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Surto de ébola leva Alemanha a preparar plano de emergência

Marcus Lütticke / Maria João Pinto15 de julho de 2014

O ébola continua a alastrar-se de forma preocupante em várias regiões da África Ocidental. Até agora, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 539 pessoas morreram. Na Alemanha, prepara-se um plano de emergência.

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Foto: picture-alliance/dpa

O vírus vem de avião. Um grupo de jovens regressa à Alemanha depois de uma viagem pela selva do oeste da África. Poucos dias após a sua chegada, numa altura em que a maioria regressou aos seus locais de trabalho, um dos viajantes sofre de febre elevada. Primeiro, pensa tratar-se de uma gripe normal. Mas, quando começa a sangrar de todos os orifícios do seu corpo, a namorada chama uma ambulância. Ela própria sofre de dores de cabeça e febre. Quando se chega ao diagnóstico, indentificando-se o ébola, dezenas de pessoas já foram infetadas na Alemanha.

Este é um cenário fictício. Até agora, não ser registou nenhum caso do vírus ébola na Alemanha. A realidade, porém, não deve ser subestimada, dizem os peritos. Jonas Schmidt-Chanasit é especialista em medicina tropical e garante que “é muito raro um vírus chegar à Europa a partir de uma área afetada. O vírus ébola não pode propagar-se numa longa distância apenas por uma pequena gota infetada”.

Westafrika Sierra Leone Ebola Virus ausgebrochen Ärzte
Na Serra Leoa contam-se mais de 140 mortesFoto: Reuters

O vírus é transmitido pelo contato direto com o sangue e outros fluidos corporais, como o suor e tecidos infetados. A transmissão de pessoa para pessoa acontece quando alguém tem um contacto muito próximo com os fluidos de um doente. Ou seja, médicos e enfermeiros correm um risco elevado de infeção, se não estiverem devidamente protegidos.

Facilitadores da propagação

Na África Ocidental, os costumes locais, como os rituais funerários, desempenharam um papel fundamental na propagação do vírus. “Nestas cerimónias, as pessoas entram em contacto direto com secreções de doentes e falecidos, e também elas são infetadas com o vírus”, explica o especialista. O vírus ébola pode também ser transmitido através do consumo de carne de animais selvagens. A carne de primatas e morcegos pode ser encontrada nos mercados da África Ocidental e os viajantes são avisados a evitar o seu consumo.

Como o período de incubação – o tempo entre a infeção e o aparecimento da doença – dura apenas alguns dias, os infetados não podem percorrer grandes distâncias. Schmidt-Chanasit nota que, em geral, "as pessoas destas áreas remotas não têm qualquer forma de viajar para a Europa.” Assim sendo, a única preocupação, relativamente à eventual chegada do vírus à Alemanha, “prende-se com os profissionais de saúde e pessoal de apoio da Europa ou de outras regiões que estão naqueles locais.” Ainda assim, a Alemanha está preparada para quaisquer eventualidades. Nos principais aeroportos, há planos prontos a colocar em prática, em caso de suspeita de doentes com sintomas iniciais.

Jonas Schmidt-Chanasit vom Bernhard-Nocht-Institut für Tropenmedizin
Schmidt-Chanasit é especialista em medicina tropicalFoto: BNI

Exercícios de prevenção

Em julho, o aeroporto de Colónia/Bona realizou um exercício em colaboração com o Hospital Colónia-Holweide. Michael Krakau é médico nesta unidade de saúde e considera que “foi uma boa oportunidade para realizar a simulação depois de meses de planeamento.”

O médico explica o procedimento: “O paciente é levado para o hospital numa ambulância especial de isolamento, e é transferido imediatamente para o quarto. Esta ala está hermeticamente isolada do resto do hospital. A pressão do ar no quarto é menor que a do lado de fora, de forma a que o ar possa passar para o exterior. Além disso, as águas residuais são recolhidas e eliminadas de uma forma especial.” Não existe vacina ou cura para o ébola, sendo, geralmente, apenas tratados os sintomas, como a febre, as dores e a desidratação. E os serviços de saúde colocam os pacientes em isolamento, dada a rapidez de propagação.

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Muito maior que o risco de infeção com o ébola na Alemanha, de acordo com os especialistas, é a possibilidade de propagação de outras doenças. “Há doenças que são transmitidas através de mosquitos e que têm um potencial muito diferente. O vírus da dengue, por exemplo. Registamos mil casos por ano na Alemanha e há um elevado número de casos não identificados. Corremos o risco de ter este vírus na nossa casa, pelo menos no período do verão”, alerta Jonas Schmidt-Chanasit.

No final de março, a Guiné-Conakry alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) para a existência de um surto de ébola no país, que entretanto se espalhou na África Ocidental. No total, Serra Leoa, Libéria e Guiné-Conakry - os países atualmente afetados pelo surto de ébola - contabilizam 888 casos, de acordo com dados da OMS divulgados a 10 de julho.

Ebola-Virus in Guinea
Na Guiné-Conakry a OMS registou mais de 300 mortesFoto: Seyllou/AFP/Getty Images