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Eleições na diáspora: O que pensam os angolanos na Alemanha

Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
18 de agosto de 2022

Eleições gerais de Angola terão, pela primeira vez, participação de cidadãos na diáspora. Dezoito mil eleitores são aguardados nas urnas nas representações diplomáticas de Angola, mas mais de 300 mil não poderão votar.

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Angola Präsidentschaftswahlen Wahllokal Wähler
Foto: Reuters/S. Sibeko

Serão as quintas eleições da história de Angola. O ficheiro definitivo do registo eleitoral contabiliza quase de 14 milhões e 400 mil eleitores habilitados a votar nas eleições gerais de 2022. Cerca de 18 mil angolanos poderão votar no estrangeiro. E a expectativa é grande.

O angolano Justino Cafaya, de 51 anos, reside há quatro anos em Berlim. Irá votar nas primeiras eleições angolanas na diáspora.

"Eu espero que todos os angolanos que se inscreveram possam efetivamente comparecer nas suas respetivas Embaixadas para exercermos o nosso direito cívico. Também estou na expetativa que estas eleições possam ocorrer de uma forma justa, ordeira e transparente, sem violência e sem fraudes", diz Justino Cafaya.

As estimativas iniciais apontavam, no entanto, para mais de 300 mil cidadãos angolanos a serem registados no exterior - um número muito distante dos 18 mil que foram registados. Durante uma conferência realizada no final do mês de maio em Luanda, o diretor nacional do Registo Eleitoral Oficioso, Fernando Paixão, salientou a enorme complexidade do processo, lembrando que o registo decorreu em plena pandemia de Covid-19.

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Frustração e ceticismo

O educador Augusto Munjunga, de 57 anos, veio para a antiga República Democrática Alemanha (RDA) em 1987, antes da reunificação. Diz que também gostaria de votar, mas não conseguiu reunir a documentação necessária.

"Nós aqui na diáspora circulamos mais é com o passaporte. Mas nesse caso, (as autoridades) exigiram que a pessoa votasse com o Bilhete de Identidade. Quando eu tratei o meu assento já foi tarde," explica. "Foi bom o que a Embaixada de Berlim fez de podermos tratar lá os nossos bilhetes," ascrescenta. "Mas, mesmo assim, não consegui", lamenta o educador.

Oliveira Domingos Manuel vive na Alemanha desde 2002 e reside na cidade de Frankfurt. Também este angolano não irá votar e critica o processo de registo eleitoral no estrangeiro.

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"O terrível é como o processo do registo eleitoral ocorreu, de uma forma limitada, que não permitiu a milhões de angolanos se registarem – sobretudo os que estão no exterior," critica. "As coisas foram feitas rapidamente. Não houve acompanhamento dos representantes dos partidos políticos no exterior, nem tão pouco a sociedade civil fez-se sentir. Portanto, isso coloca as pessoas mesmo num ceticismo", considera Domingos Manuel.

Já o angolano residente em Berlim Neves "Zerocha" Quitando, que vive há 36 anos na Alemanha, diz que optou por não participar no processo eleitoral por discordar da exigência do Bilhete de Identidade para a votação na diáspora.

"Eu sempre fui apologista de que o imigrante angolano, para obter o cartão eleitoral, apresentasse simplesmente o passaporte e o cartão consular. Mas isso não aconteceu porque faltou vontade política. Não se fez porque o regime não tem a diáspora ao seu lado. Mas, seja como for, continuo engajado neste processo eleitoral", afirma.

Defender a democracia

Mas Justino Cafaya, que ouvimos no início desta reportagem, pensa diferente. Para ele, votar é o caminho para fortalecer a democracia.

"Eu vou votar e apelo a todos os angolanos que estão na diáspora para que não se desanimem com as notícias que ouvem aqui ou acolá e não desistam desta oportunidade única que temos de exercer o nosso direito cívico", conclui.

As eleições gerais de Angola estão marcadas para 24 de agosto.

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