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Cultura

FESPACO: Um festival sobre a força das mulheres

Katrin Gänsler | Paul Jäger | gcs
2 de março de 2017

É o maior festival de cinema africano. Este ano, são esperados mais de 100 mil visitantes para a 25ª edição do FESPACO, em Ouagadougou. Um dos filmes favoritos chama-se "Frontières" e foi realizado por uma mulher.

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Foto: DW/K.Gänsler

Este ano, os cartazes do festival de cinema FESPACO (Festival Panafricain du Cinéma et de la Télévision de Ouagadougou) estão repletos de imagens de mulheres. Umas vezes a sorrir, outras vezes a reagir com horror a situações de violações ou abusos.

O filme "Frontières" ("Fronteiras"), da realizadora burkinabé Apolline Traoré, conta a história de quatro mulheres que se conhecem num autocarro, que parte do Senegal com destino à Nigéria. O caminho é perigoso e, à medida que a viagem progride, as mulheres, oriundas de quatro países diferentes da África Ocidental, ficam a conhecer-se cada vez melhor.

Uma delas é Emma, da Costa do Marfim, que faz contrabando de tecidos para pagar os estudos aos filhos. Ela interpretada pela atriz Naky Sy Savané. "Sinto-me honrada por um filme sobre mulheres abrir pela primeira vez o FESPACO", diz. "É um reconhecimento para todas as mulheres africanas, que normalmente são condenadas a ficar à margem da sociedade."

Burkina Faso - Filmfestival Fespaco
Naky Sy Savané: "Sinto-me honrada por um filme sobre mulheres abrir pela primeira vez o FESPACO"Foto: DW/K. Gänsler

Convite à reflexão

"Frontières", tido como um dos favoritos ao prémio Étalon de Yennenga, não é o único filme em competição no festival do Burkina Faso em que as protagonistas são mulheres determinadas.

Este ano, há mais mulheres do que nunca nos filmes do maior festival de cinema africano. "Aisha", de Chande Omar, e "Felicite", de Alain Gomis, são algumas das obras em exibição nos nove cinemas que acolhem o FESPACO – filmes que convidam os espetadores a refletir sobre temas como as violações em massa ou as vidas difíceis de mães solteiras que vivem na pobreza.

A jovem realizadora senegalesa Fatou Touré Ndiaye resolveu abordar outro tema: a poligamia. "Acontece frequentemente na nossa sociedade, não é invulgar", explica. As pessoas não debatem o assunto e Ndiaye também não acredita que a sua curta-metragem "La Promesse" ("A Promessa") mude isso. Mas, pelo menos, é importante mostrar como as mulheres contemporâneas lidam com a poligamia, afirma a realizadora: "A minha experiência pessoal possibilitou-me gravar este filme."

Este ano, a segurança no festival foi reforçada. Na segunda-feira, houve dois ataques a esquadras da polícia perto da cidade de Djibou, no norte do Burkina Faso. Não se sabia ainda com clareza se houve mortos ou feridos. Os ataques têm-se tornado frequentes nos últimos meses, sobretudo nas regiões fronteiriças do norte. Mas os cineastas não abordam a questão do terrorismo nos filmes em exibição.

Outro tema praticamente ausente é a migração de África para a Europa, um assunto que preocupa muita gente no continente europeu. Mais relevantes para os realizadores parecem ser os fluxos migratórios na região da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Esse é, por exemplo, o foco do filme "Frontières", de Apolline Traoré.

Cobranças ilegais

A atriz Naky Sy Savané viveu na pele as dificuldades de viajar na região, durante a rodagem do filme. Em todas as fronteiras, pediam dinheiro à equipa – algo que é ilegal, de acordo com as normas da CEDEAO. "Há legislação, mas não é implementada", refere Savané.

A atriz sublinha, também por isso, a importância da perspetiva feminina. São as mulheres que fazem a maior parte das viagens, como vendedoras. "São pilares da integração [na África Ocidental] e derrubam fronteiras com a sua coragem."

Luta pela sobrevivência

A coragem e a luta pela sobrevivência são também temas cruciais na curta-metragem "Gerreta", de Mantegaftot Sileshi.

O filme, que recebeu em 2015 o prémio de melhor curta-metragem internacional no River Film Festival em Pádua, Itália, centra-se na história de um homem que corre pela vida, perseguido por uma multidão – tudo, para alimentar a filha.

"Se olharmos mais atentamente, vemos que o filme não é só sobre roubar para tentar alimentar a filha", explica Sileshi. A história é uma metáfora. Em amárico, "gerreta" significa "multidão", mas também "confusão" – a curta-metragem espelha o quotidiano de muitas pessoas que vivem nas zonas pobres de Addis Abeba, na Etiópia, afirma o realizador, que também é jornalista da DW África.

O festival de cinema FESPACO termina no sábado (04.03).