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E se a madeira que tem no conforto do seu lar for ilegal?

João Carlos (Lisboa)3 de julho de 2015

Portugal está apontado como um dos maiores importadores de madeira ilegal proveniente das florestas tropicais de África, nomeadamente da República Democrática do Congo, diz a Global Witness.

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Movelar Decorações na Avenida Almirante Reis, Lisboa,Foto: DW/J. Carlos

Certamente terá na sua casa madeira em equipamentos como móveis, o pavimento da sala ou do quarto. Pode mesmo encontrar madeira na decoração de bens de luxo como nos iates ou em automóveis de alta cilindrada. Essa madeira poderá ser importada de África e, de acordo com a Global Witness, "a sua importação é ilegal." A Associação dos Industriais da Madeira e Mobiliário de Portugal já reagiu ao relatório referindo que as importações portuguesas estão devidamente controladas e de acordo com as normas europeias.

O Mogno é um tipo de madeira de alta qualidade proveniente do Congo

Na Almirante Reis, uma das mais comerciais avenidas de Lisboa, o negócio de móveis diminuiu devido ao baixo poder de compra da classe média. Agora, os imigrantes e turistas africanos são os principais compradores.
Rui Nunes é proprietário da Movelar Decorações, o mais antigo estabelecimento daquela avenida. Mantém a loja aberta mas está sem clientela, apesar de comercializar mobiliário clássico feito com madeiras de alta qualidade, entre as quais o Mogno. “Tenho Nogueira, Cerejeira e tenho Palo Santo, são as melhores madeiras”, considera Rui Nunes.
Palo Santo é uma madeira aromática muito rara proveniente da América Latina. Outras madeiras são provenientes de África, como o Mogno que é um tipo de madeira original do antigo Zaire, atual República Democrática do Congo (RDC), “sim e noutros tempos vinha da Guiné. O Mogno é que era muito bom. Fez-se móveis muito bons. Vinha do Congo e da Angola também”, declara o empresário da Movelar que diz não saber que a madeira da RDC é importada ilegalmente. “A fabrica compra as madeiras isso já e um pormenor da fabrica que por sua vez compra às firmas que importam. Não tenho conhecimento disso (se é ilegal ou não).”

Rui Nunes
Rui Nunes, proprietário da Movelar Decorações.Foto: DW/J. Carlos

Exploração ilegal é sistemática

O mais recente relatório da Global Witness revela que os líderes de empresas europeias e americanas poderiam enfrentar pesadas multas ou até risco de prisão devido à sua relação com sociedades florestais congolesas acusadas de envolvimento na exploração ilegal sistemática das florestas tropicais. Tais sociedades são também acusadas, por essa via, de cometerem danos sociais e ambientais, ao violarem os regulamentos de proteção das florestas.

Em 2014, de acordo com aquela organização não-governamental inglesa, a matéria-prima da RDC, comercializada na Europa e nos Estados Unidos, rendeu pelo menos 19,8 milhões de euros, apesar da legislação do comércio internacional preservar tais mercados.

Segundo o relatório da Global Witness, Portugal é um dos destinatários mais importantes de madeira ilegal proveniente da RDC. Vítor Poças, presidente da Associação dos Industriais da Madeira e Mobiliário de Portugal, considera se tratar de uma falsa questão, dada a conjuntura atual: “É natural que num período de transição e de implementação deste novo sistema de diligência devida tenha havido algumas falhas no controlo. Algum desconhecimento também se calhar de alguns empresários. Se calhar alguns negócios que foram feitos no passado que depois foram levados a concluir ultrapassando algumas barreiras legais. Estou convencido que neste momento com o esforço que tem sido feito de divulgação destas mediadas, essas situações tendem a ser eliminadas”, considera Vitor Poças.

Vitor Poças
Vitor Poças, presidente da Assoçiação dos Industriais da Madeira e Mobiliàrio de PortugalFoto: DW/J. Carlos

Danos ambientais irreversíveis quando não se cumprem as regras florestais

A DW-Àfrica contatou a Quercus que respondeu por escrito dizendo que Portugal deve cumprir o regulamento europeu das madeiras, efetuando inspeções ativas nos portos de entrada de madeira originária da bacia do Congo, nomeadamente os portos de Viana do Castelo e Leixões, mas também junto das empresas operadoras que importam e depois comercializam.
Numa nota, assinada por Domingos Patacho, a organização ambientalista não-governamental portuguesa refere que “o problema da exploração ilegal de madeiras em florestas tropicais é preocupante, dado as mesmas albergarem uma elevada biodiversidade e contribuírem bastante para a regulação do ciclo da água e do sistema climático ao nível global.”

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