1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Vítimas das cheias na Zambézia esperam que o Governo cumpra com as promessas

Marcelino Mueia (Quelimane)24 de julho de 2014

Em Moçambique, as famílias afetadas pelas cheias na província da Zambézia no início do ano ainda não têm casas em condições. O Governo prometeu-lhes as habitações, mas só cumpriu com parte dela.

https://p.dw.com/p/1CiWu
Centro de reassentamento das vítimas das cheias na Zambézia, MoçambiqueFoto: DW/M. Mueia

As cheias de 2012, 13 e 14, desalojaram muitas famílias na província central da Zambézia deixando-as em estado de muita vulnerabilidade.

Todas elas foram encaminhadas para os bairros de reassentamento. Mas falta-lhes as condições básicas e sociais adequadas, sobretudo casas melhoradas.

A promessa de Governo foi de apoiar na construção das casas assim que as famílias terminassem de produzirem os tijolos com base na argila.

Esta promessa não foi cumprida na sua plenitude. Das 300 casas que tinham sido planificadas num período de um ano foram construídas sómente 100, um número que está muito àquem das pessoas necessitadas.

O número de casas planificadas exclui 445 pessoas que se encontram no centro de acomodação de Brigodho em Macuse sitiadas pelas águas do Rio Licungo no distrito de Namacurra.

Governo não cumpre promessa

Mosambik Grundschule im Flüchtlingslager
Maria Madalena Luciano, delegada da INGC na província da ZambéziaFoto: DW/M. Mueia

Félix Ernesto, chefe de centro de reassentamento, disse que a demora na alocação de material de construção está a criar descontentamento no seio dos moradores, uma vez que os prazos de construção não foram cumpridos.

Ernesto desabafa ainda que "estamos cansados de esperar pelas casas melhoradas. Já fizemos blocos no ano passado, o Governo prometeu fazer casas, mas até agora não temos nada. Disseram-nos para aguardar."

Por seu lado, Isabel Álvaro conta como a sua vida está a ser afetada pelo não cumprimento da promessa: "Vivo numa tenda, fiz os meus blocos e já estão a estragar... estão a apodrecer, porque chove muito. Até agora não tivemos resposta das autoridades e continuamos a não ter alimentos."

A população já pediu ao Governo para acelerar o processo de construção das habitações, uma vez que parte das tendas onde estão a viver está destruída ou em vias de ficar destruída.

A delegada do INGC, Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, na Zambézia Maria Madalena Luciano, falou à DW África sobre a exiguidade financeira com a qual o Governo se debate para satisfazer a vontade das vítima das cheias: "Nós queremos aceitar que o reassentamento na província da Zambézia precisaria de um valor adicional, porque temos ainda famílias com muito tijolo já preparado nos seus talhões à espera da sua vez, do material adiconal, cimento, chapas, barrotes..."

Falta de fundos

No início deste ano, outras regiões habitacionais atravessadas pelos rios Licungo e Zambeze ficaram completamente inundadas culminando com a transferência das populações para as zonas seguras dos sete distritos nomeadamente Nicoadala, Maganja da Costa, Namacurra, Mopeia, Mocuba, Morrubala,e Chinde.

Mosambik Grundschule im Flüchtlingslager
Escola primária no campo do reassentamentoFoto: DW/M. Mueia

Aqui existem inúmeras famílias sem abrigo adequado a aguardarem pela construção das suas casas cujo início está a demorar muito tempo.

Segundo, Maria Luciano, o valor em falta para materializar o projeto na sua plenitude é estimado em 14 milhões de dólares.

Mas a delegada do INGC na província abriu-se ao afirmar que "quermos confessar que não tem sido um trabalho fácil, porque criamos uma expetativa. Pelo facto sentimos que pode ser um pouco frustrante quando não conseguimos, realmente, solucionar o problema na sua totalidade."

Ângelo Amaro, representante de uma organização não governamental, local a KUKUMBI, que significa “ajuda mútua”, alerta para a ocorrência de casos de fome nos próximos dias, caso as famílias nos centros de reassentamento não se esforcem em procurar terras para a prática de agricultura e criação de gado, por forma arrecadar algum benefício monetário.

Amaro lembra o seguinte: "O nosso projeto com o Programa Alimentar Mundial (PAM) é de curto prazo, ou seja um período de três meses. Termina a 15 de agosto do presente ano."

A agremiação na Zambézia que neste processo trabalha em parceria com PAM- Moçambique falou do fim de entrega de produtos básicos alimentares aos afetados pelas cheias nos distritos de Mocuba e Namacurra que estava concebido para um período de três meses.

Escola vazia

A situação das famílias afetadas pelas cheias tem também os seus reflexos na educação das crianças. Por exemplo, de uma média de 50 alunos da segunda e quarta classes, algumas turmas registam menos de cinco alunos por aulas.

O professor de Matemática, Rachide Manuel Amade, falou das suas dificuldades que enfrenta nos dias úteis da semana. Ele disse que, além de dar aulas procura sempre mobilizar os alunos nas suas casas para irem aprender a ler e escrever.

O professor afirma ainda que as crianças que desistem de ir à escola estão empenhadas em atividades agrícolas, sendo forçadas a irem à procura de alimentos juntamente com os seus encarregados de educação, que se deslocam para regiões muito distantes do centro de reassentamento de Brigodho, o posto administrativo de Macuse na Província da Zambézia.

Mosambik Grundschule im Flüchtlingslager
Crianças do campo de reassentamento recebendo aulasFoto: DW/M. Mueia

[No title]