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Pirataria mora agora no Golfo da Guiné

Gwendolin Hilse / Bettina Riffel 4 de março de 2014

Pirataria na costa africana já não é novidade. Mas atualmente o Golfo da Guiné, no oeste do continente, é uma das áreas mais perigosas do mundo para o tráfego marítimo.

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Piratas na Nigéria. O seu principal alvo é o setor petrolíferoFoto: picture-alliance/dpa

Só no ano passado, as Nações Unidas registaram 54 ataques piratas a embarcações que trafegavam entre a Costa do Marfim e a República Democrática do Congo. Números que fazeram com que a atenção se voltasse à pirataria no oeste africano.

Para comparar, falemos da costa leste de África, no outro lado. Conhecida há muito tempo por ataques piratas, em 2013 foram ali registados apenas 20 ataques de piratas a navios cargueiros, 34 menos que no oeste africano. Dois anos antes, em 2011, piratas tentaram quase 240 vezes atacar navios comerciais e de ajuda humanitária no Golfo do Aden e em frente a costa da Somália.

Hoje, o risco de ataques piratas no litoral leste de África caiu consideravelmente. Principalmente, devido a reforçadas ações militares na área, como a missão Atalanta.

Mas ainda assim a pirataria na costa ocidental de África não é nenhum fenómeno novo, defende Ian Millen, diretor de uma empresa especializada em segurança e no fator de risco em áreas marítimas: "Eu acredito que os meios de comunicação e a comunidade marítima têm dado mais atenção ao Golfo da Guiné, já que a pirataria na costa da Somália, no Oceano Índico, diminuiu."

Golfo da Guiné, o novo campo de ação

Operation Atalanta Marine Soldaten Einsatz gegen Piraterie
Soldados da missão Atalanta no Corno de ÁfricaFoto: Bundeswehr/FK Wolff

Para Millen trata-se na verdade de uma mudança de foco. "Temos presenciado um aumento de ataques no Golfo da Guiné, mas a pirataria na região não é novidade", observa.

De acordo com estatísticas da Organização Marítima Internacional, o número de ataques piratas na costa ocidental africana é constante desde 2011. Porém, tem se registado que nestas águas, os piratas vem agindo cada vez mais com brutalidade.

No ano passado, foram registadas 26 trocas de tiros entre os atacantes e as forças de segurança, mais do que em qualquer outra região do mundo. Uma ação que resultou em centenas de feridos e um morto. Desde 1995, morreram ao todo 46 marinheiros vítimas desse tipo de empreitada.

Sobre esse assunto, Ian Millen recorda: "Há uma infra-estrutura criminosa muito bem desenvolvida na Nigéria e na região do Delta do Níger. Os roubos são feitos também em terra, não só de produtos brutos como também de refinados, atividades que se estendem às áreas marítimas. Por isso, os navios petroleiros são redireccionados."

Prejuízos económicos

Segundo um estudo da INTERPOL em parceria com as Nações Unidas e o Banco Mundial, a pirataria traz um prejuízo anual de 18 mil milhões de euros à economia mundial. Só em 2011, piratas somalis exigiram um resgate de 124 milhões de euros, de acordo com o escritório da ONU sobre droga e crime. Em compensação, no ano passado não houve pagamentos.

Os piratas nigerianos têm focado mais em grandes navios petroleiros do que em resgates. Afinal, os países no Golfo da Guiné lucram bastante com a retirada por dia de três milhões de barris de petróleo. Mas quando o material cai nas mãos dos piratas, ele é vendido no mercado negro e um lucro ainda mais alto altíssimo vai para os criminosos.

Somalia Piraterie
Pirata somali perto de um navio de pesca de Taiwan, alvo de sequestroFoto: picture-alliance/AP

Duas das justificações mais citadas para a pirataria são governos fracos e pessoas sem perspectivas em países mas pobres. Mas o problema não é o desemprego, defende Isaac Isuku, jornalista de uma rádio no Delta do Níger: "A verdade é que aqueles que estão empregados não são devidamente pagos. Estamos a viver numa sociedade onde o salário é de 80 euros."

Más condições de vida na origem da pirataria

Symbolbild Frauen Vergewaltigung Not Hunger Armut in Somalia
Mulheres de Wisil, cidade costeira da Somália onde escasseiam empregos. As autoridades falam-lhes sobre a piratariaFoto: Roberto Schmidt/AFP/Getty Images

Para o jornalista, essa situação desencadeia a piratária: "Isso faz com que as pessoas procurem formas alternativas para alcançar os seus desejos. Se você não cortar o mal pela raiz, não adianta cortar a árvore, porque ela vai crescer novamente."

Não é novidade que os lucros com as grandes exportações de petróleo não chegam a população em si. No final, são principalmente as elites que tiram proveito da situação. Quase dois terços dos 151 milhões de nigerianos vivem abaixo da linha da pobreza.

A comunidade internacional volta e meia diz-se preocupada com o aumento de ataques piratas no Golfo da Guiné. Até porque 40% da necessidade petrolífera europeia é suprida pela região em questão.

Também o Gana visa a estabilidade da costa oeste africana, desde que em 2007, encontrou gás e petróleo em seu território. De olho no mercado mundial, o Gana quer alcançar uma cooperação com os países vizinhos e para isso, deverá acontecer este mês de março uma conferência para tratar da segurança local contra a pirataria.

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