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Porque número de partos precoces na Zambézia é tão alto?

6 de dezembro de 2017

As parteiras tradicionais estão preocupadas com o elevado número de casos de gravidez precoce na província moçambicana. A comunidade acusa os professores de assediarem alunas, mas os educadores culpam a pobreza.

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Moçambique tem uma das mais altas taxas de natalidade do mundoFoto: Getty images/AFP Photo/P. U Ekpei

No posto administrativo de Namanjavira, na província da Zambézia, centro de Moçambique, há parteiras que atendem uma dezena de mães adolescentes por mês. É o caso de Emilita Refeba, que atende todos os meses cerca de dez adolescentes entre 12 e 14 anos de idade. A parteira está preocupada com o elevado número de casos de gravidez precoce na região.

Muitas vezes, os partos têm complicações, o que obriga Emilita Refeba a levar as parturientes a um posto de saúde que fica a pelo menos seis quilómetros de distância.

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Emilita Refeba assiste até dez partos de raparigas por mêsFoto: DW/M. Mueia

A parteira conta que há muito tempo salva a vida de jovens mães e bebés. Em entrevista à DW África, Emilita Refeba mostrou-se muito preocupada com o aumento de partos entre adolescentes que frequentam o ensino primário.

"Elas vão à escola e, quando regressam, não sabemos se se envolveram com alguém. Não sabemos se são os professores que as engravidam ou não. As raparigas não nos dizem nada, têm medo", diz.

A gravidez precoce, numa altura em que o corpo das jovens não está ainda preparado, acarreta várias dificuldades, sublinha a parteira. "Há muitas complicações em assistir essas mães. Elas têm filhos com 13 e 14 anos. Não tem sido fácil assistir esses partos. Temos estado noites sem dormir, os partos variam entre oito a dez por mês. As raparigas não ouvem os conselhos dos mais velhos."

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Faruque Lemos Saote, educador em NamanjaviraFoto: DW/M. Mueia

Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano de 2016, Moçambique regista uma das mais elevadas taxas de natalidade entre adolescentes no mundo, com cerca 140 nascimentos em cada mil jovens entre os 15 e os 19 anos de idade.

De quem é a responsabilidade?

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Muitos pais e encarregados de educação na província da Zambézia acusam os professores de serem responsáveis pela gravidez precoce de muitas raparigas em idade escolar. Os responsáveis lamentam que não têm como apresentar queixa, já que vivem longe das sedes das localidades e vilas onde estão os postos policiais.

"Quando saem de casa para a escola, há professores que se apaixonam por elas e enganam-nas. Acabam engravidando as crianças, outras crianças não conseguem fazer a 5ª e nem a 7ª classe, ficam de barriga", sublinha Faruque Lemos Saote, encarregado de educação em Namanjavira, no distrito de Mocuba, província da Zambézia.

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Professor Zacarias Olimpo rejeita acusações de assédioFoto: DW/M. Mueia

Já o professor Celso Daniane nega. "Eu não concordo. Existem casamentos prematuros, mas não com o envolvimento do professor", argumenta. Para o professor, a pobreza é uma das principais causas do problema de casamento infantil e gravidez precoce. "A pobreza é um dos fatores que faz com que a criança, quando vem alguém com dinheiro, não resista à tentação."

O professor Zacarias Olímpio também rejeita as acusações da comunidade. "Os pais não ajudam. Tenho visto alguns pais a obrigarem algumas crianças a casarem mais cedo. Se o professor é educador como é que pode ser o causador desses problemas?", questiona.

O governador da Zambézia, Abdul Razak, reconhece o problema e lança um apelo. "Queremos pedir aos homens que têm capacidade financeira para não fazerem o que fazem: casar com uma menina que ainda não está preparada para o casamento. Uma menina de 14 anos ainda não cresceu o suficiente, quer do ponto de vista biológico quer mental para ser esposa e mãe de uma família. Vamos deixar a rapariga crescer e estudar", pediu o governador.

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