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"A Alemanha é o melhor para minha família", diz Raffael

Philip Verminnen14 de outubro de 2013

Há dez anos na Europa, meia do Borussia Mönchengladbach é um dos jogadores mais respeitados do futebol alemão. Em entrevista à DW, ele fala de sua adaptação e diz que não descarta uma naturalização.

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Fußball Bundesliga 6. Spieltag: Borussia Mönchengladbach - Eintracht Braunschweig am 20.09.2013 im Borussia-Park in Mönchengladbach (Nordrhein-Westfalen). Mönchengladbachs zweifacher Torschütze Raffael bedankt sich nach Spielende bei den Fans. Mönchengladbach schlägt Braunschweig am Ende mit 4:1. Foto: Jan-Philipp Strobel/dpa
Foto: picture-alliance/dpa

Quando Raffael Caetano de Araújo deixou o tradicional Juventus da Mooca (SP) para se aventurar pela segunda divisão da Suíça, o cearense, então com 18 anos de idade, estava fadado a se tornar mais um dos milhares andarilhos brasileiros espalhados no futebol mundial. Depois de dez anos na Europa, Raffael se consolidou como um dos jogadores brasileiros mais respeitados no futebol da Alemanha.

Na trajetória pela Europa, Raffael, hoje com 28 anos, computa passagens pelo modesto FC Chiasso e o FC Zürich, na Suíça; o Hertha Berlim e o Schalke 04, na Alemanha; e um breve período no Dínamo de Kiev da Ucrânia – antes de regressar à Bundesliga para o segundo maior campeão alemão, o Borussia Mönchengladbach.

Perfeitamente adaptado à Europa, ele diz que gostaria de defender um clube brasileiro, mas não pensa em voltar tão cedo à terra natal – mesmo após o fim da carreira. "Está quase decidido ficar aqui depois da minha carreira. É o melhor para a minha família", diz.

Deutsche Welle: Você começou bem a temporada. Está feliz na nova casa, o Borussia Mönchengladbach?

Raffael: Sem dúvida. Estou muito feliz de estar aqui. De estar num clube como o Gladbach, com sua torcida que é muito fanática. Fui muito bem recebido aqui.

Entrevista com o jogador Raffael, do Borussia Mönchengladbach

Qual é o papel que o técnico Lucien Favre tem no seu desempenho em campo?

O papel é de [risos] ajudar a equipe. Seja tanto na parte defensiva como na ofensiva. E procurar marcar os gols, na medida em que for possível.

Você tem um bom relacionamento com ele, porque já é a terceira vez que você atua em uma equipe na qual ele é o treinador. Foi assim no FC Zürich, no Hertha Berlim e agora aqui no Mönchengladbach. Como é a relação entre você e Lucien Favre?

Muito boa, desde o primeiro contato que eu tive com ele, no Zürich. Nunca tive nenhum tipo de problema. Ele sempre me ajudando, sempre me dando conselhos, me apoiando. E este também foi um dos motivos porque eu escolhi vir pra cá, para trabalhar novamente com ele.

O que exatamente você aprende com ele? No que exatamente ele te entende na maneira de jogar?

Eu aprendi que o jogador tem que ousar. Ousar, fazer a jogada, tentar fazer algo. E também na maneira de marcar. Posicionamento dentro de campo, onde tem que estar, aonde tem que ir.

Dá pra dizer que o Lucien Favre é como se fosse seu pai europeu?

Com certeza (risos)! Com certeza posso dizer que ele é meu pai europeu.

Fora ele, você tem outros bons amigos no meio do futebol aqui na Alemanha?

Tenho. Com quem eu joguei, tenho uma boa amizade. Até hoje eu tenho uma amizade muito boa com o Mineiro [ex- São Paulo, Hertha Berlim, Chelsea]. Ele ainda mora aqui na Alemanha. E com outros jogadores também.

Lucien Favre und Raffael
Nos melhores momentos da carreira, Raffael teve Lucien Favre como treinador. Aqui, na época do Hertha BerlimFoto: picture-alliance/dpa

Apoio da família

Se Lucien Favre é seu pai na Europa, você tem um pai que é ex-jogador, o "Seu" Caetano. Ele conhece o meio do futebol muito bem. Que dicas você recebeu dele?

