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Nomeação ministro dos Negócios Estrangeiros levanta dúvidas

Nádia Issufo
14 de dezembro de 2017

Novo chefe da diplomacia de Moçambique, José Pacheco, "não é o mais indicado para uma área delicada, onde palavras e gestos, são atributos-chave para assegurar apoios para aquilo que é a agenda do pais", afirma analista.

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Porträt - Silvestre Baessa
Silvestre Baessa, especialista em boa governaçãoFoto: privat

Em Moçambique, o Presidente Filipe Nyusi nomeou nesta terça-feira (14.12) três novos ministros, um deles José Pacheco para o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros. Esta nomeação está a levantar várias dúvidas no país. É que, entre vários pontos, ressaltam-se os factos de ter o seu nome associado à desflorestação em parceria com os chineses e também mencionado no caso de desvios no Fundo de Desenvolvimento Agrário (FDA). O especialista em boa governação, Silvestre Baessa, em entrevista à DW África, pinta-nos o cenário atual desta nomeação.

DW África: Embora nada tenha sido provado até ao momento sobre o envolvimento de José Pacheco nesses casos, as suspeitas seriam suficientes para não ter sido nomeado para um cargo crucial como esse?

Silvestre Baessa (SB) : Certamente, que eles, com a atual conjuntura muito complicada, há toda uma necessidade do país resgatar a sua imagem internacional e a figura do ministro dos Negócios Estrangeiros é fulcral nesse exercício. Não me parece, em função daquilo que tem sido a postura do ministro José Pacheco ao longo dos tempos, mas sobretudo do fato da sua imagem estar associada a um conjunto de escândalos de dimensão internacional, que seja a figura mais apropriada para o momento politico-diplomático do país. É muito complicado e difícil perceber a decisão. No entanto, há uma tradição no pais, que se baseia numa frequente falta de explicações muito concretas para a nomeação de um dirigente para um ou outro cargo. Em todo o caso, parece-me ser uma jogada muito arriscada do Presidente. O país precisa é de um ministro dos Negócios Estrangeiros que consiga, digamos, transmitir confiança e vender uma boa imagem do pais. Na verdade, ele é a cara do país num contexto internacional, e portanto, os dados não são favoráveis ao ministro.DW África: José Pacheco é considerado um homem rígido, pouco flexível... este seria o perfil ideal para um ministro dos Negócios Estrangeiros?

José Pacheco tem o perfil ideal para chefe da diplomacia?

SB: Não, sobretudo numa altura em que o pais precisa de fazer contenções. Naturalmente, as negociações que se seguem, são muito difíceis. Não estou muito certo até que ponto o ministro dos Negócios Estrangeiros tenha uma influência muito grande nas negociações de âmbito económico, por exemplo, ligadas à questão do gás ou do petróleo, e de outros minerais que são essenciais para o futuro e onde neste momento, o país está a jogar cartadas muito difíceis. Pontualmente, podemos dizer que essa figura mais rígida pode ajudar. Todavia, penso que, perante a atualidade, de por um lado, ter de convencer o FMI, que o país tem condições para liderar um projeto de mudanças; por outro lado, convencer os investidores a voltarem a colocar os seus recursos no país, não me parece que tenha o perfil mais adequado para essa posição.

DW África: Falando ainda no historial de José Pacheco, ele foi ainda ministro do Interior e durante o seu mandato, não houve nada de positivo de realçar. Foi também governador da Cabo Delgado. Aliás, ocupou muitos cargos num curto período de tempo. Como é que olha para o papel desta figura no seio do partido FRELIMO e no contexto da governação?

SB: Penso que ele é das figuras da governação mais experientes dentro do atual Governo. Se não contarmos um ou outro ministro que tenha mais de dez anos de experiência, ele é possivelmente, inclusivé, em relação ao próprio Presidente da República, o governador mais experiente. Ser o mais experiente é sinónimo daquilo que é a sua experiência no partido FRELIMO. Portanto, é uma peça fundamental, que provavelmente, se encaixaria melhor numa posição de primeiro-ministro, por exemplo. Dar uso a essa experiência para coordenar melhor as ações do Governo. Concluindo, não é o mais indicado para uma área delicada, onde as palavras e os gestos, são atributos-chave para assegurar apoios para aquilo que é a agenda do pais.