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Reestruturar a dívida moçambicana para país sair da crise

Helena Ferro de Gouveia
3 de novembro de 2016

Os juros da dívida pública de Moçambique são os mais altos do mundo o que faz do país o Estado mais arriscado para investir. A DW África ouviu o analista económico Tiago Dioníso.

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Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo

Além da desvalorização do metical, da subida da inflação e do agravamento da dívida pública, Moçambique enfrenta a descida da cotação das matérias-primas que exporta, os efeitos de desastres naturais e a crise político-militar entre Governo e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A somar a este cenário nada otimista os juros da dívida pública de Moçambique passaram a ser os mais altos do mundo, 25,1% ao ano,  o que coloca o pais no lugar de nação mais arriscada para investir. A DW África ouviu o analista económico Tiago Dioníso, da Consultora Eglestone a propósito da crise da dívida.

DW África: Os juros da dívida pública de Moçambique passaram a ser os mais altos do mundo esta semana, com 25,1% ao ano, ultrapassando a Venezuela no lugar de país mais arriscado para investir no mundo. Quem é que vai perder com esta crise da dívida? Governos ou bancos que emprestaram dinheiro?

Infografik Schulden Mosambiks, portugiesisch

Tiago Dionísio (TD): Em primeiro lugar entretanto os juros da dívida corrigiram um pouco e já baixaram mais de 1%  quase 1,5% face a esse máximo porque o Governo entretanto propôs aos credores uma extensão da maturidade para demorar mais alguns anos a pagar a sua dívida em vez de propor uma perda imediata aos credores. Isso fez com que se aliviasse um pouco a pressão sobre os juros da dívida moçambicana. Portanto agora o Governo vai renegociar com os credores a sua dívida externa e isso é dos passos fundamentais para retomar as negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

DW África: O FMI poderá avançar com um novo programa de ajuda a Moçambique mas apenas se as dívidas públicas "escondidas” forem auditadas de forma independente e a renegociação com os credores for bem sucedida. Na sua perspctiva o que há a fazer?

T.D. : Os projetos de gás natural no país estão um pouco atrasados face às estimativas iniciais e portanto vai demorar mais alguns anos até que o Estado moçambicano consiga recolher as receitas provenientes desses projetos e portanto o Governo quer renegociar nomeadamente o pagamento de juros e atrasar o pagamento de capital; a proposta agora é até 2023, 2024, quando esses projetos já estiverem operacionais e o Governo conseguir arrecadar receita dos mesmos.

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Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo

DW África: Poderá afirmar-se que os investidores da EMATUM, da Prodindicus e da Mozambique Asset Management foram "ingénuos”?

T.D.: Enfim julgo que não.... os investidores sabem que existe sempre um grande risco em certo tipo de investimentos. Acho que esta questão das dívidas escondidas foi surpresa para todos. Agora importa salientar que segundo o FMI tudo indica que já não haverá mais dívidas escondidas e portanto espera-se que estejam criadas nos próximos tempos as condições para retomar a negociação com o país. As últimas notícias dão conta que Moçambique poderá receber um pacote do FMI provavelmente no último trimestre de 2017, isso tudo são passos para ajudar a credibilidade do país e a recuperar deste ano que tem sido particularmente difícil.

03.11.2016 Moçambique /Entrevista Tiago Dionísio - MP3-Mono