Meu pai foi e é o nosso espelho. Se a gente é jogador hoje, é por causa dele. Ele vive o mundo do futebol e ele aconselhou a gente o que a gente poderia encontrar e como eu poderia agir depois de uma derrota, por exemplo, de um mau desempenho. Ele sempre esteve a aconselhar isso para a gente.

Na época que você saiu do Juventus da Mooca e veio para a Europa, você tinha 18 anos. Sua família te apoiou?

Minha família sempre me apoiou. Desde a primeira vez que eu saí de casa, com 11 anos, meu pai e minha mãe chegaram para mim e falaram se era isso que eu queria: sair de casa, para tentar a sorte em outra cidade para jogar futebol. Foi isso que eu falei: quero ir. E este foi o primeiro momento que eles me apoiaram no futebol.

Quais foram as dificuldades na sua chegada na Europa?

Sem dúvida foi o clima, primeiramente. A língua e a cultura.

Mas neste processo todo, você sempre teve uma pessoa muito fiel e parceira do seu lado, que é a sua esposa e que está desde aquela época com você. Quão importante ela é no seu sucesso nos gramados?

A importância dela é a máxima. Sempre teve do meu lado, nas derrotas e nas vitórias. É uma pessoa que eu agradeço a ela, e a Deus, por estar ao meu lado. Porque não é fácil. É uma pessoa companheira que está sempre ajudando, sempre querendo o melhor pra mim.

Como o que você e sua família se ocupam durante um fim de semana na Alemanha? Quais são os programas que você gosta de fazer em família?

Eu e minha esposa gostamos muito de viajar. Quando tem uma folguinha, a gente está viajando para algum país ou por aqui mesmo na Alemanha. Tem muita coisa aqui que dá para se divertir com as crianças.

E já mostrou um pouco da Alemanha para o "Seu" Caetano?

Já. Seu Caetano é rodado (risos). Conhece a Alemanha até mais do que eu. Só falta ele vir agora e conhecer a minha nova casa.

Quando será isto?

Brevemente, porque ele está com alguns problemas de saúde. Está se recuperando. Mas quando estiver bom, ele vai vir para cá.

Raffael Schalke 04 13.04.2013
Raffael atuou, por empréstimo, no Schalke 04 no primeiro semestre de 2013Foto: picture-alliance/dpa

Irmão Ronny e o nascimento do filho

Depois de alguns anos separados do seu irmão Ronny (ex-Corinthians e Sporting de Lisboa), você reencontrou ele, quando jogaram juntos pelo Hertha Berlim. Como foi voltar a conviver com seu irmão depois de tanto tempo?

Foi um sonho! Foi muito bom. Nunca imaginava. A gente sonhava, mas imaginar não, que poderia jogar junto em uma equipe europeia. Foi demais. Minha família ficou feliz, a gente ficou feliz. A gente se deu muito bem durante estes dois anos. Foi uma boa convivência com meu irmão.

Vai trazer ele para Mönchengladbach?

Isso não depende de mim [Risos]. Se fosse por mim, ele já estaria aqui.

A convivência com ele sempre foi boa? Nunca houve uma rivalidade?

Não, não. Às vezes tinha uns "pegas" [no treino risos], mas é normal que aconteça. Mas, em termo de ciúmes, isso não existe.

Na bola: quem é melhor? Ele ou você?

Eu sempre digo que é ele [risos]. Ele tem muita qualidade.

Assim como os irmãos Boateng (Kevin-Prince no Schalke 04 e Jérôme no Bayern de Munique) e os irmãos Kroos (Felix Kroos no Werder Bremen e Toni Kroos no Bayern de Munique), você vai enfrentar o seu irmão nesta temporada. Cobrança de falta para o Hertha Berlim. Você fica na barreira?

Ah, não sei, hein? Difícil. Mas se o treinador me indicar para ficar na barreira, tem que ir. Mas se for para escolher, eu prefiro não ir.

Por quê?

Porque [risos] ele chuta muito forte. Às vezes é perigoso um chute daqueles. Uma vez ele chutou uma bola que pegou no meu braço e quase o quebrou. Deste dia pra cá, eu tive medo [Ronny ficou conhecido pela cobrança de falta que alcançou 210,9 km/h, quando ainda atuava pelo Sporting. A medição foi feita através das imagens de TV].

