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Encerramento de mesquitas em Moçambique: Justa ou exagerada?

Nádia Issufo
22 de novembro de 2017

Conselho Islâmico de Moçambique contesta encerramento de mesquitas em Pemba e diz que problema do radicalismo está nas pessoas e não nas mesquitas. Já Severino Ngoenha acha aceitável o encerramento para evitar excessos.

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Mesquita da baixa na cidade de Maputo (foto meramente ilustrativa)Foto: picture alliance / Andrew McConnell/Robert Harding

Na útima sexta-feira (17.11.) as autoridades moçambicanas encerraram provisoriamente três mesquitas da cidade de Pemba e devem encerrar outras mais em Cabo Delgado. O motivo: por lá teriam passado os autores dos ataques armados de outubro passado em Mocímboa da Praia, na mesma província.

A suspeita é de que os atacantes seriam extremistas muçulmanos, alguns já identificados e detidos. Será que o encerramento das mesquitas é uma decisão justa e mais acertada? O Conselho Islâmico de Moçambique, através do seu secretário-geral Abdul Carimo, responde: "De certeza que não, o encerramento das mesquitas não é a decisão mais acertada, porque o problema não é das mesquitas."

Para o líder religioso "o problema que surgiu em Mocímboa da Praia é de pessoas e são essas pessoas que devem ser perseguidas e levadas a barra dos tribunais. As mesquitas não têm nada a ver com as atitudes daquelas pessoas."

Mosambik Wahlkommission in Maputo Abdul Carimo
Abdul Carimo Foto: DW/L. Matias

Carimo manifesta ainda a boa vontade da instituição islâmica: "Além de que, todas as congregações islâmicas estão dsponíveis para continuar a colaborar com o Governo no sentido de continuar a indicar as pessoas que estão ligadas à esse grupo."

Combater focos de radicalismo ou encerrar mesquitas?

E essas mesquitas não são frequentadas apenas por extremistas e provavelmente não terão sido criadas por eles. Identificar focos de radicalismo e possível "limpeza" não seriam as alternativas mais justas para a comunidade muçulmana?

O filósofo Severino Ngoenha responde sublinhando que "a necessidade de uma espécie de purificação não vem tanto do Estado, mas vem da própria comunidade muçulmana que começou a queixar-se, mesmo antes dos eventos de Mocímboa da Praia, a Polícia, tribunais e poderes políticos locais."

E para ele "é evidente que não se deve prejudicar a todos, mas se o encerramento temporário significa uma purificação para evitar excessos, e até permitir que aqueles que tiveram sempre uma prática do Islão dentro da regra do Estado de direito possa se re-aplicar, então é uma medida que infelizmente tem de ser tomada e pode ser que seja necessária."

Comunidade Islâmica nega radicalismo nas mesquitas

Entretanto, o líder religioso Abdul Carimo garante que "não há nenhum radicalismo no seio das mesquitas" e esclarece: "O que existem são pessoas que por sinal tentaram entrar por esse caminho do radicalismo. E um dos sinais desse grupo é que não usam as mesquitas, eles criaram os seus locais de adoração em quintais e casas de pessoas singulares para se afastarem dos restantes muçulmanos, a quem consideram muitos vezes não muçulmanos."

22.11.17. ONLINE Mesquitas Encerramento Exagero? - MP3-Mono

E Abdul Carimo sublinha que "o radicalismo deles vai a esse ponto, de tal sorte que nós, os líderes religiosos, na visão deles, não somos muçulmanos. Os crentes que frequentam as nossas mesquitas para eles também não são muçulmanos."

O secretário-geral da Comunidade Islâmica de Moçambique considera ainda que os muçulmanos, apesar de colaborarem na denúncia de extremistas, estão a ser vítimas neste caso. 

Necessidade de maior vigilância

Abdul Carimo e Severino Ngoenha recordam que o Islão é uma religião praticada em Moçambique há centenas de anos. Mas Ngoenha sublinha que o país tem uma historia de intolerância religiosa, não só com o Islão. Já para Abdul Carimo intolerância religiosa não existe no país. Para ele os ataques de Mocímboa da Praia não passaram de um caso pontual.

De qualquer forma, Ngoenha alerta: "Isso chama a atenção para a necessidade uma vigilância cada vez maior para que as leis do Estado sejam respeitadas por todos, para que todos possam ter a liberdade de praticar os diferentes cultos a que pertencem."

Entretanto, os resultados das investigações aos ataques de Mocímboa da Praia que terão morto quatro agentes da polícia e 14 atacantes ainda não são conhecidos.