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RDC: Manifestantes não saíram à rua com medo de repressões

António Rocha | AFP
10 de abril de 2017

Apesar do apelo da UDPS para a população se manifestar, esta segunda-feira, nas ruas do Congo, esta permaneceu em casa com medo de repressões, após a proibição oficial de protestos. UDPS recusa nomeação de Tshibala.

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Kongo Polizei
Protesto em Kinshasa, Janeiro de 2015Foto: Getty Images/AFP/P. Mulongo

Um apelo para a realização de manifestações esta segunda-feira (10.04), em toda a República Democrática do Congo (RDC), contra o Presidente Joseph Kabila, lançado pela oposição congolesa não teve eco junto da população, que preferiu permanecer em casa após o anúncio oficial da proibição de qualquer protesto no país.

Segundo várias agências internacionais de notícia, Kinshasa, a  movimentada capital da República Democrática do Congo, parecia, ao meio da tarde desta segunda-feira, uma cidade fantasma. A megalópole com cerca de 10 milhões de habitantes habituada às violências de caráter político deu lugar ao silêncio, normal em dias de grande tensão, numa altura em que a presença policial e militar é bem visível.

A União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), partido do opositor histórico Étienne Tshisekedi, que faleceu em fevereiro passado, apelara à população para realizar grandes manifestações hoje em todas as cidades do Congo contra Joseph Kabila, no poder desde 2001. Mas as marchas não tiveram lugar.

Kongo Polizei
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras

População temeu repressões

Em Kinshasa, o Governo proibiu qualquer grupo formado por mais de dez pessoas.

Para Phil Clark, cientista político da SOAS -Universidade de Londres, "esta proibição mostra o quanto o Governo está preocupado com o descontentamento em grande escala". "Kabila percebe que a raiva está a aumentar nas ruas e as pessoas estão cada vez mais frustradas com os atrasos nas eleições", afirma.

Face à proibição, os habitantes da capital, com medo de se repetirem as sangrentas repressões de dezembro último, preferiram permanecer em casa. Rémy Mukweso, cidadão congolês lembra que, na altura, "até os ativistas dos direitos do homem foram presos e as residências de membros da oposição foram violadas e as pessoas presas”.

Nomeação de Tshibala criticada

Félix Tshisekedi, filho de Étienne, que concorre ao cargo de primeiro-ministro, acusou, no domingo, o Presidente, cujo mandato expirou em dezembro de 2016, de ser "o principal obstáculo ao processo democrático” depois do chefe de Estado ter anunciado, na sexta-feira (07.04), a nomeação de Bruno Tshibala, dissidente da UDPS, para o cargo de chefe do executivo congolês.

OL RDC - MP3-Mono

Em entrevista à DW, Marc Kabundu, secretário-geral da UDPS, afirmou que "Bruno Tshibala não pertence atualmente à UDPS porque foi excluído do partido. Portanto, não pode aceitar a sua nomeação para primeiro-ministro feita por Kabila enquanto membro da União (UDPS)".

A RDC atravessa uma grave crise política desde a reeleição de Joseph Kabila, em 2011, num escrutínio manchado por fraudes em massa. As tensões aumentaram com a permanência no cargo do Presidente Kabila, depois de 20 de dezembro, data que deveria marcar o fim do seu segundo e último mandato constitucional, num clima de violência que já provocou dezenas de mortos.

Sob a égide da igreja católica, a oposição e a maioria assinaram, a 31 de dezembro de 2016, um acordo que prevê a permanência no poder de Kabila até à entrada em funções de um sucessor que deverá ser eleito este ano, em troca da nomeação de um primeiro-ministro oriundo das fileiras da oposição.

Três meses depois de muitas reuniões e várias discussões sobre a partilha dos cargos entre os signatários do acordo, Kabila, que não rubricou o documento, decidiu nomear Tshibala, uma medida que a UDPS qualificou de "recompensa pela traição”.

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