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Clarear a pele é complexo de inferioridade, diz jornalista

Manuel Luamba, de Luanda 1 de setembro de 2015

O também jornalista Makuta Nkondo diz ainda que clarear a pele não é a única forma de rejeitar os valores e princípios de sua cultura. Apela ao Governo angolano para promover os valores ligados aos princípios Bantu.

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Makuta Nkondo, jornalista e historiador angolanoFoto: DW/M. Luamba

Em Angola, fãs de cantores como Ary, Francis Boy, Própria Lixa, Madruga Yoyo e Puto Português estão indignados com o fato de eles terem se submetido a um tratamento de branqueamento de pele.

A polêmica despoletou nas redes sociais, depois de terem sido publicadas fotografias dos músicos que revelam as suas cores de pele anteriores ao branqueamento e depois. Entre os músicos angolanos que teriam passado pelo tratamento, o mais criticado pela sociedade angolana é Puto Português. Porque ele publicou um vídeo no "YouTube" onde aparece acompanhado do kudurista Francis Boy a dizer: "escuro não".

As declarações, vistas como uma renúncia da cor negra, aumentaram o nível de revolta, principalmente dos fãs, que até queimaram discos do cantor como manifestação de revolta. A situação levou o músico a publicar um outro vídeo, em que diz: "Querem me crucificar por eu ter feito uma brincadeira [escuro não], que não fui eu que inventei. Foi um senhor num vídeo que ficou nas redes sociais sei lá por quanto tempo. Querem crucificar o Puto Português."

Rejeitar a negritude

Depois de mais críticas, o músico pediu desculpas públicas. Puto Português reconhece o exagero dos seus depoimentos e diz que não acreditava que o tom da pele fosse um fator de superioridade ou inferioridade.

Em declarações à DW África, o jornalista e historiador Makuta Nkondo associa o comportamento dos referidos músicos ao complexo de inferioridade. Segundo o antigo deputado da UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola -, o maior partido da oposição, na sociedade também há outras formas de rejeição aos valores e princípios culturais de Angola.Ele lembrou que em 1965, o Presidente do então Zaire, Mobutu Sese Seko, já tinha proibido a prática de branqueamento para conservar a africanidade. "É o complexo que o negro tem em relação ao branco. Esse problema não se limita só em clarear a pele. Ele é negro com pensamento de branco. Há pessoas que não se dignam em visitar os bairros porque ele é chefe, é rico."

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Promover valores

Makuta Nkondo apela ao Governo angolano para promover os valores ligados aos princípios Bantu. O jornalista condena a atitude dos cantores e de outros cidadãos angolanos que rejeitam a negritude.

Ele questiona a origem de alguns membros do Governo angolano que, no seu entender, contribuem para o surgimento de comportamentos do gênero. "Pior que rejeição, aquilo é blasfémia. Se tivéssemos um Governo genuinamente angolano aquilo deveria ser punível", defende o historiador Makuta Nkondo.