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Fukushima, Tchernobil

12 de março de 2011

Há paralelos entre a situação básica que levou à catástrofe nuclear de 1986, na Ucrânia, e a ameaça que paira sobre o Japão. Sobretudo não se deve pensar que o perigo esteja longe demais, lembra Sebastian Pflugbeil.

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Sebastian Pflugbeil, presidente de ONG antinuclearFoto: GS

Na qualidade de ativista dos direitos civis, o físico e médico Sebastian Pflugbeil combateu a minimização das consequências de uma catástrofe nuclear pelo governo comunista da República Democrática Alemã (RDA).

Aos 63 anos de idade, ele é presidente da ONG crítica à energia atômica Sociedade de Proteção Contra Radiação (GS). Pflugbeil é uma das poucas pessoas que puderam inspecionar o sarcófago do reator da usina nuclear de Tchernobil, Ucrânia, após a explosão em 1986.

Ele fala à Deutsche Welle sobre as possíveis consequências de uma catástrofe nuclear no Japão, num momento em que havia fortes indícios de uma fusão do reator da usina Fukushima Daiichi, porém sem confirmação oficial.

Deutsche Welle: Até que ponto se pode comparar Fukushima a Tchernobil?

Sebastian Pflugbeil: Bem, aqui temos a fusão do núcleo do reator; em Tchernobil, tivemos a fusão e uma explosão nuclear. Digamos: são categorias comparáveis, certamente relacionadas à liberação de grandes níveis de radioatividade.

Quais são as consequências da fusão do núcleo de um reator nuclear?

Tschernobyl - Verlassene Häuser
Imagens de desolação em Tchernobil correram mundoFoto: GRS

O invólucro do reator ser destruído e tudo o que está dentro ser liberado. Todos os radionuclídeos voláteis [átomos com núcleos instáveis], que estavam dentro, escapam para o ar. Provavelmente não vai haver incêndio, como em Tchernobil, é de se esperar que desta vez a radioatividade pouse num raio menor – digamos, 500 quilômetros –, mas aí com grande intensidade. E então as consequências são fatais, considerando-se a estrutura demográfica do Japão, que é muito mais densa do que em Tchernobil.

O que os japoneses podem fazer para se proteger?

Pode-se aconselhar a população a permanecer em casa. Mas nisso há um problema, pois muitas moradias foram destruídas, as pessoas erram a esmo, tropas de resgate estão em trânsito: esses praticamente não têm nenhuma defesa. Podem-se distribuir tabletes de iodo. Assim se cobre a demanda da glândula tireóide, e se evita que ela absorva o iodo radioativo liberado na atmosfera, perigoso para a glândula.

Caso ocorra a fusão do núcleo e a destruição do sarcófago nuclear, tal liberação é inevitável, já que o iodo radioativo é extremamente volátil. Distribuir tabletes de iodo é praticamente a única medida protetora que faz sentido tomar, se houver a possibilidade.

O ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, não vê perigo para a Europa, pelo fato de o Japão estar tão distante. O senhor compartilha essa opinião?

Eu evitaria fazer uma avaliação dessas. Ela me faz pensar em declarações semelhantes do então ministro do Interior da Alemanha Ocidental, Friedrich Zimmermann, ou do governo da RDA, depois de Tchernobil. Eles estavam convencidos de que a catástrofe fora tão longe, que a Alemanha nem iria notar nada. E a lição de Tchernobil, no tocante aos efeitos sobre a Europa, é inequívoca: mesmo níveis mínimos de radiação podem deixar marcas claras em todo o quadro de saúde. Vamos ver.

Entrevista: Bernd Grässler (av)
Revisão: Francis França