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Kizomba chega à Universidade de Colónia

Rita Himmel29 de maio de 2014

Nas pistas de dança por todo o mundo, o Kizomba tem conquistado públicos cada vez mais diversificados. A dança angolana já é tão apreciada na Alemanha, que a Universidade de Colónia a incluiu na oferta desportiva.

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O professor de Kizomba, Yossinho, na aula de dança na Universidade de ColóniaFoto: DW/R. Fochtman

Quando deparados com a escolha da atividade física a desempenhar durante o ano letivo, os estudantes da Universidade de Colónia são confrontados com uma lista bastante extensa e diversificada. Para além do desporto em equipa, desporto aquático ou mesmo artes marciais, há mais de 25 estilos de dança para aprender através do gabinete desportivo da instituição. Juntamente com as mais tradicionais aulas de ballet, salsa ou jazz, desde abril de 2014 é também possível participar num curso de Kizomba.

Para 18 estudantes de Colónia, num quente fim de tarde de primavera, no último andar do edifício da cantina universitária, está na hora de mais uma aula de Kizomba. O professor Yossi, mais conhecido por (DJ) Yossinho, aproveita o compasso de espera antes da chegada dos alunos para preparar uma aula um pouco diferente. Coloca o computador e as colunas no centro da sala ampla e abafada, ainda que vazia, e abre a porta que dá para um estreito terraço com vistas sobre o campus.

Quando a turma está completa, todos se dirigem para a sala de aula improvisada, com a batida ritmada e lenta da música a ecoar através da porta aberta. As alunas colocam-se em fila de frente para a fila de alunos, e, seguindo o exemplo de Yossinho, relembram os passos básicos do Kizomba, antes de se juntarem em pares, para repetirem a mesma sequência, sem grandes dificuldades.

Até agora, tudo parece bastante fácil, os pés movimentam-se coordenadamente ao ritmo da música tanto os delas como os deles. Até o professor dar novas indicações: as coxas juntam-se mais, os pés cruzam-se, os passos complicam-se, e os risos propagam-se à medida que os alunos tentam acompanhar a nova lição.

Mais difícil do que parece

"Tal como noutros tipos de dança, para as mulheres é difícil deixar-se conduzir e para os homens é difícil conseguir conduzir, o que nós chamamos leading e following”, explica Yossinho. Mas essa não é a única, nem mesmo a principal dificuldade para quem aprende Kizomba. “Temos que nos envolver nesta ligação, neste contato. É uma dança muito sensual, e, no início, estamos um pouco envergonhados, e não estamos habituados”, continua.

Kizomba-Unterricht Uni Köln
Professor Yossinho (centro esq.) dá indicações à turma de KizombaFoto: DW/R. Fochtman

A dificuldade com essa proximidade é especialmente visível de cada vez que o professor anuncia “troca de parceiro”, e cada par tem que procurar de novo uma sintonia. Há mais alunas que alunos, e quem fica de fora tem de esperar, ou praticar com um par invisível os seus passos, até haver nova troca da parceiros.

Uma das alunas é Alina, uma estudante de Design Management de longos cabelos loiros, já experiente no mundo da dança, e para quem, não é a nível da coordenação motora, que o Kizomba pode trazer dificuldades: “Eu acho que para algumas pessoas é difícil ultrapassar a inibição, de estar mais perto de uma pessoa que não conhecemos. Para mim isso é o mais difícil, se não simpatizo com uma pessoa e mesmo assim tenho de dançar tão perto dela. Mas relativamente aos passos não acho difícil, até porque também dançamos salsa, uma dança que eu acho que é muito mais difícil”.

De facto, diferentemente de estilos como a salsa, o Kizomba baseia-se em movimentos subtis, e numa sensualidade baseada na ligação do par. A música tem uma batida forte mas lenta e as letras geralmente falam de relacionamentos amorosos. Para Alina, a música é um dos elementos de que mais gosta para além “da sequência de passos que é dançada de uma forma muito próxima da terra, enraizada no chão”. “E também é bonito de ver”, acrescenta a aluna.

