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Quénia: Odinga toma posse como "presidente do povo"

Reuters | AFP | EFE | Lusa | AP | tms | Sylvia Mwehozi | Andrew Wasike
30 de janeiro de 2018

O líder da oposição autoproclamou-se, esta terça-feira (30.01), "presidente do povo" perante milhares de apoiantes, numa cerimónia simbólica em Nairobi. O Governo cortou o sinal de emissoras que transmitiam o evento.

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Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Curtis

Mais de 15 mil pessoas acompanharam a cerimónia de posse simbólica do principal líder da oposição queniana, Raila Odinga, que se autoproclamou "presidente do povo", esta terça-feira, na capital do Quénia. O Governo declarou o movimento opositor como "organização criminosa".

"Eu, Raila Amolo Odinga, assumo o cargo de presidente do povo da República do Quénia e juro fidelidade e lealdade ao povo e à República", disse Odinga, empunhando uma Bíblia ao fazer o juramento. 

Raila Odinga afirmou também que "hoje é um dia histórico no Quénia", ressaltando que "pela primeira vez, os quenianos tomaram a decisão de se retirar de uma ditadura implantada através de votos roubados".

Quénia: Odinga toma posse como "presidente do povo"

Protesto

A posse simbólica de Odinga é um protesto à reeleição do Presidente Uhuru Kenyatta, que na repetição das eleições gerais, em outubro, alcançou 98% dos votos e foi empossado oficialmente como chefe de Estado em novembro. Na altura, Raila Odinga não participou do escrutínio, alegando que era necessária uma reforma eleitoral para assegurar eleições livres e justas. Inicialmente, as eleições foram realizadas em agosto, mas o Supremo Tribunal queniano anulou a votação devido a irregularidades.

A cerimónia simbólica desta terça-feira decorreu sem interferência da polícia. Entretanto, em outras partes de Nairobi, os apoiantes da oposição relataram que agentes de segurança reprimiram com bombas de gás lacrimogénio as manifestações de apoio à tomada de posse de Odinga.

Massoud Ali, apoiante da Super Aliança Nacional (NASA, sigla em inglês), coligação partidária da oposição, assegurou que a repressão policial seria combatida. "Não há ninguém aqui carregando sequer uma faca, mas se a polícia vier nos combater, vamos lutar. A nossa missão é jurar o presidente do povo, Raila Odinga".

Kenia Nairobi Großdemonstration der Opposition
Milhares de apoiantes de Raila Odinga assistiram à cerimónia simbólica em NairobiFoto: Reuters/B. Ratner

Censura à imprensa

Além da repressão policial contra os apoiantes da oposição, o Governo cortou a emissão de três estações de rádio e televisão que transmitiam em direto a tomada de posse simbólica do líder oposicionista.

Segundo o diretor da Citizen TV, Waruru Wachira, relatou à DW África "esta manhã, representantes da autoridade de comunicação, acompanhados da polícia, foram a uma estação de transmissão e desligaram o nosso sinal". "Estamos atualmente fora do ar na Citizen TV, Inooro TV e em algumas de nossas estações de rádio. Nós não recebemos nenhuma comunicação oficial das autoridades governamentais", revelou.

Odinga já havia prometido desde dezembro uma tomada de posse. No entanto, o Governo alertou que a medida poderia ser considerada uma traição contra o Estado. Mas ainda não está claro quais serão as consequências da "tomada de posse" de Raila Odinga, uma vez que o termo "presidente do povo" não está na Constituição.

Kenia Amtseinführung Präsident Kenyatta
Uhuru Kenyatta foi reconduzido como Presidente em novembroFoto: picture-alliance/abaca/Kenyan Presidency Press Office

"Organização criminosa"

Como uma primeira resposta à autoproclamação de Odinga como "presidente do povo", o Governo do Quénia declarou como "organização criminosa" o denominado Movimento de Resistência Nacional, criado pela NASA. O Movimento encarrega-se de implementar um "energético programa de boicote económico" contra as empresas consideradas aliadas de Kenyatta e seu partido e de realizar "manifestações pacíficas" contra o Governo.

De acordo com a lei queniana, ser membro de um grupo criminoso organizado pode levar a prisão por até 10 anos, uma multa de mais de cinco mil dólares ou ambas as penas.

Para o analista político Lone Felix, o atual contexto político do Quénia é "uma indicação de uma democracia disfuncional". Em entrevista à DW África, ele diz que "se o processo democrático tivesse ido bem, neste momento o país estaria calmo, não estaríamos passando por esse ciclo político".

O centro de análise da International Crisis Group manifestou-se preocupado com a situação política do Quénia, um país dividido e onde a violência político-étnica já fez centenas de mortos desde as eleições de 2007.