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Gás de Moçambique não é só para exportação

Romeu da Silva (Maputo) / Cristina Krippahl26 de junho de 2013

Moçambique aposta no gás natural para desenvolver o país. A exportação aumenta e os moçambicanos são encorajados a optar por carros a gás. Neste contexto, a falta pontual de gás de cozinha aparece como uma contradição.

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A plataforma flutuante de Saipem na Bacia do RovumaFoto: ENI East

Segundo um estudo publicado, este ano, pela universidade britânica de Oxford, as dificuldades são normais para um país onde a exploração das reservas de petróleo é incipiente, e onde, por norma, a maior parte da produção é exportada para a vizinha África do Sul. Em 2011 chegou a falhar completamente o abastecimento de gás para consumo doméstico em Maputo, Matola e Beira. O que ficou a dever-se à dependência da importação de gás refinado da África do Sul, onde se verificaram, na altura, problemas de ordem técnica.

Desde aí voltaram a registar-se falhas pontuais de abastecimento, por exemplo, na primavera de 2012. Também a distribuição interna é muito precária, segundo o mesmo estudo, de nome “Gás na África do Leste – Potenciais de Exportação”. Mas em novembro do ano passado, o Governo moçambicano anunciou um investimento equivalente a 65 milhões de dólares norte-americanos no gasoduto de petróleo liquefeito na capital, Maputo, para aumentar a capacidade de receção de gás de cozinha e facilitar a distribuição pelo resto do país.

Gás suficiente para exportação e uso doméstico

Em todo o caso, e nisso os especialistas estão de acordo, Moçambique tem reservas suficientes de gás para garantir o abastecimento interno e a exportação. Não obstante, as projeções mais otimistas apontam 2015 como o ano em que Moçambique poderá começar a produzir 100 milhões de toneladas de por ano, iniciando a exploração efetiva das reservas com um valor calculado em 350 mil milhões de euros.

A grande maioria dos carros em Moçambique funciona com combustível convencional
A grande maioria dos carros em Moçambique funciona com combustível convencionalFoto: DW/Johannes Beck

Um primeiro pequeno passo no fomento do uso doméstico começou já a ser dado com a conversão que habilita carros movidos a combustíveis fósseis a funcionar com gás. O número de automobilistas que prefere usar gás natural nas suas viaturas cresce em Moçambique. Nada mais normal numa altura em que o país se está a transformar num grande produtor deste recurso natural, considerado estratégico para fazer face à volatilidade dos preços dos combustíveis líquidos no mercado internacional.

Automobilistas encorajados a converterem carros

A Autogás, empresa, em parceria com o Governo, se encarrega de converter viaturas para usarem gás, esforça-se por sensibilizar os automobilistas a recorrerem ao gás natural. Segundo dados divulgados pela empresa, trata-se de esforços coroados de êxito, já que a frota de viaturas movidas a gás tende a crescer em Moçambique.

O gás é ainda uma promessa futura
O gás é ainda uma promessa futuraFoto: picture-alliance/ dpa

Por detrás da campanha está a ideia do governo de fazer face aos elevados custos de combustíveis líquidos, como a gasolina e o diesel, que têm que ser importados. O preço dos combustíveis aumenta: atualmente, o litro de gasolina custa o equivalente 1,20 euros, enquanto a mesma quantidade de gás natural custa 0,35 euros.

Apesar de algumas dificuldades iniciais de conversão, já há automobilistas a usar o gás natural, e alguns contaram à DW-África a sua experiência. Avelina Mavie está satisfeita: “Não sei dizer exatamente os valores, mas é a metade do que eu costumava usar”. E também Romeu Maluleque diz não ter razão de queixa: “Tivemos dificuldades nos primeiros tempos. Como o sistema era novo, e os centros de conversão eram novos, também não estavam tão abalizados. Mas não temos tido complicações”.

Melhor para o meio-abiente e para o porta-moedas

As emissões de gases poluentes para a atmosfera resultantes da queima de combustíveis fósseis reduzem com o uso do gás natural. O Governo moçambicano quer aproveitar agora também a quota das reservas de gás natural de Temane, na província meridional de Inhambane. João das Neves da Autogás diz que todos deviam usar este combustível: “O que nós podemos garantir é que substituindo o combustível convencional por gás é possível de facto reduzir os custos totais da operação num valor superior a 30%”. Segundo o responsável, trata-se de um valor que relativiza muito o custo da conversão do carro: “E é isso que deve ser dinamizado”.

Rumo ao campo de gás de Pande
Rumo ao campo de gás de PandeFoto: DW/Johannes Beck

Neste momento são mil viaturas movidas a gás, das quais 150 pertencem à empresa dos transportes públicos de Maputo. As restantes são de instituições privadas e públicas, bem como de singulares. A Autogás estima que a frota de viaturas movidas a gás atingirá as 800 mil viaturas até 2020, diz João das Neves: “Achamos que é chegado o momento daquelas empresas que importam viaturas começarem a desempenhar também o seu papel, importando viaturas de fábrica que circulem a gás, para que estejam disponíveis no stands de venda”.

Mais postos de abastecimento

Muitos automobilistas ainda hesitam em comprar ou converter as suas viaturas para funcionarem a gás por pensarem que não terão assistência, nem postos de abastecimentos em número suficiente.

Gás de Moçambique não é só para exportação

A Autogás, garante que neste momento estão a ser construídos mais postos de abastecimentos e centros de conversão, e promete ainda assistência técnica: “Estamos a fazer esse trabalho gradual. Não vai haver crescimento de postos sem que haja consumidores. Mas temos estado a tentar acompanhar o nível de crescimento de consumidores com mais postos para aumentar o conforto do abastecimento”.