Ritmo e origens

Yossinho também se encantou com a música. Há muitos anos professor de salsa entre Colónia e Bona, na Alemanha, onde foi também estudante universitário, o israelita entrou pela primeira vez em contacto com esta dança angolana quando, enquanto DJ, esteve a por música num festival de salsa em Edimburgo, em 2010. Desde então, fez um curso no Porto, em Portugal, e empenhou-se em trazer professores de Portugal e de outros países europeus para dar formações na Alemanha. O primeiro curso regular de Kizomba no estado alemão de Renânia do Norte-Vestefália decorreu em Bona. “O curso foi muito bem aceite e o entusiasmo é mesmo enorme na Alemanha e nos últimos tempos toda a gente quer dançar Kizomba, o que me alegra”, conta o DJ.

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Par de alunos de Kizomba aprende a dança angolana na UniversidadeFoto: DW/R. Fochtman

O Kizomba nasceu do Semba, muito popular nos anos 50 e 60, em Angola, que levava os casais a dançar e forma muito próxima durante as musicas mais lentas. O semba, assim como outros estilos, era dançado em festas conhecidas como kizombadas, e pela mistura com outras musicalidades como o Zouk, acabou por surgir o Kizomba.

Aliás, o Zouk é muitas vezes confundido com o estilo africano, mas teve origem nas Antilhas, e tem uma forte presença em Cabo Verde, tendo também uma versão brasileira com fortes ligações com a lambada. Através de artistas como Eduardo Paím, o Kizomba ultrapassou as fronteiras de Angola, tendo já muita implementação, por exemplo, em Portugal.

Para o professor, que já viveu uns anos no Brasil, a ligação com o Kizomba tem várias explicações: “Eu adoro a música, principalmente. Também tenho uma ligação pessoal, talvez, à língua. Estive muito tempo no Brasil. Eu acho que a música de Kizomba é super bonita, acho que é muito social, com isso quero dizer que não é preciso saber fazer muita coisa antes de podermos dançar Kizomba com alguém numa festa. Podemos desfrutar de uma festa logo passado duas ou três horas de workshop. Adoro a ligação, aquele contacto com a parceira, que é algo que nos falta um pouco no dia-a-dia. E é ótimo poder ir para qualquer lado e dançar e partilhar esta paixão com outras pessoas”.

De passagem ou para ficar?

As histórias de estilos musicais ou de dança que arrastam públicos durante algum tempo e depois desaparecem totalmente são frequentes. Será que é isso que se vai passar também com o Kizomba? A verdade é que o Kizomba já existe há várias décadas. E, para além das pistas de dança de discotecas em toda a Europa, o estilo parece estar também a entrar no currículo de escolas de dança especializadas e não só, como é o caso da Universidade de Colónia.

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Tendo estado envolvido na incorporação da dança na Alemanha, Yossinho não vê o Kizomba como uma simples moda passageira, fazendo a comparação com Portugal, onde o estilo já existe há muitos anos e continua a crescer, e mesmo outras cidades europeias como Londres onde há cada vez mais adeptos.

“Houve na Alemanha há algum tempo, uma moda forte de Zouk, zouk brasileiro, lambazouk, havia mesmo muitas festas de Zouk, onde as pessoas só podiam dançar Zouk. Mas não era como é agora com o Kizomba. Felizmente, muitos organizadores de festas de salsa oferecem salas para Kizomba, mas também temos festas exclusivamente de Kizomba, em Bona, em Colónia e nos arredores, que são muito divertidas. Eu acho que o Kizomba veio para ficar”.

De um anexo às festas de salsa, o Kizomba lentamente vai ganhando o seu próprio espaço na região. Os alunos de Yossinho, conta Alina, já prometeram tornar-se clientes das festas de Kizomba, juntamente com todos os outros habitantes que se renderam às kizombadas.

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A boa disposição ajuda a ultrapassar as dificuldades de aprender uma nova dançaFoto: DW/R. Fochtman