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Os recursos angolanos e moçambicanos devem ser geridos com mais transparência

João Carlos (Lisboa)3 de abril de 2014

O crescimento económico de Angola e Moçambique deve beneficiar o desenvolvimento social das respetivas populações e não apenas uma elite, defende Paul Collier, professor da Universidade de Oxford.

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Paul Collier
Paul Collier, Professor da Universidade de Oxford, na Grã-BretanhaFoto: DW/Joao Carlos

Paul Collier, especialista do Centro de Estudos Africanos da universidade britânica considera que é necessário transparência na gestão dos recursos naturais que ambos os países possuem em abundância, de modo a que o desenvolvimento seja mais equitativo e sustentável. A DW África entrevistou o académico à margem de uma conferência em Lisboa, na última segunda-feira (31.03), sobre desenvolvimento económico e financeiro em África.

DW África: Qual é a sua opinião sobre o uso dos rendimentos com vista ao desenvolvimento de Angola e Moçambique?

Paul Collier (PC): É minha percepção que existem elites com muito poder, especialmente em Angola, Esse poder leva a ter acesso a grandes quantidades de dinheiro. Este dinheiro não está a ser usado em benefício de toda a população. Está primariamente a beneficiar as elites. Angola não está a construir um processo inclusivo. O objetivo não deve ser só a realização de eleições para obter votos. A chave não é só ganhar as eleições. É também necessário um mecanismo de verificação e monotorização de como o poder é usado.


DW África: Reconhece que é preciso implementar respostas para uma verdadeira inclusão económica e social?

PC: Sim. Não é só a inclusão social para abranger mais pessoas. Também é preciso, a passo e passo, fazer uma integração política e económica de todo o país. O foco não deve estar virado para as elites como acontece neste momento. Há que usar os tais mecanismos de controlo. O poder destas elites, da classe política dirigente, para usar os dinheiros públicos precisa de ser radicalmente limitado.

Paul Collier
Paul Collier durante a Conferência em LisboaFoto: DW/Joao Carlos


DW África: Na sua opinião, tanto Angola como Moçambique têm pela frente um grande desafio para construirem uma economia sustentável como alavanca do desenvolvimento?

PC: Ambos os países precisam muito de infraestruturas caras para se desenvolverem. Angola e Moçambique têm recursos naturais muito valiosos, que poderiam conseguiriam financiar esse desenvolvimento. O desafio está em providenciar uma relação entre os recursos que existem debaixo do solo (os quais serão explorados nos próximos 20 anos), e a construção das infraestruturas que precisam de ser feitas nos próximos 5 anos. Esta ligação tem de ser transparente, porque de outra forma vai haver muita corrupção. É uma relação que tem também de ser credível para que o financiamento privado externo avance para estes países.»

DW África: Que mecanismos, a seu ver, deveriam ser usados para garantir transparência?

PC: A alternativa está em criar, como dizem os economistas, um mecanismo de compromisso, ou seja, processos legais que dão confiança ao sector privado, que permite o investimento e o retorno do capital, tal como acontece com o sector privado financeiro dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). Assim, teremos um processo com mais transparência.


Nesta entrevista o académico britânico sublinha que, com transparência, boa governação e os inúmeros recursos e oportunidades existentes, África conhecerá um crescimento considerável comparado com o resto da economia mundial, que, em várias partes, enfrenta os efeitos da crise.

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