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Zédu, JLo – Nomes carinhosos dados a políticos em Angola

21 de outubro de 2017

Nomes atribuídos pela imprensa e pelo povo a políticos angolanos causam aproximação ou distanciamento? A DW África ouve analistas e cidadãos sobre impacto de alcunhas dadas a presidentes e líderes da oposição.

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Alcunhas dadas a políticos são importante estratégia de marketing políticoFoto: picture alliance/AP Photo/T. Hadebe

O primeiro Presidente da República de Angola foi António Agostinho Neto, de 1975 a 1979. Durante a sua governação foi chamado de "Manguxi". O termo oriundo da língua nacional kimbundo corresponde ao Agostinho. O segundo Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, que governou o país de 1979 a 2017, foi chamado de Zédu ou Mano Duda, uma abreviatura dos seus dois nomes que resultou numa alcunha de carinho adotada pela família, imprensa e o povo angolano durante os 38 anos em que esteve no poder.

O dia 26 de setembro entrou para a história política de Angola. Foi neste dia em que João Lourenço tomou posse como Presidente da República de Angola substituindo "Mano Duda". Antes da campanha que culminou com as eleições gerais de 23 de agosto vencidas pelo MPLA com mais de 60% dos votos, a imprensa já lhe tinha apelidado de JLo. As iniciais do seu primeiro e último nomes.

Não são apenas os Chefes de Estado de Angola que têm nomes de carinho usados na imprensa ou chamados pela população, mas também líderes da oposição.

O Presidente da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, é chamado de Mano Samas. O fundador do maior partido da oposição angolana, Jonas Savimbi, ganhou a alcunha de Mano Jonas ou Mwata da Democracia. Já o presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), Abel Chivukuvuku é chamado de Mano Abel ou Mano Chivas. Yembe era o nome atribuído ao líder fundador da Frente Nacional para Libertação de Angola (FNLA), Holdem Roberto.

Estes nomes são usados nas conversas do dia-a-dia nos vários segmentos da sociedade. Para o analista Calos Lopes, a criação destes nomes não têm uma importância política como tal, mas se "traduzem numa linguagem simpática".

"Os angolanos têm o hábito de abreviar nomes e criar alcunhas para as pessoas e, normalmente, traduzem uma linguagem simpática, carinhosa e, raramente, pejorativa. Não resulta daqui uma importância política para além daquela, que permite uma identificação rápida da pessoa de que se está a falar. Creio que os visados encaram isso como uma atitude de proximidade popular com eles", sublinha.

 Alcunhas como marketing político

Os nomes criados pela imprensa angolana ou pela sociedade também são retomados por órgãos estrangeiros. O jornalista do jornal Nova Gazeta, André Mfumu Kivuandinga explicou à DW África os objetivos da atribuição de nomes abreviados aos políticos.

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Presidente da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, é chamado de Mano Abel ou Mano ChivasFoto: DW/N. S. D´Angola

"Os nomes carinhosos dos líderes foram criados pela imprensa de maneira a facilitar a comunicação destes com os órgãos de comunicação social, assim como a identificação deles por parte da população. Os potenciais leitores acabam por se simpatizar com esses políticos, criando uma ideia de convivência mútua", explica.

As alcunhas podem, portanto, traduzir-se numa boa estratégia de marketing para os políticos. "No princípio não dão importância, mas depois de se aperceberem que é com base a estes nomes que ganham simpatia e muita popularidade, acabam por os aceitar, apesar de nunca os terem usado. Esta não-utilização dos nomes por parte de alguns políticos é decorrente da falta de uma verdadeira noção de marketing político, porque se dominassem este ramo, estariam a admitir", afirma.

Carlos Lopes partilha da mesma opinião: "Sem dúvida, os políticos por vezes utilizam esses nomes para estarem mais próximos do povo, ajudando a passar a sua mensagem". "Na minha opinião, a proximidade do povo com os políticos é notória pela empatia que se cria entre ambos designando-os por estes nomes de carinho", diz.

Nomes de carinho ou de distanciamento?

Os cidadãos entrevistados pela DW África mostraram-se divididos sobre se os nomes de carinho aproximam-lhes ou lhes distanciam dos governantes. Pascoal Manuel, residente em Luanda, afirma que se sente mais próximo dos governantes quando falam sobre os seus problemas. "Eu quero ver luz e água e não estas coisas", desabafa.

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Para cidadãos, alcunhas são menos importantes do que promessas feitas pelos políticos: "É preciso combater a fome", diz morador de LuandaFoto: DW/A.Vieira

Uma outra cidadã sob anonimato afirma: "Eles só prometem e não cumprem. Eles não se metem no lugar do povo. Eles deviam dar voz ao povo que somos nós".

Maria Andrade, outra residente na capital angolana, admite: "Estes nomes nos aproximam porque são mais abreviados e são bons para serem usados quando nos dirigimos aos nossos governantes".

João Francisco, outro cidadão ouvido sobre o assunto, admite que, às vezes, chama os nomes de carinho aos governantes, mas sem grande importância. "Chamo de vez em quanto, mas isso não quer dizer nada", minimiza.

André Mfumu Kivuandinga diz que "as pessoas, ao pronunciar estes acrónimos, sentirão mais aproximação do que dizer os nomes próprios". Entretanto, ele também entende que "quando se fala sobre os problemas do povo, que são o acesso ao ensino, aos hospitais, à água e à energia eléctrica, o cidadão cria na sua mente uma atitude de aproximação sentindo que o politico que disse tais problemas tem também os vivido".