1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Há cada vez mais casas nos cemitérios de Benguela

Nelson Sul d'Angola (Benguela)17 de junho de 2015

Num cemitério da cidade angolana, 70% do espaço está ocupado com casas de pessoas que dizem não ter outro sítio onde construir. "Construímos em cima das campas por causa da falta de terrenos", diz um habitante.

https://p.dw.com/p/1Fimx
Construções no cemitério comunitário do bairro Viva Paz, nos arredores de BenguelaFoto: DW/N. Sul d' Angola

Há cada vez mais cidadãos que, na ânsia de realizarem o sonho de ter uma casa própria, constroem as suas habitações em zonas reservadas para os mortos, em cemitérios comunitários.

No município de Benguela, vários cemitérios têm vindo a desaparecer aos poucos à medida que se multiplicam as construções. No cemitério comunitário do bairro Viva Paz, nos arredores da cidade, 70% do espaço já foi ocupado.

O fenómeno é antigo e as razões para a construção das casas são várias. Segundo um residente do cemitério, é difícil obter terrenos e há um excesso de burocracia.

"Não tenho outro sítio onde me possa dirigir para construir. Construímos em cima das campas por causa da falta de terrenos, que não temos", disse Benvindo Manuel, nome fictício de um interlocutor que ergueu a sua casa, com um quarto e uma sala, sobre o cemitério comunitário do bairro Viva Paz.

Críticas

A construção de habitações sobre as campas de alguns cemitérios comunitários na província de Benguela é duramente reprovada por vários populares.

"Eles estão a fazer a casa deles por cima de outra pessoa, não acho isso nada bom", disse um habitante à DW África.

Há ainda opiniões contraditórias quanto à falta de terrenos na cidade: alguns populares admitem que essa seja a razão da construção por cima dos cemitérios; outros classificam o ato de oportunismo, pois "falta de terreno, não há. Benguela tem muito terreno".

O sociólogo Martinho Mbangula tem uma opinião diferente.

[No title]

"Nenhuma pessoa sã, que sabe que pode pedir à administração um terreno numa zona segura, vai viver voluntariamente naqueles lugares inóspitos. Acho que essas pessoas são um bocadinho forçadas", diz.

No entanto, "isso não pode justificar esse comportamento desrespeitoso, até do ponto de vista religioso e cultural, de invadir o espaço dos mortos."

Autoridades devem agir, segundo sociólogo

Mbangula diz que, por um lado, é preciso sensibilizar as pessoas para que elas respeitem os mortos. Por outro lado, segundo o sociólogo, é preciso mostrar-lhes terrenos onde elas possam construir.

"O administrador vive aqui em Benguela, há funcionários da administração municipal que vivem eventualmente nestes bairros distantes. Portanto, eles sabem disso. O bairro não nasceu em duas horas. [As autoridades] só não fizeram nada porque, eventualmente, não têm alternativa. Portanto, precisamos de fazer uma reflexão mais profunda sobre isso", conclui.