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Ativistas em Angola não desarmam

Cristina Krippahl13 de novembro de 2015

Porquê jovens ativistas angolanos tomaram a iniciativa invulgar de convidar altos representantes do Governo e da Justiça para participarem num debate sobre os livros cuja discussão levou à prisão dos chamados 15+2?

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Foto: DW/J. Carlos

A organização de defesa dos direitos humanos, Amnistia Internacional, afirma que o julgamento daquele grupo de ativistas detidos, que começa em 16 de novembro próximo, é um "travesti da justiça". A noção de que a leitura e o debate de livros que apelam para a resistência pacífica possam ser prova de preparação para um golpe de Estado, como afirma o Governo angolano que, sob este pretexto, deteve os 15+2 é considerada absurda fora e dentro do país.

Na sexta-feira, 13 de novembro, o Conselho Nacional dos Ativistas Angolanos convidou para um debate sobre as obras de Gene Sharp, “Da Ditadura à Democracia” e “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura” de Domingos da Cruz - um dos arguidos -, representantes do Governo e da Justiça.

Os convidados não vieram

O convite público feito às autoridades para discutirem estas obras com jovens ativistas terá sido mera provocação? António Quissanda, secretário geral do Conselho Nacional dos Ativistas Angolanos, nega liminarmente: "Não, não, em nenhum momento a nossa intenção foi a provocação. A nossa intenção é ver Angola sair da ditadura em que vive há 40 anos. Porque nós saímos do colonialismo e, atualmente, vivemos no neo-colonialismo. Decidimos fazer este debate para o Governo angolano saber que não são espancamentos, não são detenções, não são raptos e mortes de ativistas, que vão parar com a nossa luta".

Raul Mandela, igualmente membro do Conselho Nacional dos Ativistas Angolanos, explica que o convite feito a governantes e altos funcionários, entre os quais o chefe de segurança do Estado angolano, Eduardo Octávio, o ministro do Interior, Ângelo Veiga, o Procurador-Geral da República, João Maria de Sousa, teve ainda outro objetivo muito concreto: "Fazer entender a este Governo, que este livro mostra o que é uma luta sem violência. Nós estamos a estudar as técnicas de luta sem violência. Queremos que as entidades venham a perceber que erraram".

Luaty Beirão
Desde a sua longa greve de fome, Luaty Beirão tornou-se no rosto da contestação em AngolaFoto: Central Angola

Apelo à comunidade internacional

Seria importante, acrescenta Raul Mandela, para evitar que se repitam detenções injustificadas. Por isso António Quissanda lamenta a ausência dos convidados. E aproveita o ensejo de uma conversa com a DW África para dirigir um pedido de apoio ao mundo: "Esperamos que a comunidade internacional veja Angola como um grande parceiro. Mas vejam Angola primeiro nas questões dos direitos humanos, e depois podem ver Angola nas questões do petróleo e do diamante".

Para já, o Conselho Nacional dos Ativistas Angolanos, que, segundo informação própria, conta com centenas de membros em todo o país, planeia continuar com as suas ações de protesto, acrescenta Quissanda: "As manifestações vão ser contínuas, até à libertação dos 15+2 e a libertação de Angola".

Várias ações deverão acompanhar o processo judicial. Para sábado, 14 de novembro, está planeada a distribuição, nas ruas de Luanda, de panfletos com o conteúdo dos livros de Gene Sharp e Domingos da Cruz. Em 16 de novembro, data do início do julgamento dos 15+2, os seus companheiros de luta estarão reunidos diante do tribunal, para exigir a libertação imediata dos arguidos. Raul Mandela está confiante: "Nós temos a plena certeza de que os nossos companheiros serão soltos, porque não há razão para os manter presos"

Sem medo

Na opinião deste jovem, as autoridades já entenderam o erro que cometeram. De qualquer forma, os ativistas não se deixam intimidar, garante António Quissanda. Diz que são 36 anos de governação do Presidente José Eduardo dos Santos, e 40 anos do MPLA, “e praticamente o país está em mau estado. Não se admite que Angola produza milhões e milhões de dólares, e o povo de Cabinda ao Cunene tenha uma vida completamente miserável. Se nós continuarmos com medo, não vamos conseguir ver este povo em liberdade, não vamos conseguir ver este povo com uma vida digna".

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