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Desminagem de Angola: "Precisamos de mais tempo"

Adolfo Guerra (Menongue)
14 de janeiro de 2023

Governo de Angola prevê que país estará livre de minas terrestres até 2025, mas ONG diz que faltam tempo e meios. No Cuando Cubango, são visíveis avanços com o apoio dos EUA, no entanto, mantêm-se dificuldades e atrasos.

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Angola Sprengkörper aus dem Bürgerkrieg geborgen | Menongue
Foto: Guerra Menongue/DW

Quase 30 anos desde o início do processo de desminagem no Cuando Cubango, permanecem as dificuldades logísticas e os atrasos no processo. Para o processo de desminagem, a província angolana tem contado com o apoio financeiro do Governo norte-americano, que já doou aproximadamente 150 milhões de dólares para a desminagem.  

O embaixador norte-americano em Angola e São Tomé e Príncipe, Tulinabo Mushingi, trabalhou no Cuando Cubango na quinta-feira (12.01), com o objetivo de constatar e avaliar o nível de trabalho de desminagem na província. O diplomata disse que o investimento vai continuar noutras áreas. 

"Aqui em Angola, desde 1994, nós [EUA] já investimos mais ou menos 150 milhões de dólares, tendo criado um ambiente em que podemos desminar algumas áreas e com isto o povo angolano viver com tranquilidade e trabalhar para o desenvolvimento da sua terra", afirmou.

Vozes críticas advertem que há muito por fazer. Segundo José António, o diretor da organização não-governamental (ONG) britânica The Hello Trust, no Cuando Cubango, a organização já desminou mais de 163 campos, aproximadamente 3.780.000 metros quadrados. 

Apesar deste número parecer bom, ainda se está longe de se atingir os objetivos traçados, numa altura que ainda existem quase 250 campos por desminar e só está orçamentada a desminagem de 57.

 Entminungsarbeiten in Angola
Operadores da ONG The Hello FundFoto: Adolfo Guerra/DW

"Deve-se fazer mais"

Dos locais desminados destacam-se os municípios de Menongue, Cuito Cuanavale, Mavinga, Rivungo, Cuchi e Cuangar, num total de 72 equipas espalhadas a nível da província. A nível das quatro províncias, nomeadamente, Cuando Cubango, Huambo, Bié e Benguela, onde a ONG está presente, foram desminados, com financiamento norte-americano, mais de 82 mil campos. 

Para as quatro províncias, o Governo dos EUA já gastou mais de 70 milhões de dólares com a desminagem. "Estamos a trabalhar para um projeto de 3 anos, 2020 a 2023, com um valor de 4 milhões de dólares para as 4 províncias. O que se espera é que o Estado norte-americano continue a financiar projetos de desminagem em Angola, em particular no Cuando Cubango, porque, desde que estamos aqui, o que se fez é pouco", lamenta José António.

"Deve-se fazer mais", continua. "Existem muitos campos minados por aqui. Os acidentes continuam. Ainda no ano passado tivemos um acidente em Menongue, em que uma motorizada de três rodas acionou em uma mina e vitimou 7 pessoas. São muitos acidentes, precisamos muito de doadores".

Ao longo do período foram retirados e destruídos do solo do Cuando Cubango 48 mil minas antipessoais e 25.738 minas antitanques.

Mais prática, menos política

Com apenas 919 trabalhadores, dos quais 737 são operacionais (sapadores) pela ONG, José António diz que a intenção do Governo angolano em declarar Angola sem minas terrestres até 2025 não deve ser analisada no âmbito politico, mas sim do ponto de vista prático. 

"A condição das estradas, principalmente do lado leste que vai para o Cuito Cuanavale e Mavinga, é arenosa, temos de ter carros blindados, todo o terreno, às vezes é muito difícil. O tempo que se leva do Cuito Cuanavale para atingir Mavinga, em 200 quilómetros, percorre-se entre 12 a 14 horas, pois o acesso é difícil", aponta.

"O Governo acha que até 2025 Angola deve estar livre de minas, mas a realidade de quem está no terreno [é diferente]. 2025 é muito próximo, precisamos de mais tempo. Para determinarmos o tempo para termos áreas livres de minas, dependemos dos financiamentos e da capacidade operacional: mais pessoal empregado, mais trabalhos fizemos. Existe esta variável", sublinha.

Angola | Minenräumung in Angola
Foto de arquivo: Desminagem em AngolaFoto: GICHD

Governador pede apoio aos EUA para consciencialização

Para o governador do Cuando Cubango, José Martins, o trabalho da ONG The Hello Trust é digno de realce e tem vindo a refletir-se na vida das populações. Por isso, deixa um apelo: "O que solicitamos é que haja mais reforço nas brigadas, no sentido de que os trabalhos sejam mais céleres. Por outro lado, esperamos que Estados Unidos possam financiar o programa de educação e sensibilização das nossas comunidades, sobre os riscos que as minas representam, porque enquanto de um lado de está a fazer desminagem, noutros pontos da nossa província ainda assistimos àqueles cenários de acidentes com minas e engenhos explosivos não detonados. Isto deve-se à ausência de informação no seio das populações".

Durante a sua visita à província, o embaixador norte-americano visitou os acampamentos da Hello Trust na localidade do Kuelei, a 30 quilómetros de Menongue, e no município do Cuito Cuanavale, onde interagiu com os trabalhadores da ONG e ouviu preocupações.

A província conta para o processo de desminagem com sete brigadas, das quais quatro das Forças Armadas Angolanas (FAA), uma brigada do Instituto Nacional de Desminagem, uma brigada de Guarda Fronteiras, do Ministério do Interior e uma brigada da ONG Hello Trust. 

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