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Preocupações em África sobre as eleições na Alemanha

Blaise Dariustone | Remy Bindia | Lionel Bidzogo | Evelyn Kpadeh | Andrew Wasike | António Cascais
26 de setembro de 2017

A chanceler Angela Merkel vai para um quarto mandato após a vitória da CDU/CSU nas eleições de domingo (24.09). Mas em África teme-se que um enfraquecimento do poder em Berlim ponha em causa iniciativas no continente.

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Encontro "G20 Parceria Africana" em Berlim (junho de 2017)Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

As eleições na Alemanha têm também repercussões fora da Alemanha, sobretudo na Europa, mas também para o continente africano. Como é sabido, a chanceler Angela Merkel permanecerá por mais quatro anos à frente do Governo, apesar do seu partido ter perdido muitos votos. Uma vitória amarga, dizem os observadores. Mesmo assim os conservadores da CDU/CSU conseguiram ser o partido mais votado com de 33%.

Em África muitos questionam agora se Berlim continuará com força suficiente para levar a cabo iniciativas de grande envergadura de cooperação.

Chade

O coordenador da Liga Chadiana dos Direitos Humanos, Baldal Oyanta, disse que acompanhou as eleições alemães "com bastante atenção".

Bundestagswahl 2017 | AfD Symbolbild
A AfD entrou pela primeira vez para o Parlamento alemão como a terceira força mais votadaFoto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte

"Penso que a reeleição de Angela Merkel é, para nós, um mal menor, tendo em conta a ascenção abrupta do partido de extrema-direita [Aternativa para a Alemanha, AfD]. Pessoalmente, teria preferido que Angela Merkel tivesse tido uma margem mais confortável para formar novo Governo, para poder olhar com mais energia para as questões africanas e, particularmente, referentes ao Chade", afirmou Baldal Oyanta.

O coordenador da Liga Chadiana dos Direitos Humanos tem dúvidas sobre o futuro. "É sabido que está em discussão o reforço da aliança estratégica entre a Alemanha e a França, com as seguintes prioridades: segurança, desenvolvimento e mudanças climáticas. Gostaríamos que isso avançasse, mas questionamos: o que acontecerá agora? Haverá recuos devido ao fato do partido de Merkel ter obtido apenas 33% dos votos, enquanto um partido de extrema-direita conseguiu entrar no Parlamento?", questiona Baldal Oyanta.

Togo

O professor universitário universitário togolês Hounake Kossivi lamenta o fato de Angela Merkel ter saído das eleições de 24 de setembro de certa forma debilitada. O que acontece, acredita, na sequência, do aumento do risco de atentados terroristas, do aumento do número de imigrantes económicos e requerentes a asilo político na Alemanha.

Deutschland Zentrale Aufnahmestelle für Asylbewerber Berlin
Vaga de refugiados na Alemanha (junho de 2015)Foto: Getty Images/S. Gallup

O professor Hounake Kossivi recomenda Merkel a dar ouvidos às reivindicações dos alemães dececionados com as suas políticas. "Os atentados terroristas e a questão da imigração fragilizaram a sua política, infelizmente. Se esses dossiers tivessem sido melhor geridos Merkel hoje teria, provavelmente, uma maioria muito mais confortável. Agora vai ser mais difícil, porque ela ver-se-á obrigada a adaptar-se às reivindicações dos partidos com os quais vai formar coligação. Desse ponto de vista, Angela Merkel está agora, de fato, um pouco fragilizada", avalia Hounake Kossivi.

Camarões

Já Issa Tchoroma Bakari, porta-vez do governo dos Camarões, espera nos próximos anos um reforço considerável da cooperação entre a Alemanha e o seu país.

Deutschland Bundestagswahl Nachlese Merkel
Angela Merkel na noite da sua reeleiçãoFoto: Getty Images/S. Gallup

"Claro que não nos podemos nem queremos imiscuir nos assuntos de política interna de outro país. Mas não deixamos de sublinhar que temos tido relações excelentes com os diversos executivos de Angela Merkel. Só podemos agradecer, desejar muita sorte e que as nossas relações se continuem a estreitar, intensificar e diversifar", disse Issa Tchoroma Bakari

É certo que Angela Merkel saiu debilitada das eleições de demingo (24.09). É certo também que as negociações para a formação de um novo Governo de coligação vão ser complicadas e longas. O que poderá adiar alguns projetos e iniciativas da Alemanha direcionados a África, nomeadamente da iniciativa lançada no quadro do G20 Compact with Africa.

Mas também é certo que a cooperação vai continuar. Sobre isso existe unânimidade entre todos os possíveis parceiros da futura coligação governamental na Alemanha.

Nigéria

Avaliando o processo eleitoral alemão, Lawal Shuaibu, o vice-presidente do partido no poder na Nigéria, o Congresso Progressista, considera que o seu país "tem muito a aprender" com a Alemanha. "Todos os partidos reconheceram os resultados sem qualquer contestação", elogiou o político. "Nós ainda agora começámos. Mas a Nigéria está no caminho certo", acrescentou Lawal Shuaibu.

Bundestagswahl 2017 | Wahllokal in Düsseldorf, NRW
Político nigeriano elogiou o processo eleitoral na AlemanhaFoto: Getty Images/L. Schulze

No entender de Umar Kari, que leciona na Universidade de Abuja, o resultado eleitoral "representa um retrocesso menor para a União Democrata Cristã e o seu anterior aliado, porque registaram uma queda na representação no Bundestag, o Parlamento alemão".

Os resutados mostram sobretudo o "ressurgimento do partido ultra-nacionalista AfD, cuja posição face à imigração e aos muçulmanos poderá enviar sinais perturbadores não só à Alemanha ou à Europa, mas também ao resto do mundo", prevê o académico nigeriano Umar Kari.

Libéria

Na Libéria, Prosper Narmayan, o antigo dirigente do Governo do ex-Presidente Charles Taylor, elogiou o percurso da chanceler alemã."Pessoalmente, acho que o que quer que nós, homens, consigamos fazer, as mulheres conseguem fazer melhor. É por isso que Angela [Merkel] foi eleita para o quarto mandato na Alemanha. Penso que é algo sem precedentes na política", afirmou Prosper Narmayan.

Reações de África às eleições na Alemanha - MP3-Mono

Também o ativista liberiano Emmanuel Gibson vê a vitória de Angela Merkel com bons olhos. Comentando sobre o papel da mulher na Libéria, para o ativista a Presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf foi quase como uma rampa de lançamento "para outras mulheres chegarem ao poder". Desde que Ellen Johnson Sirleaf assumiu a presidência do país, em 2006, "há muitas mulheres a conseguirem posições de liderança. Mas a questão é se podemos vir a ter outra mulher no poder na Libéria?", questiona o ativista Emmanuel Gibson.

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