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Um desabafo sobre a crise na Guiné-Bissau em forma de poesia

Manuel Ribeiro22 de setembro de 2015

"Desesperança no chão de medo e dor" é o título do livro de poemas lançado pelo guineense Tony Tcheka, durante o XI Congresso Alemão de Lusitanistas que decorreu em Aachen, entre 16 e 19 de setembro.

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Foto: DW/M. Ribeiro

António Soares Lopes Júnior é o nome que traz no Bilhete de Identidade (BI), mas é mais conhecido por Tony Tcheka. Nasceu em dezembro de 1951 na capital guineense, Bissau. Tony descreve-se como "um guineense, jornalista também metido em lides literárias, como poeta, como escritor que tem feito o trabalho da parte literária produzindo textos e escrevendo sobre a realidade guineense".

"Desesperança no chão de medo e dor" é o título do seu livro de poemas, lançado durante o XI Congresso Alemão de Lusitanistas. Apresentado pela professora Moema Augel, autora do prefácio, o livro reúne 50 poemas e está separado em cinco capítulos, um dos quais totalmente escrito em crioulo. A obra será igualmente lançada na Malaposta, na capital portuguesa, Lisboa, no dia 25 de setembro.

"Este livro foi escrito durante o período que se seguiu ao golpe de Estado que provocou dois anos de transição e significou um período enorme de paralisação. Houve uma má administração do país e um desbaratar de todo um capital que vínhamos acumulando nessa última fase que antecedeu o golpe", descreve o poeta em entrevista à DW África.

O jornalista procurou prestar o seu depoimento pessoal dos acontecimentos que ia testemunhando através do discurso poético, exorcizando, assim, os seus próprios medos que o perseguiram e também o traumatizaram. "Eram sobretudo coisas que eu vivia no dia-a-dia que punham em causa o homem guineense, porque punham em causa a própria sociedade. Perdemos valores, perdemos o norte, o nosso caminho e a essência da idiossincrasia da guineendade. E perdemos também um bocado dos nossos grandes objetivos que seriam da construção de um país numa terra de paz e unidade que servisse bem os seus filhos.”

Longe do país idealizado por Cabral

"O país idealizado por Amílcar Cabral nunca teve um momento de paz", afirma o jornalista, referindo-se à nova crise na Guiné-Bissau e à "alegada incompatibilidade apresentada pelo Presidente (José Mário Vaz) de não poder viver no mesmo espaço político com o primeiro-ministro (Domingos Simões Pereira)".

Buch über Guinea-Bissau Krise
Tony Tcheka e Moémia Augel em Aachen, durante a Conferência de LusitanistasFoto: DW/M. Ribeiro

Segundo Tony Tcheka, "a sociedade civil rejeitou, os deputados e o Parlamento estiveram contra. No seu conjunto, o país disse não ao Presidente".

Esta última crise voltou a deixar o país num impasse político com a exoneração do primeiro-ministro Domingos Simões Pereira. "O Presidente fez derrubar o Governo e criou um novo por sua iniciativa e passadas 24 horas o Supremo Tribunal de Justiça, como Tribunal Constitucional, acabou por anular essas decisões por inconstitucionalidade", lembra o autor.

Carlos Correia, um veterano "credível"

O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que venceu as últimas eleições em 2014, foi então mandatado para nomear um novo sucessor. O nome teria de ser consensual e o escolhido foi o veterano Carlos Correia.

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"Temos dois grandes senhores: um à frente do partido, que é Domingos Simões Pereira, e o outro um histórico do PAIGC, Carlos Correia, um homem respeitado e impoluto que é referência em termos de moral e de capacidade e condução dos destinos do país e que confere credibilidade. Não obstante os seus 81 anos ele vai dar conta do recado", acredita Tcheka.