouxe duas particularidades: uma é o vento, que destruiu bastante, outra são as chuvas, que até começaram a cair antes do ciclone. Um dia antes do ciclone já tínhamos um troço para Nhangale, que é um posto administrativo mais distante, que estava interrompido. Mas de modo geral, a situação está controlada. A população pouco a pouco vai voltando à sua normalidade.

DW África: Os impactos estão muito longe dos causados pelo ciclone Idai?

DS: Sim, há uma grande diferença. Os ventos do Idai foram extremos, mas este tem uma outra versão, que são inundações. Nunca em alguns bairros houve tanta água como desta vez. As nossas valas de drenagem ficaram cheias de água e tinham o mesmo nível de água nas estradas.

DW África: Que assistência está a ser dada à população afetada?

DS: A primeira grande assistência que foi dada às populações foi levá-las para um sítio seguro, elas estão lá. Ainda há um défice alimentar. O próprio município não tem recursos para tal. Há instituições vocacionadas e espero que elas consigam trazer-nos alguns produtos para a sustentabilidade de algumas famílias. Uma das outras preocupações são as crianças, que iriam a exames, mas as escolas ficaram inundadas, em particular num distrito. Então, essas crianças não vão conseguir fazer exames ao mesmo tempo que as outras crianças.

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DW África: E como está a ser dar assistência a essa população carenciada, em contexto de Covid-19?

DS: Esse é outro problema. Acabamos por ter duas situações: Covid-19 e inundações. Já deve imaginar como é difícil gerir isso. Todas as medidas de prevenção ficam quebradas. Já tínhamos algumas populações muito relaxadas e agora com esta situação agrava-se cada vez mais.

DW África: E o município da Beira já se tinha preparado para esta situação?

DS: Sim, sim. Desde o Idai estamos treinados para a prevenção. Tanto mais que os danos, quer com o Chalane quer agora com este ciclone, foram reduzidos com a mitigação e a prevenção.

DW África: Então, a reconstrução no contexto do Idai foi também por água abaixo?

DS: Claro. As populações estavam a reconstruir e de repente viram aquilo que estavam a reconstruir quebrado. Portanto, voltamos uns passos atrás. E agora fica claro que a Beira é um corredor de ciclones e temos de nos preparar cada vez mais na resiliência, sobretudo as nossas habitações. As infraestruturas têm de ser preparadas para aguentar com o vento.

DW África: O município da Beira já pensou em medidas de longo prazo? Tem algum projeto em particular para casas mais resilientes?

DS: Nós temos o nosso ‘master plan', que é uma visão que nos dá até 2035, e já começamos com parte dos projetos integrados. Iniciámos a construção de habitações resilientes e bairros resilientes, porque o nosso entender é que o bairro tem de ser resiliente e as habitações também devem ser resilientes. Por isso, na Marada fizemos os aterros, os arruamentos, a rede de água, a rede de esgoto e ainda vamos puxar a rede de energia. As populações vão ter zonas mais altas, ter todo o sistema de escoamento das águas e acreditamos que ali, vindo qualquer tipo de tempestade, a população estará protegida. Por outro lado, dentro do ‘master plan' inscrevemos o sistema de drenagem para permitir o escoamento das águas. Acredito que as próximas valas, que vamos iniciar agora na segunda fase com o apoio da Holanda, do Banco Mundial e do KfW da Alemanha, vamos conseguir melhorar a situação da cidade da Beira.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África