Isto foi no Brasil ainda?

Não, foi num amistoso contra o Real Madrid, em 2010, eu acho.

E você estava no Hertha Berlim.

A gente estava no Hertha. Aí teve esse lance que ele chutou a bola e ela pegou no meu braço. Pensei que tinha quebrado. Mas não aconteceu nada.

Este momento no Hertha Berlim, com seu irmão, foi o seu melhor momento na carreira? Foi o seu momento mais feliz?

Foi um… o melhor momento. Talvez sim, mas sem dúvida foi o momento mais especial, mais marcante na minha carreira, porque aconteceram muitas coisas. Como por exemplo, eu e ele jogar numa mesma partida e marcar gols numa mesma partida. E teve o jogo também que meu filho estava para nascer. O jogo era no sábado e ele estava para nascer entre sábado e domingo. E eu não sabia que poderia ir para este jogo. Era um jogo muito importante para gente, na segunda divisão. Eu acabei indo para o jogo. E a gente estava ganhando de 1 a 0, naquele sufoco [risos], segunda divisão. Eu entrei no jogo e recebi um passe dele, fiz o gol do 2 a 0. Eu agradeci a ele e chorei neste jogo. Pensei no meu filho. E no dia seguinte meu filho nasceu.

Aí teve que dar o nome de Ronny para o seu filho?

Não, não. Isso não [Risos]. Não dei.

Futuro na Alemanha

Raffael und Ronny Torjubel Archiv 2011
Raffael (dir.) comemora com seu irmão Ronny um gol marcado pelo Hertha Berlim, em 2011Foto: picture-alliance/dpa

Você pensa em voltar quando para o Brasil? Para atuar ainda ou quer encerrar a carreira na Europa?

Sempre falei que gostaria de jogar no Brasil. Mas não sei quando. Quando for o tempo. Se for para voltar, eu gostaria de voltar.

Família faz pressão ou a família não pode opinar nos próximos passos na sua carreira?

Não, a família não faz nenhum tipo de pressão. O que eu decidir para mim, eles apoiam.

Dá para dizer que a Alemanha é a sua nova casa? A nova casa da sua família?

Sem dúvida!

Você pretende ficar aqui quando encerrar a carreira? Fazer alguma outra função na Alemanha?

Já pensei, já. Está quase decidido, com minha esposa, de ficar aqui depois da minha carreira. Eu acho que é o melhor para a minha família.

Alguns planos em que áreas você poderia atuar?

Ainda não. Primeiro penso em cumprir o meu contrato aqui no clube. Depois posso jogar, não sei, três, quatro anos. Depois posso pensar em alguma função.

Seleção?

Seleção também, faz parte.

Brasileira ou alemã?

Brasileira [risos].

Porque você comentou há três anos que poderia pensar em uma naturalização.

É porque eles me perguntaram. Não posso descartar uma naturalização.

Raffael, eu te agradeço pelo bate-papo.

Eu que agradeço, também.

Ficha técnica:
Nome: Raffael Caetano de Araújo
Nascimento: 28.03.1985 (28 anos)
Local: Fortaleza, Ceará
Altura: 1,74 metro
Posição: meia-atacante

Trajetória categoria de base:
1997 - EC Vitória (Salvador)
1997 - 2001 - AABB e Sumov AC (futsal - Fortaleza)
2001 - 2002 - Juventus Sub-17 (São Paulo)
2003 - Juventus Sub-20 (São Paulo)

Fußball Spieler Raffael Borussia Mönchengladbach
Foto oficial de Raffael no Borussia MönchengladbachFoto: Juergen Schwarz/Bongarts/Getty Images

Trajetória profissional:
2003 - 2005 - FC Chiasso (Suíça) - 61 jogos e 30 gols
2005 - 2008 - FC Zürich (Suíça) - 106 jogos e 53 gols
2008 - 2012 - Hertha Berlim (Alemanha) - 163 jogos e 39 gols
2012 - Dínamo de Kiev (Ucrânia) - 13 jogos e 1 gol
2013 - FC Schalke 04 (Alemanha) - 16 jogos e 2 gols
2013 - Borussia Mönchengladbach (Alemanha) - 9 jogos e 4 gols