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Ken Saro-Wiwa foi executado há 20 anos

Birgit Morgenrath / Madalena Sampaio9 de novembro de 2015

Na madrugada de 10 de novembro de 1995, o escritor nigeriano Ken Saro-Wiwa e oito ativistas cívicos foram enforcados. Protestavam de forma não-violenta contra a poluição causada pelas petrolíferas no delta do rio Níger.

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Ken Saro-Wiwa
Foto: picture-alliance/dpa

"O mundo viu como o povo Ogoni se revoltou. Viu que o Governo nos engana e que a Shell está a destruir-nos", disse o ativista Ken Saro-Wiwa na sua última mensagem. "Não vamos lutar com machetes, a nossa luta é baseada na compreensão e na paz. Não deverá ser derramado sangue."

Ken Saro-Wiwa, antigo funcionário do Governo e também produtor de televisão, pertencia ao grupo étnico Ogoni, do delta do rio Níger, tal como os seus oito companheiros de luta enforcados. Lutavam pelos direitos deste povo e protestavam de forma não-violenta contra a poluição causada pelas petrolíferas.

O escritor de 54 anos e os oito ativistas de Ogoni foram condenados a 31 de outubro de 1995 por um tribunal militar nomeado pelo regime, acusados de terem incitado ao assassinato de quatro anciãos.

Foram condenados apesar dos múltiplos protestos internacionais e da diplomacia silenciosa de organizações internacionais, incluindo a União Europeia (UE). Segundo testemunhas, Saro-Wiwa cantou o hino do seu povo quando foi levado para a forca.

A guerra das petrolíferas

Ken Saro-Wiwa liderava o Movimento pela Sobrevivência do Povo Ogoni (MOSOP), que denunciou a "guerra ecológica das multinacionais petrolíferas", liderada pela Shell, no delta do Níger. Uma luta que lhe valeu a atribuição do Prémio Nobel Alternativo, em 1994.

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Em 1958, as petrolíferas começaram a transformar as terras férteis de Ogoni - que segundo Saro-Wiwa eram um "paraíso" - numa paisagem lunar negra. As operações de produção de petróleo contaminaram o solo. E a exploração irresponsável trouxe aos camponeses pobreza e doenças.

O MOSOP exigiu que as áreas danificadas fossem reabilitadas e que a população também partilhasse os lucros do petróleo. Lucros que até hoje constituem cerca de 90% das receitas do Governo, através das quais vários regimes militares e elites corruptas financiam as suas vidas luxuosas.

Indemnizações da Shell

A 4 de janeiro de 1993, 300 mil pessoas manifestaram-se para exigir o pagamento de indemnizações e a reparação de danos ambientais. O regime do ditador Sani Abacha reagiu com violência aos protestos e também ocupou a região dos Ogoni.

Dois anos mais tarde, Ken Saro-Wiwa e oito dos seus companheiros de luta seriam enforcados. Só 15 anos depois destas mortes a Shell pagou uma indemnização de 15,5 milhões de dólares aos familiares do escritor e dos ativistas. Um acordo extrajudicial para evitar uma ação por violações dos direitos humanos.

Segundo a ONU, ainda serão precisos pelo menos 30 anos para superar os danos ambientais no delta do Níger.

Shell Öl Umweltverschmutzung Niger River Delta in Nigeria
Poluição petrolífera em Bodo, Ogoniland, na região do delta do NígerFoto: Getty Images