1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Sociedade civil felicita fim da greve de fome de Beirão

Pedro Borralho Ndomba (Luanda) / Lusa27 de outubro de 2015

Luaty Beirão anunciou, através de uma carta entregue à familia, o fim da greve de fome em protesto contra a sua prisão preventiva. A sociedade civil, nacional e internacional congratula-se com a decisão do ativista.

https://p.dw.com/p/1Gv53
Luaty Beirão
Foto: Central Angola

Na carta, escrita na segunda-feira e tornada publica esta terça (27.10), o também conhecido por rapper Brigadeiro Mata Frakuz que continua internado na Clínica Girassol (unidade hospitalar da empresa petrolífera Sonangol), dedicou a missiva aos seus companheiros de luta, à sociedade civil angolana e também à comunidade internacional.

"Conseguimos muita atenção em volta da nossa causa. Muita dela recai agora sobre mim. Por isso pedi para me juntar a vocês em São Paulo e assim, podermos falar a uma só voz", refere a carta.

Luaty Beirão disse que apesar de cancelar a greve de fome que começou no dia 21 de setembro, não vai desistir dos seus ideais e ao mesmo tempo, agradeceu a todos que continuam a clamar pela liberdade dos presos políticos em Angola."Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare."

Protest in Lissabon für die Freilassung angolanischen Aktivisten
Protesto em LisboaFoto: DW/J. Carlos

O ativista diz ser inocente das acusações que pesam sobre si e sobre outros arguidos do caso 15+2 e desafia os governantes a terminarem com a greve humanitária e de justiça.

"Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardarmos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara já caiu. A vitória já aconteceu. E o mérito a seu dono: foi o próprio regime que, incapaz de conter os seus próprios instintos repressivos, foi, a cada decisão, obviando a vã promessa de democracia, liberdade de expressão e respeito pelos direitos humanos."

Apenas os familiares têm permissão para visitar os ativistas

Em declarações à DW África, Adolfo Campos, membro do Movimento Revolucionário, esteve hoje (27.10) na unidade de saúde onde o Luaty Beirão está hospitalizado, e confirmou o fim da greve de fome, mas entende que o também cantor, precisa agora de uma boa assistência médica para recuperar.

O ativista disse ainda que não teve a oportunidade de se encontrar com o seu amigo, porque só os familiares têm a permissão de o visitar. "Ele cancelou a greve e com o tempo que ficou sem comer, ele precisa de assistência médica. Foi uma boa atitude, porque nós estávamos muito preocupados com estado em que se encontrava. Porque nós somos a favor da vida”, sublinha Campos.Adolfo disse também que os outros reclusos estão no Hospital Prisão de São Paulo. Mas estão proibidos de receber visitas de amigos. Assim como Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola, Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingo, só podem receber visitas de familiares.

"Isto é muito grave para nós, neste momento proibiram-nos de efetuar visitas aos nossos irmãos que estão presos. Todos já estão na cadeia de São Paulo. Só os familiares têm acesso aos presos, não entendemos porque", questiona o amigo.

Sociedade civil felicita o fim da greve de fome de Luaty Beirão

Reações da comunidade internacional ao fim da greve de fome de Luaty Beirão

A presidente da Amnistia Internacional em Portugal, Teresa Pina, congratulou-se com o anúncio do fim da greve de fome do ativista angolano Luaty Beirão, que considerou ter sido "um ato de bravura e coragem", disse Teresa Pina à agência Lusa sem esconder o alivio por “não se perder uma vida humana” e evitar-se a deterioração da situação.

A eurodeputada Marisa Matias (BE) considerou uma "boa notícia" o fim da greve de fome do luso-angolano Luaty Beirão porque, assim, o ativista continua a ser um "ativo permanente na luta".

Já Ana Gomes, eurodeputada pelo PS, destacou "a determinação" de Luaty Beirão "e dos outros presos em mostrar a face deste regime, que é realmente antidemocrático e ladrão". A eurodeputada considerou a decisão de Luaty parar com a greve de fome de um "grande alívio”.

Der angolanische Schrifsteller José Eduardo Agualusa
José Eduardo AgualusaFoto: DW

O escritor angolano José Eduardo Agualusa considerou que o objetivo da greve de fome do rapper luso-angolano Luaty Beirão "não foi cumprido", mas "chamou a atenção" para a questão dos presos políticos em Angola. "O objetivo a que se propunha não foi conseguido, que era o de esperar em liberdade pelo julgamento. Mas, na realidade, aquilo que mais importava, que era chamar a atenção para os presos políticos, foi conseguido completamente. Gerou-se um movimento de solidariedade dentro e fora do país, que gerou uma dimensão que ninguém estava à espera. Aí ele triunfou completamente", frisou o escritor angolano.

O ativista Luaty Beirão perdeu 23 quilos na greve fome que terminou, iniciando agora "batalhas" pela recuperação física e para provar a inocência em tribunal, disse a mulher, Mónica Almeida, à agencia Lusa, em Luanda.

O início do julgamento, que envolve outras duas arguidas em liberdade provisória, está agendado para 16 de novembro, no Tribunal de Cacuaco, nos arredores de Luanda.

Saltar a secção Mais sobre este tema