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Detonações da Vulcan em Tete assustam e ferem população

Jovenaldo Ngovene (Tete)
23 de janeiro de 2024

Detonações de minas pela Vulcan em Moatize continuam a desgastar populares. A mineradora tem aumentado gradualmente o campo de exploração e a aproximar-se cada vez mais das zonas habitacionais. Já há feridos e danos.

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Moatize, Tete
Mineradora Vulcan tem aumentado gradualmente o campo de exploração aproximando-se cada vez mais de zonas habitacionaisFoto: Estacio Valoi/DW

A mineradora Vulcan Moçambique, de capitais indianos, começou a operar nas minas de carvão de Moatize, província de Tete, em maio de 2022, depois da saída da Vale. A grande promessa da Vulcan era melhorar as relações com as comunidades e com o Governo, assim como reduzir os impactos negativos derivados da exploração do carvão, como é o caso da emissão de poeira e detonações de rochas.

Mas de lá para cá, nada aconteceu, considera a população, que se queixa dos impactos negativos cada vez mais assustadores. Dão como exemplo as detonações de rochas, que provocam fissuras e danos em residências.

Segundo alguns moradores, no passado dia 5 de janeiro, a empresa explodiu mais uma mina. A terra tremeu, a população ficou assustada e várias residências foram atingidas por pedras enormes.

"Eu estava alí fora e caiu uma pedra que atingiu a chapa e o barrote. Estragou o teto da casa. A empresa disse que ia reconstruir e até então nada aconteceu", lamenta um morador.

"Temos que organizar as crianças e ir para lugares seguros. As pedras caem descontroladamente e batem nas casas", acrescenta.

Solução passa pelo reassentamento 

Aos microfones da DW, outro morador defende: "a solução é reassentarem-nos".

As pedras também acabaram por atingir dois idosos, entre os quais Chicanaze Rupia, de 83 anos, que ainda não recebeu apoio nem da empresa nem do Governo. Rupia tem recebido cuidados da filha, Nusma Tropa, que lamenta a situação.

"Ela foi atingida por uma pedra vinda da mina e a empresa não nos tem ajudado em nada até agora", denuncia.

Domingos Tomás, a outra vítima, de 75 anos, foi atingido no joelho e também não recebeu qualquer tipo de apoio.

Casa com fissuras devido ao impacto de detonações de rochas
População queixa-se dos impactos negativos da exploração de carvão, como as detonações de rochas que provocam fissuras e danos em residênciasFoto: Jovenaldo Ngovene/DW

Eugénio Muchanga, administrador do distrito de Moatize, reconhece que a situação é preocupante, e diz que já existe uma equipa técnica a avaliar a situação no terreno.

"Criou-se uma comissão que inclui a direção provincial do ambiente, o município e a própria Vulcan para averiguar o que realmente está a acontecer. Por outro lado, a Vulcan vai contratar técnicos que possam verificar as casas e a empresa naquela área parou as operações", explica.

Empresa diz que suspendeu operações

O Governo diz que as detonações já foram paralisadas, mas a DW esteve no terreno e sentiu de perto o tremer da terra numa distância de menos de 100 metros entre a mina e a zona residencial, concretamente nos bairros 4 e Nhanchere na vila de Moatize.

A DW contactou a Vulcan para obter esclarecimentos sobre o caso. A empresa respondeu através de um comunicado.

"A Vulcan já iniciou uma investigação cobrindo todos os aspectos, incluindo a coordenação com as comunidades locais para investigar adequadamente o assunto. Como medida de precaução, suspendemos temporariamente as operações de desmantelamento na referida área, enquanto as investigações prosseguem", pode ler-se na nota.

Mas a população nega que as operações tenham sido suspensas. A DW também esteve no terreno e as operações continuam.

Isso acontece numa altura em que 200 famílias das comunidades de Mpandue e Ntchenga, afetadas pela mesma situação, ameaçam não ocupar uma nova zona de reassentamento, cuja primeira pedra já foi lançada, alegadamente por falta de transparência nos processos levados a cabo pela mineradora e pelo Governo.

Por sua vez, a sociedade civil exige que os erros cometidos noutros reassentamentos não sejam repetidos. Fala-se, por exemplo, da falta de indemnização para alguns afetados, perda de terra arável para a prática da agricultura e pecuária, bem como a construção de moradias que logo cedo mostram deficiências.

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