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Sudão do Sul: Quatro anos de liberdade, 18 meses de guerra

Jane Ayeko / Madalena Sampaio9 de julho de 2015

A nação mais jovem do mundo, o Sudão do Sul, celebra esta quinta-feira (09.07) o quarto aniversário da sua independência, conseguida depois de décadas de guerra entre o norte e o sul do país.

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Foto: DW

Em 2011, o mundo olhava para o país do leste africano com muito entusiasmo. Depois de décadas de guerra civil, finalmente tinha chegado o dia da independência.

Mas à euforia seguiu-se a desilusão: dois anos após a criação do novo Estado, voltaram os conflitos sangrentos. A luta pelo poder entre o Presidente Salva Kiir e o seu ex-vice-presidente Riek Machar trouxe sofrimento a muitos grupos étnicos.

O conflito transformou-se rapidamente numa guerra civil entre os Nuer e os Dinka, os dois principais grupos étnicos no Sudão do Sul. Entretanto, as eleições marcadas para o final do mês passado foram canceladas por causa do conflito armado. E o mandato do Presidente foi prolongado sem eleições e por mais três anos.

No entanto, um lugar remoto no extremo sudeste do país quer mostrar que tudo pode ser diferente. Foi em Kuron que o bispo Paride Taban estabeleceu uma "aldeia da paz" para reconciliar grupos étnicos em conflito. Desde que Paride Taban fundou a "aldeia da paz", tudo melhorou, dizem as pessoas que vivem no local.

A ideia do bispo é simples."Fazemos com que as pessoas se tornem auto-suficientes, em termos de alimentação e não só. E trazemos-lhes novas ideias, sobretudo através de educação, de formação profissional", explica Paride Taban.

Guerra sem trégua

Kuron está localizada numa área onde durante décadas se travaram combates ferozes. Na região há muitas pastagens e gado, sinal de riqueza para os povos que vivem ali.

Südsudan Kuron Bischof Paride Taban
Bispo Paride TabanFoto: DW

Mas a guerra civil trouxe milhares de armas para o país. Rebeldes e soldados famintos venderam armas aos pastores em troca de comida e gado. Foi assim que o roubo de gado, que inicialmente era feito com lanças e escudos, se transformou num conflito sangrento.

Algo que Paride Taban não quer aceitar. O bispo de 79 anos arriscou por diversas vezes a sua vida para negociar a paz.

O bispo orgulha-se sobretudo do centro de formação que foi criado na aldeia. Aqui, os jovens aprendem a fazer mesas e cadeiras, entre outras qualificações práticas. E também aprendem a escrever e a fazer contas. Paride Taban quer dar-lhes uma alternativa aos combates:.

"Quando viam um edifício como este, diziam: Uau, foi feito por milagre? Foi deus quem fez isto? Eles não sabiam que podia ser feito por seres humanos. Ou achavam que tinha sido construído por europeus ou árabes que estiveram aqui. Podiam destruí-lo por acharem que não tinha sido feito por um deles. Mas agora aprenderam que é uma obra feita com as suas próprias mãos", conta o bispo.

Aproximação entre grupos em conflito

Entretanto, a aproximação entre os grupos em conflito continua. É mais fácil estarem unidos do que uns contra os outros. É essa a mensagem da nova peça do grupo de teatro de Kuron.

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Quase todos os habitantes da aldeia vieram assistir. Sentado na fila de trás, Paride Taban sorri, satisfeito. "Já preparei a minha sepultura cá, para mostrar que não vou sair daqui. Só me irei reformar uma vez na vida e será aqui", garante o bispo.

Até lá, ainda há algum trabalho a fazer. Taban quer construir estradas, para que mais pessoas possam chegar a Kuron. Mas, por enquanto, é hora de celebrar as conquistas já alcançadas.