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Moçambique: Comando operativo em Cabo Delgado é suficiente?

11 de junho de 2018

Em todas as povoações dos distritos de Cabo Delgado afetados foi reforçada a presença das Forças de Defesa e Segurança. O objetivo é combater os grupos armados que já mataram, pelo menos, 24 pessoas.

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Mosambik, Macomia: Mucojo village had houses destroyed by armed groups
Foto: Privat

Citado esta segunda-feira (11.06) pelo jornal Notícias, o ministro moçambicano do Interior, Basílio Monteiro, declarou que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) aumentaram a sua presença nas áreas atingidas pela violência perpetrada por grupos armados radicais.

"Passamos a ter uma presença mais forte, fizemos uma análise do que está a acontecer no terreno e identificámos algumas linhas de fraqueza, mas apostamos nos pontos fortes que caracterizam as operações que estão em curso", afirmou Basílio Monteiro.

O comando operacional para os distritos de Macomia e Quissanga, prosseguiu, está reforçado e a trabalhar para produzir resultados em breve.

Em todas as povoações dos distritos afetados foi reforçada a presença das FDS para garantir segurança às populações, acrescentou o ministro do Interior de Moçambique.

Basílio Monteiro está em Cabo Delgado desde a semana passada para acompanhar de perto as ações de perseguição contra grupos armados que nos últimos dias mataram pelo menos 24 pessoas em Cabo Delgado, algumas das quais decapitadas.

Falámos com o filósofo e analista moçambicano Severino Ngoenha acerca do tema.

DW África: O ministro do Interior, Basílio Monteiro, anunciou a instalação de um comando operacional por parte das Forças de Defesa e Segurança nos municípios de Macomia e Quissanga, na província de Cabo Delgado. Esta é uma ação suficiente para combater este problema, numa altura em que os ataques já atingiram proporções preocupantes?

Severino Ngoenha (SN): O que aconteceu era necessário. O ministro dirigiu-se ao local e imagino que no local trabalhou com o exército, o ministro do Interior, o ministério da Segurança e até com alguns protagonistas políticos, como as instituições locais e as comunidades, e tomou esta decisão. Agora, se é necessário é, porque existem duas questões que se podem colocar. A primeira é se chega ou não tarde. Pode-se fazer especulações mas aconteceram coisas imprevistas e as primeiras indicações que surgiram, em termos de avaliação que foram feitas pelos diferentes serviços, é que se tratava de algo que parecia que não ia perdurar, alastrar-se, como aconteceu. Neste sentido, pode-se dizer que chega atrasado. A outra coisa é se é suficiente e, neste ponto, não estamos em condição de saber. A única coisa que é certa é que, dada a natureza do fenómeno, o incómodo que ela significa, alguma coisa teria que ser feita. A solução policial, o facto de tentarmos parar com isso, é óbvio que tem que ser posto em prática, mas ao mesmo tempo tem que ser acompanhado de medidas de compreensão. Um esforço real exaustivo para compreender esse fenómeno e quais são as suas causas profundas. Só assim poderemos lutar contra eles.

Governo reforça comando operacional no norte

DW África: Portanto, o que está a dizer é que um dos grandes problemas, neste momento, é o desconhecimento da causa real destes fenómeno?

SN: Quero dizer que há muitas interpretações, todas fragmentadas, há quem diga que é o Al-Shabaab, outros dizem que são movimentos de pessoas descontentes internamente, outros ainda afirmam que é a combinação das duas ideias, e há quem se aventura a dizer que se trata de uma mão externa.... todas elas podem ser verdadeiras como falsas. Por isso precisamos de entender o que está a acontecer no terreno para podermos estar armados, não simplesmente com pistolas, espingardas e polícias para combater, mas também com terapias de caráter social e económico. Se é esse o problema então o verdadeiro combate não pode limitar-se a pistolas, espingardas e à polícia, mas temos que ter posições sociais e políticas da parte das autoridades que governam para satisfazer, e talvez criar uma maior integração, uma maior participação das populações, por forma a tranquilizá-las.

DW África: A ação deste comando incidirá nos distritos de Macomia e Quissanga. É suficiente ou devia ser alargada a toda a província?

SN: Primeiro, muito dificilmente eles [FDS] serão capazes de cobrir uma grande província como é a do Cabo Delgado. Segundo, a embaixada dos Estados Unidos tem conhecimento de que a província de Cabo Delgado podia ser alvo de novos ataques mais importantes. Espero que haja um cruzamento de informações dos serviços de segurança interna e externa que possa permitir fazer face a este tipo de fenómenos.

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