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Desdolarização da economia angolana preocupa "kinguilas"

Pedro Borralho Ndomba (Luanda)27 de maio de 2014

O desaparecimento do dólar no mercado cambial de Angola deixa a vida dos cambistas no mercado informal em risco. Por outro lado, o Banco Nacional diz que a desdolarização na economia do país é animadora.

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Foto: Fotolia/Sergey Galushko

Em declarações a DW África, os famosos “kinguilas” - cidadãos que exercem a atividade cambial nos mercados informais do país tem vivido uma realidade diferente desde 1 de Julho do ano passado. Foi quando o executivo angolano obrigou as empresas petrolíferas que operam em Angola e as demais instituições estrangeiras a efetuaram todos os pagamentos de bens e serviços em moeda nacional.

Marcelina António trabalha há mais de vinte anos como cambista no antigo mercado do Roque Santeiro e agora exerce as suas atividades nas ruas do bairro Talatona em Luanda.

Para ela, a decisão do Governo dificultou a vida porque já não se consegue pagar as contas da casa. “Esses dias não estamos a conseguir trocar dólar porque o Governo proibiu a circulação da moeda [norte-americana]. Agora dependemos da venda de cartões telefónicos. Agora estamos a passar mal, e não temos outro meio de sustento”, disse Marcelina.

Tendo em conta a escassez da moeda norte-americana no país, os cidadãos que exerciam atividade cambial acharam outro meio para sobreviver.

Novo negócio

Angola André de Souza mit Handy
Nos mecados informais vendem-se também outros tipos de produtosFoto: DW/Jule Reimer

Vender cartões de recargas para telemóvel é o meio sobre o qual os “kinguilas” optaram para o sustento das suas famílias - negócio que, segundo os mesmos, é pouco rentável.

Mas fazem-no por não existir alternativa, sabendo que há imensas dificuldades em obter um emprego no país.

Outra “kinguila” ouvida pela reportagem relata que houve significativa deterioração no seu nível de vida. “A nossa vida agora está péssima, estamos sem emprego e o trabalho é esse da rua. Não sei o que podemos fazer! Estamos atrás do Governo para nos dar emprego, mas também não nos dá."

A cambista do mercado informal pensa em alternativas para garantir a sobrevivência da sua classe. "Voltem o sistema antigo, que se ganhava em dólar. Que voltem a receber os salários nesta moeda. Assim, nós da camada baixa vamos sobreviver."

Segundo fontes de algumas agências bancárias em Luanda que não quiseram gravar entrevista, os bancos têm apenas autorização de venderem dólares aos cidadãos que estão prontos para viajar. Tais pessoas devem apresentar o passaporte com um visto de duas semanas de antecedência.

Valorização do Kwanza

O presidente da Associação dos Industriais de Angola, José Severino defende que a desdolarização na economia nacional vai permitir a maior valorização da moeda nacional. “Você não vai comprar o pão na padaria com o dólar, não vai comprar a galinha com o dólar. Vai comprar o ovo com a moeda nacional."

Luanda Leben in Sao Paulo Verkäuferinnen
Mercado infomal do São Paulo, LuandaFoto: DW/C. Vieira Teixeira

Na opinião de Severino, "deve-se aumentar a oferta nacional e substituir importações para se desdolarizar a economia. Então os dólares vão subir para comprar máquinas para se aumentar a produtividade.”

Segundo o governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, ao discursar nesta terça-feira (20/5) no ato de encerramento do seminário de um dia sobre "Os desafios da desdolarização da economia nacional", promovido pelo BNA, o processo de desdolarização da economia vai permitir um maior controlo da massa monetária em circulação.

José de Lima Massano diz que “o peso do crédito concedido à economia em moeda nacional era de 37 por cento e, no final de Março de 2014, passou a 64 por cento. Acrescentando que o mesmo verifica-se ao nível dos depósitos em kwanzas, cujo peso médio passou de 48 para 65 por cento no mesmo período."

O governador do Banco Nacional de Angola assinala ainda os resultados da desdolarização: "Em Março de 2014 a taxa de inflação atingiu o nível mais baixo. Por outro lado o nível da taxa de câmbio manteve-se estável”, disse José de Lima Massano.

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