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Os interesses da Tanzânia na cooperação com Moçambique

28 de setembro de 2022

Ministros da Defesa de Moçambique e Tanzânia estão reunidos em Maputo para traçar estratégias de combate ao terrorismo. Analista Wilker Dias diz que ambos os países têm muito a ganhar com a parceria.

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Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e chefe de Estado da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan

A reunião ministerial acontece uma semana depois da visita da chefe de Estado tanzaniana, Samia Suluhu, a Moçambique, onde foram assinados dois memorandos de entendimento nas áreas de defesa e operações de resgate e salvamento.

À DW África, o especialista em política internacional, Wilker Dias, enaltece o reforço da cooperação entre os dois países depois de "tempos tremidos".

DW África: Que estratégias poderão ser adotadas pelos dois países para combater crimes transnacionais e garantir o reforço da segurança?

Wilker Dias (WD): Moçambique faz fronteira com a Tanzânia numa extensão muito longa, e é extremamente importante preservar a boa relação entre os dois Estados. Agora, o que vai acontecer é fazer-se o balanço do andamento dos protocolos assinados entre os dois países, principalmente na vertente marítima, que é uma das áreas que vai merecer maior destaque futuramente em Moçambique, principalmente se olharmos para o que será a exploração de gás em alto-mar. Sabemos que Moçambique não tem muitos recursos de fiscalização marítima para garantir a segurança marítima. Então, é preciso trabalhar com os diversos parceiros de cooperação neste capítulo.

Mosambik | Die neuen Führungen von MDM
Wilker Dias, especialista em assuntos internacionaisFoto: Arcénio Sebastião/DW

DW África: Quando falamos em segurança há, além do terrorismo, outras vertentes como o tráfico de pessoas e bens ou a imigração ilegal…

WD: Temos ainda a questão de tráfico de drogas, que também é muito evidenciado. É preciso que haja um controlo muito grande neste corredor. Nós sabemos que Moçambique é tido como um dos grandes corredores de tráfico de drogas ao nível da região austral de África. E é um dos pontos de entrada no continente africano. É preciso acautelar esta questão, que se calhar até pode servir como uma das fontes de financiamento ao terrorismo.

DW África: De que forma Moçambique e Tanzânia poderão "unir forças" no combate ao crime organizado?

WD: Primeiro, será necessário colocar os nossos sistemas de inteligência a funcionarem de forma coordenada. A troca de informações será extremamente importante para o sucesso de toda e qualquer ação a ser desenvolvida no combate a estes fenómenos. Também é importante que optemos pela formação dos quadros existentes nos dois países. E a junção de sinergias entre estas duas forças poderá fazer com que se tenha grandes sucessos neste preciso momento, porque sabemos que este tipo de operações exige, por vezes, um custo adicional. E este custo adicional, aliado àquilo que está a acontecer em Cabo Delgado, pode ser alto para Moçambique. Por isso é que deve trabalhar com todos e qualquer parceiro de cooperação.

Mosambik Pemba | Offiziele Veranstaltung Militär
Tanzânia compromete-se a continuar a apoiar o combate ao terrorismo em Cabo DelgadoFoto: DW

Agora, temos a Tanzânia que é o parceiro para o controlo marítimo. A visita da Presidente tanzaniana, Samia Suluhu, serviu para demonstrar que os laços existentes entre os dois Estados parece terem sido finalmente restituídos, porque passaram por momentos de algum tremor. 

DW África: A Tanzânia é um dos países que integra a SAMIM, missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Destes encontros poderá sair a garantia de continuidade do país na missão em Cabo Delgado?

WD: Claramente. Na sua visita a Moçambique, a Presidente tanzaniana deixou claro que haverá a continuidade deste apoio do país no combate ao terrorismo em Cabo Delgado. Não só através da SAMIM, mas também por outras formas. Eu acredito que não haverá nada neste momento que poderá fazer com que a Tanzânia pare de apoiar Moçambique. Pelo contrário, acredito que haja uma cooperação mais ampla em outras vertentes. Abriu-se recentemente uma nova página nas relações entre os dois países, e isso poderá ser benéfico para ambas as partes, no combate ao terrorismo a curto e longo prazo.

DW África: A relação entre os dois países já esteve "tremida" em tempos e agora está a abrir-se essa "nova página", como refere. Mas costuma-se dizer que "não há almoços grátis"… Poderá haver outros interesses envolvidos?

WD: Sim. O interesse primordial é o desenvolvimento dos dois povos. O desenvolvimento de Moçambique poderá influenciar o desenvolvimento da Tanzânia. Num contexto em que se fala dos recursos energéticos que Moçambique dispõe neste momento, existe uma perspetiva do país exportar energia elétrica para a Tanzânia, no futuro. Por isso, este factor poderá ser usado como um trunfo. Moçambique está a tentar tornar-se numa potência na região austral de África, no que concerne aos recursos energéticos. Assim, a Tanzânia claramente que vai sair a ganhar com este acordo de exportação de energia.

E não só, os laços históricos entre os dois países sobressaem neste momento. Acredito que foi feito um trabalho para que este facto fosse levado em conta. Tivemos recentemente a realização do XII Congresso da FRELIMO, em que foi destacado mais uma vez o papel da Tanzânia na luta de libertação de Moçambique.

Também sai a ganhar a região da SADC, com esta retoma do espírito de interdependência que já se tinha perdido, principalmente com a Tanzânia sob a Presidência de John Magufuli. 

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