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Morte de jornalista angolano por esclarecer há seis anos

Manuel Luamba (Luanda)9 de setembro de 2016

Alberto Chakussanga foi assassinado a tiro em setembro de 2010 dentro da própria casa, nos arredores de Luanda.

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Jornalista Alberto Chakussanga trabalhava na Rádio Despertar, onde tinha um programa semanal em umbundoFoto: DW/M. Luamba

A morte do jornalista angolano Alberto Chakussanga, assassinado a tiro dentro da própria casa, em Viana, nos arredores de Luanda, continua impune. O crime aconteceu há seis anos, a 5 de setembro de 2010, mas as investigações conduzidas pela Polícia Nacional, até agora, não revelaram indícios que permitam solucionar o caso.

Alberto Chakussanga, que trabalhava na Rádio Despertar de Angola, foi encontrado morto no corredor da sua casa, baleado nas costas. A cunhada de Chakussanga, que estava na residência naquela altura, disse que não ouviu os disparos. Por isso, acredita-se que os autores do crime tenham usado uma arma equipada com silenciador.

Mesmo seis anos depois, ainda não se sabe se a morte de Chakussanga está relacionada com a sua profissão. Mas, para o diretor-geral da Rádio Despertar, Emanuel Malaquias, esse seria o motivo.

"Tive essa triste tarefa, enquanto representante da Rádio Despertar: desloquei-me à sua aldeia natal, no município da Caála. Na altura, a convicção dos familiares, amigos e colegas era de que a sua função enquanto jornalista da língua nacional umbundo foi o motivo do seu assassinato", relata Malaquias, que era correspondente da rádio na época em que Chakussanga foi morto.

Angola Luanda Emanuel Malaquias, Director of the Radio Despertar, in Angola
Emanuel Malaquias, diretor-geral da Rádio DespertarFoto: DW/M. Luamba

Ex-professor da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto, Chakussanga apresentava um programa semanal de notícias em umbundo na Rádio Despertar, ligada ao maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Angolanos, seis anos é tempo suficiente para se investigar o assassinato de Chakussanga. O secretário-geral da entidade, Teixeira Cândido, afirma que neste tempo a polícia já deveria ter reunido, pelo menos, algumas pistas.

"Entendo ser tempo suficiente para se poder ter um caminho para esclarecer a sociedade, para saber quem esteve por detrás da morte do jornalista e quais são as razões [do assassinato], ainda que se chegue à conclusão que não tenham sido razões profissionais."

A DW África contactou a Polícia Nacional angolana, mas ninguém se disponibilizou a conceder entrevista. Uma fonte garantiu-nos, porém, que o caso continua em investigação.

Impunidade em casos de assassinato de jornalistas

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a impunidade para crimes contra jornalistas é "extremanente alta no mundo". Desde 2006, menos de 7% dos casos foram levados à Justiça. Em África, dos 131 jornalistas assassinados entre os anos de 2006 e 2015, apenas cinco casos foram julgados.

Em Angola, não foi a primeira vez que um jornalista foi morto e o processo ficou por esclarecer. O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos lembra o assassinato de Ricardo de Mello, que se notabilizou por fazer denúncias de casos de corrupção e abuso de poder. O jornalista foi morto a tiro a 18 de janeiro de 1995, aos 38 anos.

"Duas décadas depois, a polícia não esclareceu em que circunstâncias o jornalista Ricardo de Mello foi morto. O esclarecimento das autoridades iria, pelo menos, oferecer tranquilidade e segurança a nós que exercemos a profissão", comenta.

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Há pouco tempo, o sindicato mostrou-se apreensivo com a nova Lei de Imprensa em Angola, temendo um recuo em relação à legislação anterior. Os jornalistas estão, por exemplo, preocupados com uma possível partidarização da Entidade Reguladora da Comunicação Social e pedem mudanças.

Apesar de tudo, Emanuel Malaquias, da Rádio Despertar, salienta que há profissionais que não se deixam intimidar.

"Aquilo que temos visto são repórteres e jornalistas corajosos e cientes do seu papel na sociedade que têm sofrido vários tipos de constrangimentos e ameaças, mas nunca deixaram de desempenhar o seu papel", ressalta.