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Doentes africanos vivem com dificuldades em Portugal

João Carlos (Lisboa)25 de setembro de 2015

Relatos de várias fontes ouvidas pela DW África confirmam que há doentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), com junta médica, que sofrem com atrasos nos subsídios, chegando a passar fome.

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Pacientes de São Tomé e Príncipe a receber tratamento em PortugalFoto: DW/J. Carlos

Entre os casos ouvidos pela DW África, há relatos de evacuados que ficam meses à espera da próxima consulta em Portugal. Há doentes são-tomenses, por exemplo, que, depois de uma sessão violenta de quimioterapia ou hemodiálise, não têm direito a uma refeição quente.

Por falta de meios financeiros para adquirir medicamentos, vários doentes não conseguem cumprir o programa de tratamento. A dimensão do problema é inquietante e exige respostas por parte das autoridades são-tomenses e portuguesas.

Acompanhada da prima que a acolheu em sua casa, em Santa Iria, Sitéria Nascimento espera pela sua vez para receber o cabaz social. Está na lista das pessoas carenciadas de Sacavém, apoiadas pela Associação de Promotores de Saúde, Ambiente e Desenvolvimento Sócio Cultural (PROSAUDESC).

Sitéria veio de São Tomé, há quatro meses, para acompanhar o tratamento do filho que traz ao colo. “Desde que cheguei, só recebi uma vez [ajuda financeira], no final de julho. Recebi 60 euros, só para transportes”, conta Sitéria Nascimento.

“Uma pessoa vem para Portugal, com um bebé doente, num país que não é o seu, e não pode trabalhar. Nem tenho forma de chegar ao hospital, porque não tenho passe de transporte. Fui a uma consulta e passaram-me uma receita para um medicamento, mas, até agora, não comprei, porque não tenho dinheiro para comprar”, explica.

A residir agora em casa de uma amiga na frequesia das Galinheiras, Maria Conceição Vaz Campos está há quatro anos em Lisboa, por causa de um cancro. Está a ser seguida no Hospital de Santa Maria. Também veio com junta médica, ao abrigo do acordo estabelecido entre os governos de São Tomé e Príncipe e Portugal. A embaixada são-tomense dá-lhe o passe de transporte e um subsídio mensal de 50 euros que não recebe a tempo.

O apoio de particulares tem sido a salvação. No entanto, diz Maria Conceição Campos, há casos mais graves. “Quando não estamos ao lado de alguém que nos apoie, quando a embaixada de São Tomé não envia a ajuda, passamos mesmo fome”, afirma.
“Queremos arranjar um quarto, mas não temos condições de pagar esse quarto. Eu estou numa casa de família, as pessoas dão-me uma ajuda. Amigos e amigas que me dão qualquer coisinha”, conta Maria Conceição.

Tal como Sitéria e Maria Conceição, há muitos outros doentes são-tomenses, entre os evacuados dos PALOP para tratamento em Portugal, a passarem por inúmeras dificuldades.

Com parcos recursos financeiros do Orçamento do Estado, a embaixada de São Tomé e Príncipe em Lisboa faz o que pode para ajudar os doentes, que já ultrapassam a quota de duzentos por ano estabelecida no acordo com Portugal.

Tal como alguns deles, Virgínia Neto, coordenadora técnica da PROSAUDESC, reconhece as limitações existentes. A associação tem apoiado na medida do possível. “Criámos um gabinete médico onde temos uma médica disponível quinzenalmente que dá consultas gratuitas aos doentes com junta médica. É a embaixada que nos encaminha esses doentes”, explica a coordenadora.

Entre os evacuados dos PALOP com junta médica, os pacientes de Cabo Verde encontram em Portugal melhores condições de acolhimento e tratamento. A Girassol Solidária, dirigida por Teresa de Noronha, é uma das estruturas cujo trabalho faz minimizar o sofrimento dos doentes, entre os cerca de 110 que apoia mensalmente.

“Os doentes caboverdianos têm um apoio de retaguarda muito grande”, afirma, acrescentando que “há um serviço social na embaixada, têm um subsídio atribuído, às vezes com atraso, mas que existe”.

“Não quero com isto dizer que não passem dificuldades”, ressalva Teresa de Noronha, afirmando que “alguns passam mesmo por muitas dificuldades”. Ainda assim, sublinha, tem noção de que “de todos os PALOP, os cabo-verdianos são os que estão numa posição mais privilegiada”.

Maria da Conceição Campos espera que, num futuro próximo, o Governo são-tomense possa criar as condições necessárias para que a assistência médica dos seus cidadãos seja feita no país natal, com dignidade.

“Eu tenho esperança de que um dia as coisas vão mudar em São Tomé”, afirma.

A dimensão do problema é de tal forma inquietante que exige “respostas por parte das autoridades são-tomenses e portuguesas”, que devem “rever o acordo bilateral”, conforme recomenda a coordenadora técnica da PROSAUDESC, Virgínia Neto.

Portugal - Gesundheitskoordinatorin Virgínia Neto aus São Tomé e Príncipe
Virgínia Neto, coordenadora da Associação de Promotores de Saúde, Ambiente e Desenvolvimento Sócio CulturalFoto: DW/J. Carlos

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Portugal Santa Maria Krankenhaus in Lissabon
Hospital de Santa Maria, em LisboaFoto: DW/J. Carlos
Portugal Sacavém Klinik-Zentrum
Centro de Saúde de SacavémFoto: DW/J. Carlos
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