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Os impasses da luta contra o HIV/SIDA em Angola

José Adalberto (Huambo)
1 de dezembro de 2016

A ONU diz que o país tem conseguido bons resultados no que diz respeito à transmissão do vírus de mãe para bebé. Mas é preciso continuar a apostar em ações de formação e sensibilização.

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HIV/AIDS in Afrika
Bebês que perderam pais em decorrência do HIV / SIDA. Foto ilustrativa.Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma

Angola tem uma das mais baixas taxas de prevalência do HIV/SIDA na África Austral. Há cerca de 320 mil pessoas infetadas neste país. A maior parte delas vive nas províncias de Luanda, Kuando Kubango, Bié e Cunene, segundo o relatório anual da ONU-SIDA, divulgado esta semana.

Embora a crise financeira tenha afetado os investimentos para combate ao vírus no país,  Angola continua a registar alguns avanços, como comprova o mais recente relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre a doença.

Em entrevista exclusiva à DW, a representante da ONU-SIDA em Angola, Sihaka Tsemo, defende a necessidade de o país trabalhar com uma nova abordagem de combate à doença, prioriorizando os grupos mais vulneráveis.

Infografik HIV-Verbreitung Afrika 2015 Englisch
Países em África onde há maior prevalência de HIV/SIDA entre adultos (2015)

"Há o grupo de trabalhadores do sexo; o grupo de homens que fazem sexo com homens; os prisioneiros; os camionistas e os pré-adolescentes (entre dez e catorze anos) que estão a iniciar relações sexuais muito cedo sem saberem como se proteger do vírus e de outras doenças de transmissão sexual, ou mesmo da gravidez indesejada", explica Tsemo.

Adolescentes

Mas Angola não deve dormir à sombra destes dados, defende Sihaka Tsemo. Sobretudo numa altura em que o relatório das ONU-SIDA chama a atenção para a necessidade de trabalhar com os adolescentes, grupo muito vulnerável a novas contaminações.

"As mulheres jovens ainda estão a carregar o peso da epidemia. Nesta  faixa etária há cada vez mais novas infeções devido à vulnerabilidade que existe nesta fase de transição para a vida adulta. Às vezes, são dificuldades e barreiras relacionadas à violência sexual, que tem a ver com a discriminação e com a desigualdade no acesso ao serviço", explica Tsemo.

António Coelho, secretário executivo da rede angolana das organizações de luta contra a SIDA, lembra que entre jovens existe uma certa resistência à mudança de comportamentos, apesar de toda a informação existente sobre a transmissão da doença. "Precisamos perceber bem o que está a acontecer no seio da juventude e, por esta razão, vamos direcionar toda a nossa ação para este tema nos próximos tempos", diz Coelho.

Segundo o secretário executivo, a situação é também grave entre as trabalhadoras do sexo. A taxa de prevalência para este grupo é de 7%, e entre os camionistas essa taxa é de 5%.

Crise financeira

Nos últimos tempos tem havido várias reclamações das organizações que lutam contra a SIDA. Dizem que não há ações de impacto nacional de combate ao HIV e criticam a escassez de medicamentos antirretrovirais.

Antiretrovirale Medikamente HIV AIDS Mosambik Afrika
Distribuição de medicamentos antirretroviraisFoto: DW/E.Silvestre

Maria Ângela, do Instituto Nacional da Luta contra a SIDA de Angola, justifica os cortes nos fármacos com a crise financeira que o país atravessa. "Hoje, não é viável comprar antirretrovirais suficientes para que os pacientes levem um kit de seis meses para casa, como fazíamos antes. Nós reduzimos as compras e agora disponibilizamos os antirretrovirais de mês a mês. Ainda assim, não deixamos faltar àqueles que precisam", explica Ângela.

Há pacientes que reivindicam a introdução de medicamentos de terceira linha no país, usada por pessoas que apresentam algum tipo de resistência aos medicamentos. Segundo Maria Ângela, do Instituto Nacional da Luta contra a SIDA, são pessoas que, por razões pessoais, optaram pelo tratamento no estrangeiro mas agora, por causa da crise, não conseguem mais viajar para terem o tratamento.

"São pacientes que se calhar nos anos passados não se reviam se tratando aqui no país, saíam para o estrangeiro e faziam os seus tratamentos nas clínicas da sua preferência. Eles têm todo o direito, só que com a crise que se bateu para os angolanos, eles não conseguem mais viajar frequentemente", explica Ângela.