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Independentistas de Cabinda acusam tropas angolanas de rapto

António Rocha
9 de março de 2017

As Forças Armadas de Cabinda reivindicam a autoria de ataques contra militares angolanos. Denunciam que "civis inocentes" foram presos pelas autoridades de Angola, sob pretexto de apoiarem os guerrilheiros.

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Foto de arquivo: Exército angolanoFoto: Getty Images

Num "comunicado de guerra" enviado às redações e assinado pelo designado tenente-general Alfonso Nzau, os independentistas de Cabinda afirmam que os dois ataques, esta semana, provocaram 10 mortos, entre os militares angolanos. Uma informação que a DW África não conseguiu confirmar junto das autoridades angolanas em Cabinda, apesar das tentativas.

Segundo a Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), forças militares angolanas estão a operar na República do Congo (ou Congo Brazzaville) e na República Democrática do Congo.

Com base em informações recolhidas pela FLEC/FAC, na madrugada de quarta-feira (08.03), tropas angolanas penetraram na República Democrática do Congo e "raptaram" o refugiado cabindense Isidoro Liba Mabaya. É acusado de pertencer à FLEC/FAC, na aldeia de Kai-Nganga, a cerca de três quilómetros da fronteira Mbaka-khose, entre a província congolesa do Baixo-Congo e Cabinda.

Cabinda - OL - MP3-Mono

Tomás, nome fictício de um outro refugiado angolano na região, contou à DW África o que viu. "Passei na região e elementos das Forças Armadas Angolanas forçaram a porta [da casa] deste senhor Mabaya e capturaram-no. Na mesma altura, foi alvejado com dois tiros numa das pernas", relata Tomás.

Segundo o refugiado, as incursões do exército angolano na República Democrática do Congo são frequentes. "Nós, os refugiados angolanos aqui na República Democrática do Congo, estamos a sofrer. As tropas angolanas pensam que todos os refugiados são militantes da FLEC", afirma Tomás, nome fictício. Contudo, "a FLEC existe dentro de Cabinda e não no Congo Democrático”, defende o refugiado angolano.

Um enclave apinhado de tropas

O ativista Cabinda, José Marcos Mavungo, afirmou que atualmente se vive no enclave angolano uma grande tensão. "Os populares estão sempre a falar de ações armadas, ataques. As informações circulam diariamente. As áreas entre Bitcheque e Massabi e também entre Bitcheque e Belize estão apinhadas de tropas angolanas", descreve Mavungo.

Segundo o ativista, no início do ano, "o comando da região militar recomendou às tropas para estarem em prontidão”.

No entanto, as forças militares "não dizem publicamente que há confrontos, aliás dizem que não há guerra", o que "não passa de uma hipocrisia para se esconder a situação que se vive" em Cabinda, acrescenta Marcos Mavungo.

Situação poderá piorar com as eleições

Menschenrechtler Marcos Mavungo
Marcos Mavungo afirma que há relatos diários de ações armadas em CabindaFoto: DW/J. Carlos

Esta situação de tensão em Cabinda coloca em perigo a vida dos ativistas no enclave. "Quando há este tipo de casos, eles [as autoridades] viram-se sempre contra nós, dizendo que os ativistas é que inventam coisas, como prisões e detenções arbitrárias, julgamentos injustos, perseguições, um clima de medo. Tudo isto é uma forma de governar ou criar medo no seio das populações, amedrontar os ativistas. É esse o estilo de governação que temos neste momento em Cabinda”, critica o ativista.

E em ano de eleições gerais em Angola, Marcos Mavungo acredita que a situação em Cabinda e no resto do país vai piorar.

Vai "ser muito mais complicado porque, em princípio, tanto em Cabinda como no resto de Angola, não há condições para a realização de eleições neste momento”, diz Mavungo.

Não há condições "porque o Governo açambarcou todo o dinheiro do país, os meios de comunicação social, a administração". Cenário que em Cabinda "ainda é mais complicado por causa do conflito", remata Marcos Mavungo, que esteve mais de um ano preso.

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