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Que políticas tem João Lourenço para Angola?

Nádia Issufo
8 de dezembro de 2017

Angola está a entrar numa fase de normalização da política, considera o sociólogo angolano Paulo Inglês. Defende que o país precisa de sair da política de espetáculo para começar a discutir questões de fundo.

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João Lourenço, Presidente de AngolaFoto: DW/ A. Cascais

A DW África conversou com o sociólogo Paulo Inglês, a propósito da nova era em Angola, sob os comandos do Presidente João Lourenço. Paulo Inglês é investigador da Universidade de Bayreuth, na Alemanha.

DW África: Já se vêem em Angola os chamados "Eduardistas", contrariados, alguns até a chamaram a atenção ao Presidente, na imprensa, para ter mais cautela com as suas medidas, tal como há outros a alinharem do lado de João Lourenço. Há um risco de confrontação no seio do MPLA?

Paulo Inglês (PI): Estamos a entrar numa fase de normalização da política. Isso quer dizer que devia ser normal ter ideias diferentes sobre como o Presidente usa o poder. Podia ser discutido dentro do partido [MPLA] e fora, mas como vivemos durante muitos anos numa situação de anormalidade o voltar ao normal é visto como anormal. De facto, tem aparecido gente que acha que as mudanças do Presidente têm sido muito rápidas e, de certa maneira, de confronto, mas a questão é que podem haver opiniões diferentes dento do MPLA sobre como o Presidente exerce o seu poder, só que isso nunca houve no passado. Quem criticasse o Presidente [José Eduardo dos Santos], como o próprio João Lourenço criticou antes de ser Presidente, era posto de lado durante muitos anos.

DW África: João Lourenço mexeu no tesouro de José Eduardo dos Santos, ao demitir Isabel dos Santos da Sonangol, entre outras medidas que a afetaram, e ao por termo ao contrato entre empresa de Tchizé dos Santos e TPA2. Falta o Zenú no Fundo Soberano...

Paulo Ingles
Paulo Inglês, sociólogo angolanoFoto: DW/N. Issufo

PI: Houve rumores de que ele apresentaria livremente a sua demissão, depois surgiu um comunicado dele a dizer que não apresentaria a demissão. Se ele fosse exonerado do Fundo Soberano não seria uma surpresa. Além disso, há suspeitas muito graves sobre o uso do dinheiro do Fundo Soberano e, portanto, o Presidente podia, pelo menos, abrir uma investigação, avaliação ou auditoria ao Fundo Soberano e depois tomar uma media para não se pensar que é uma coisa pessoal contra o ex-Presidente e a sua família. Já que houve estas suspeitas [vindas] de fontes muito credíveis. O Presidente devia fazer uma auditoria, tão simples como isso. E assim sairiamos um pouco dessa política de espetáculo e entrariamos em questões de fundo: se o Fundo Soberano foi bem usado segundo as regras, se houve mau uso do dinheiro público, o que se passa? Acho que seria uma maneira de entrarmos em políticas mais sérias.

DW África: O que perspetiva para Angola, sob o ponto de vista social, nesta nova era?

Que políticas tem João Lourenço para Angola?

PI: Nós estamos numa espécie de transição, estamos naquela fase em que já não estamos no passado mas ainda não estamos no novo, estamos no intermédio. Estamos a ver onde isso vai dar. Até agora, de facto, o Presidente não mostrou claramente que tipo de políticas é que tem para o país. As exonerações não são muitas claras, se o Presidente tem em vista, por exemplo em relação a Sonangol, uma política de longo prazo, em que a exoneração de Isabel dos Santos é parte dessa política ou se é só querer ganhar espaço para se desfazer de pessoas antigas. Agora, se de facto a ideia do Presidente é mostrar que tem políticas de fundo e para isso tinha de tirar essas pessoas, eu acho que a perspetiva é boa, mas isso só o tempo dirá. E há muita expetativa em relação aos setores sociais, por exemplo, a ministra da Saúde demitiu os diretores dos hospitais públicos. A questão é a mesma, se isto de facto é porque há um plano de fundo para o hospital público, então eu acho que está no bom caminho.

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