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PolíticaRepública Democrática do Congo

Segundo dia de eleições na RDC após caos logístico

DW (Deutsche Welle) | Isaac Mugabi | nn
21 de dezembro de 2023

As eleições na RDC na quarta-feira foram marcadas por atrasos e problemas logísticos, além de denúncias de fraudes e violência. A oposição criticou o prolongamento da votação, afirmando que viola a Constituição.

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Problemas técnicos causaram atrasos nas assembleias de voto em várias partes da República Democrática do Congo
Problemas técnicos causaram atrasos nas assembleias de voto em várias partes do paísFoto: Alain Uyakani/Xinhua/IMAGO

Problemas logísticos marcaram o dia de ontem na República Democrática do Congo (RDC). A Comissão Eleitoral Nacional Independente prometeu que não haveria falta de máquinas de votação, mas até na capital Kinshasa foi impossível votar até ao final da manhã em algumas assembleias de voto.

Entretanto, a comissão anunciou que a votação prossegue esta quinta-feira (21.12) nas assembleias de voto que não puderam abrir ontem.

Quase 44 milhões de eleitores foram chamados a votar na RDC, numa eleição vista como um teste ao atual Presidente Félix Tshisekedi. Os seus principais adversários na corrida são Moise Katumbi, Martin Fayulu e o vencedor do Prémio Nobel da Paz Denis Mukwege.

Tembo Toko Kole, infetado com malária e ainda com um cateter no braço, saiu na manhã de quarta-feira (20.12) do hospital para ir às urnas em Masina, um município nas imediações do principal aeroporto do país.

"Eu próprio interrompi a infusão para exercer os meus direitos constitucionais. Mas não funcionou. Vou voltar ao hospital para proteger a minha saúde", disse.

Estas eleições são vistas como um teste ao atual Presidente da RDC, Félix Tshisekedi
Félix Tshisekedi, atual Presidente da RDCFoto: AFP

Desemprego e inflação

Georges Bamue, de 27 anos, mototaxista de profissão, está decepcionado com a situação no país. Cinco anos depois de se formar em manutenção de redes informáticas, este jovem adulto ainda percorre as ruas de Goma, no leste do país, incapaz de encontrar um emprego na sua área de formação.

"Não estou feliz porque o país não está a ajudar-nos a nós, jovens, principalmente aos que estudaram. Sacrifiquei-me para ir para a universidade, para estudar… Mas não há trabalho. O sonho desapareceu. A situação não pode continuar assim", lamenta.

Num dia bom, Georges Bamue ganha cerca de 30 dólares, mas com a inflação galopante e a desvalorização da moeda local, mal consegue pagar a renda e pôr comida na mesa.

Apesar da vasta riqueza mineral da RDC e das promessas feitas pelo Presidente Tshisekedi quando chegou ao poder em 2019, a maioria dos cidadãos vive mal.

O que está em causa nas eleições da RDC?

Ataques no leste

Acrescem os combates entre uma miríade de grupos armados e os ataques brutais a civis que se intensificaram no leste do país nos últimos anos.

Um desses grupos, o M23 - alegadamente apoiado pelo Ruanda - capturou áreas de território. E os eleitores nessas áreas ocupadas na província de Kivu do Norte não puderam votar na quarta-feira.

Outros grupos, como as Forças Democráticas Aliadas (ADF), também realizam ataques regulares na região. No início do mês, um relatório da Força de Manutenção da Paz da ONU no país (MONUSCO) admitiu a contínua e crescente insegurança no leste da RDC.

Algo que ameaça toda uma região continental, como explica à DW Phil Clark, analista da Universidade SOAS, em Londres: "A RDC é um Estado incrivelmente influente. A insegurança no país tende a transbordar as fronteiras para toda a região e grande parte do mundo tem interesse económico nos recursos naturais que o Congo produz."

A RDC está repleta de minerais e pedras preciosas, como ouro, diamantes, cobre e cobalto. E o país tem um enorme potencial hidroeléctrico graças ao rio Congo.

"A instabilidade e a insegurança contínuas no leste do Congo irão, sem dúvida, afetar a capacidade das empresas globais de extrair esses recursos para os vender com segurança no mercado internacional. Portanto, muitas empresas envolvidas nessas indústrias estarão a observar estas eleições muito de perto", conclui Phil Clark.

Jovens da RDC juntam-se ao Exército para combater o M23