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Teatro

Maior grupo de teatro de Moçambique em festa

Nádia Issufo
29 de novembro de 2016

Dois marcos a registar na história do Mutumbela Gogo: a entrada pela primeira vez de sangue novo e a abertura, em breve, de uma escola de teatro. O mais prestigiado grupo de teatro de Moçambique celebra 30 anos.

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Mutumbela Gogo apresentando a peça "Os meninos de ninguém" em EstugardaFoto: DW/N. Issufo

O grupo, que tem como casa o Teatro Avenida, em Maputo, esteve recentemente na Alemanha, onde brindou o público de Estugarda com a emblemática peça "Os meninos de ninguém". A estadia aqui fez parte de uma digressão que os levou a Itália e atualmente a Portugal. A DW África conversou com a diretora do Mutumbela Gogo, Manuela Soeiro.

DW África: Este mês o Mutumbela Gogo celebra 30 anos de existência. Quais são os planos para a celebração?

Manuela Soeiro (MS): Em março, no Dia Mundial do Teatro (27.03.), nós vamos fazer um festival de teatro, vai haver muitas atividades, vamos fazer exposições e vamos fazer uma coisa que para nós é o principal: a abertura da escola de teatro.

DW África: Pode contar-nos um pouco mais sobre esta escola? Já há alguns anos que tem falado sobre esse projeto...

Deutschland Theater-Gruppe Mutumbela Gogo aus Mosambik in Stuttgart
Manuela Soeiro, diretora do Mutumbela GogoFoto: DW/N. Issufo

MS: Sim, nós fomos amadurecendo a ideia. Contactamos muitas escolas para ver se fazíamos uma escola a partir da nossa experiência, são 30 anos, nós já temos um arquivo muito grande e podemos transmitir aos outros o que foi a nossa escola. E o Henning Mankell teve um grande papel nisto. E, por outro lado, queríamos fazer uma escola, mas não aquela escola muito formal, académica, mas profissionalizante em que o ator é completo em tudo, quer na administração quer como fazer as peças, não só como ator. Então, é nesse sentido que vamos fazer a escola, da experiência criar experiências para eles darem o pontapé de saída e não ficarem a espera que lhes chamem, que eles próprios tenham iniciativa de fazerem coisas, grupos de teatro, por exemplo.

DW África: Depois de 30 anos o Mutumbela abre portas aos jovens atores, o chamado sangue novo. Como surge essa ideia depois de tanto tempo?

MS: Nós sempre quisemos fazer isso, mas as condições não permitiam. Agora eu própria sinto essa necessidade, porque não interessa só haver um grupo bom em Moçambique, isso é nada. É preciso, de facto, criar, semear outras árvores para que, de facto, o teatro singre em Moçambique.

DW África: Em relação ao Henning Mankell, passa agora cerca de um ano desde a sua morte. Sabemos que era uma figura muito importante para o Mutumbela Gogo. Como tem sido a vossa relação com os vossos parceiros internacionais após a morte dele?

Henning Mankell
Henning Mankell, escritor sueco. Morreu em outubro de 2015Foto: DW/Steffen Marquardt

MS: A sensação que eu tenho é de que o Henning não morreu, esse é a sensação, porque de facto os nossos parceiros continuam aqui, hoje mesmo estão aqui alguns. Só para o ano vamos ter dois a três workshops com encenadores e diretores de outras companhias conosco, todos querem trabalhar conosco e não de uma forma paternalista. Eles sentem que o grupo tem condições para trabalhar. E nós também chamamos outros elementos para trabalharem conosco em Moçambique, para fazerem crescer o teatro com [outros] encenadores, porque realmente o Henning Mankel criou-nos esta possibilidade. Mas também queriamos dar esta possibilidade aos outros.

DW África: Porque o Mutumbela escolheo "Os meninos de ninguem" para trazer a Estugarda?
MS: Porque foi uma peça em que o Henning esteve envolvido e por outro lado é uma peça carismática do grupo e nós quisemos trazer não só a nós, mas as pessoas que assistiram, [mostrar] que nós moçambicanos queriamos informalmente agradecer ao Henning.

DW África: Esta vossa presença em Estugarda é uma homenagem ao Henning?
MS:
É, porque a Edith Koerber e o Tri-bühne Theater convidaram-nos a propósito da passagem de um ano da morte do Henning. Eles queriam fazer uma homenagem a ele neste festival. E o grupo que trabalhou com o Henning fomos nós e pediram-nos para participar também nesta homenagem.


DW África: A peça foi concebida numa altura em que era demasiado visível a presença de crianças de rua devido a guerra civil. Volvidos dezenas de anos a peça reflete ainda a realidade moçambicana?
MS:
De certo modo sim, embora tenham surgido várias organizações que têm estado a lutar [contra a situação]. Várias vezes temos retrocessos, umas vezes parece que está a acabar, mas outras vezes temos rerocessos, sobretudo nos períodos de crise, de fome, então as crianças voltam as ruas. Os próprios país mandam as crianças para a rua.

Theatergruppe von Mosambik Mutumbela Gogo
Angelina Chavango interpretando Ritinha, a menina albina de "Os meninos de ninguém"Foto: DW/N. Issufo


DW África: E agora que Moçambique vive novamente uma crise financeira e económica com previsões de situações mais difíceis podemos prever...
MS:
Quase posso dizer uma catástrofe. Mas de qualquer modo este Governo está a lutar para que as crianças tenham acesso à escolas e a muitas coisas, evitando este drama. Nota-se que da parte do Governo está a haver uma luta, já nºao deixam que as pessoas dêem esmolas, já pegam nas crianças e levam para determinados lugares para serem educadas.


DW África: Na peça há um personagem albino. Em Moçambique o ataque aos albinos é algo novo e tem assumido proporções alarmantes, sem que as autoridades consigam estancar. Qual é a sua opinião em relação a este fenómeno?
MS:
Esse fenómenos está a acontecer muito mais nas fronteiras de Moçambique, [aí] isso é muito mais forte. No entanto, está a haver um movimento muito interessante dos albinos, os filhos da lua como são chamados. Já fazem peças de teatro, não só nós fizemos essa peça já mais de 20 anos como também os próprios albinos estão a fazer peças de teatro e fazem debates com as pessoas. Portanto, está a haver um movimento, há uma associação, já se estão a organizar, um albino já não anda sozinho, tem sempre um grupo de pessoas com ele exatamente para evitar danos para esses pessoas, que ao fim ao cabo são pessoas como quaisquer outras. 

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